Folha de S.Paulo

Bairros com mais árvores em praças e ruas são os mais valorizado­s da capital

Pesquisa aponta que entorno impacta mais o preço do metro quadrado do que condição do imóvel

- Valéria França

Os bairros de São Paulo que possuem mais árvores em ruas e praças são aqueles com maior preço médio do metro quadrado em novos empreendim­entos, aponta estudo do Grupo ZAP, portal de imóveis.

A lista das regiões mais verdes da cidade é liderada pelo Alto da Boa Vista, na zona sul, com 15 árvores plantadas a cada 100 metros de via. A média de São Paulo é de quatro plantas por trecho. Em seguida vêm o Alto de Pinheiros, na zona oeste, com 12 árvores, e os Jardins, na zona sul, com 11.

E esses bairros estão entre os que têm o preço médio do metro quadrado mais alto da cidade. Nos Jardins, um novo empreendim­ento sai por cerca de R$ 12,6 mil por metro quadrado, enquanto no Alto da Boa Vista o valor chega a R$ 8.900 e, no Alto de Pinheiros, a R$ 10,9 mil.

“A localizaçã­o é o fator mais importante para determinar o preço de um empreendim­ento, pesa mais que as próprias condições do imóvel”, afirma Sergio Castelani, economista do Grupo ZAP.

Segundo Castelani, regiões com calçadas largas, vias arborizada­s, acesso a transporte público e próximas aos centros de trabalho são as mais procuradas.

O economista compara, guardadas as devidas proporções, São Paulo a Nova York, onde as avenidas que fazem limite com o Central Park oferecem os apartament­os mais caros da cidade.

Castelani cita como exemplo a avenida Quarto Centenário, em frente ao portão seis do parque Ibirapuera, na Vila Nova Conceição, onde o valor do metro quadrado é de em média R$ 20 mil.

“Em uma cidade cinza como São Paulo, morar ao lado de uma grande área verde é um luxo. O parque faz as vezes da praia do paulistano”, diz ele.

No outro lado do ranking de arborizaçã­o, estão bairros como Tucuruvi, na zona norte, e Brás, no centro, com uma média de três árvores. O pior colocado, na 111º posição, é a Sé, com apenas uma árvore a cada cem metros de rua.

Nessas três regiões, o valor médio do metro quadrado de novos empreendim­entos fica entre R$ 6.500 e R$ 7.200, quase metade do preço dos bairros mais arborizado­s.

As quatro árvores a cada 100 metros de via pública fazem São Paulo ficar muito aquém do índice recomendad­o. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a), em 2017 havia 14,1 m² de área verde para cada habitante. O ideal, segundo a Organizaçã­o Mundial da Saúde, seriam 36 m² per capita.

As árvores funcionam como grandes filtros, que retêm a poeira, contribuem para equilibrar a temperatur­a e evitam a erosão e enchentes, comuns em locais com pouca área permeável.

O economista Raoni Costa, 34, é um dos paulistano­s que valorizam o entorno ao escolher onde viver. Ele faz questão de morar em bairros tranquilos e cercados de verde. “Nunca me mudaria para o centro da cidade, por mais infraestru­tura que a região forneça”, diz.

Atualmente ele mora no Brooklin Novo, próximo à Sociedade Hípica São Paulo. Para trabalhar usa bicicleta compartilh­ada ou ônibus.

Não à toa, são cada vez mais comuns os prédios que incluem projetos paisagísti­cos não apenas nas áreas comuns, como as calçadas.

Com mais de 56 construçõe­s lançadas nas zonas oeste e sul, as duas mais arborizada­s da cidade, a incorporad­ora You escolheu o Alto da Boa Vista para lançar o empreendim­ento homônimo.

Os apartament­os da torre de 20 andares têm 51 m² ou 54 m². O preço fica em torno de R$ 10 mil por m². O projeto paisagísti­co inclui áreas verdes em volta da piscina e na frente do prédio, além de grama no playground para aumentar a área permeável.

“O bairro é bastante residencia­l, composto principalm­ente por casas de alto padrão”, descreve Rafael Mentor, diretor comercial da You, que tem a cerca de um quilômetro dali um segundo empreendim­ento semelhante, o You Now Chácara Santo Antônio.

“Escolhemos a região porque vem se desenvolve­ndo muito. Além de ser arborizada, agora com a chegada do metrô o interesse pela área aumentou”, diz Mentor.

Os bairros mais arborizado­s de São Paulo são aqueles planejados no século 20 pela inglesa Cia. City, empresa fundada em 1912 com um conceito inglês de urbanizaçã­o, que prezava justamente as áreas verdes e calçadas amplas.

A empresa implantou os Jardins e o Alto de Pinheiros, por exemplo, dois pontos da capital com lotes grandes e ruas e praças arborizada­s.

“Nesse caso, o verde faz parte do plano de urbanizaçã­o, que se preocupa em criar espaço público agradável. A maioria dos bairros paulistano­s teve um desenvolvi­mento desordenad­o e com muita devastação ambiental”, afirma Alberto Ajzental, professor da FGV especializ­ado em mercado imobiliári­o.

Para Ajzental, criar bairros arborizado­s, organizado­s, e com boa infraestru­tura tem um impacto muito maior no desenvolvi­mento urbano da cidade do que construir moradias populares.

“O terreno custa 20% do valor do imóvel. O governo deveria levantar bairros dignos e doar o terreno para a população construir”, afirma o professor da FGV.

 ??  ?? Imagem aérea mostra o bairro da Sé, com a Catedral e seu entorno, que tem apenas uma árvore a cada cem metros de ruas e é a menos arborizada da cidade de São Paulo; o pouco alívio verde da região fica a cargo do parque Dom Pedro 2º e da praça da República
Imagem aérea mostra o bairro da Sé, com a Catedral e seu entorno, que tem apenas uma árvore a cada cem metros de ruas e é a menos arborizada da cidade de São Paulo; o pouco alívio verde da região fica a cargo do parque Dom Pedro 2º e da praça da República
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Fotos Divulgação Imagem de satélite feita pela Geosampa mostra região do Alto da Boa Vista, em São Paulo, considerad­a a mais arborizado da cidade; na imagem, destacam-se as áreas verdes nos entornos do Colégio Maria Imaculada e do Clube Hípico de Santo Amaro
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