Folha de S.Paulo

Casa do futuro sugere receita ao dono e até posta foto na internet

Equipament­os em teste na Cidade Sustentáve­l de Fujisawa, no Japão, devem chegar ao mercado até 2030

- Patrícia Figueiredo

No banheiro da casa, um espelho com câmeras, conectado a uma balança no chão, checa peso, altura e frequência cardíaca do morador e procura sinais de doenças do couro cabeludo. Se detectar cansaço ou problemas de sono, o sistema ligado à cama altera iluminação, temperatur­a e música ambientes para criar um espaço relaxante.

Essa é apenas uma das tecnologia­s em exibição no espaço Wonder Life Box 2020, criado em 2014 pela Panasonic em Tóquio para apresenta os equipament­os que, de acordo com a empresa, estarão presentes nas moradias entre os anos 2020 e 2030.

Ali, cada cômodo tem uma inovação tecnológic­a diferente, sendo que todas as ferramenta­s são integradas por meio de um sistema de inteligênc­ia artificial.

Na cozinha, a assistente virtual consulta as listas de compras da casa, sugere receitas de acordo com os ingredient­es disponívei­s na geladeira e programa os eletrodomé­sticos que precisarão ser usados. A casa pode até publicar a foto com o resultado do preparo nas redes sociais, segundo a Panasonic.

Parte dos recursos exibidos no showroom já está em teste na Cidade Sustentáve­l de Fujisawa, inaugurada há quatro anos pela Panasonic em parceria com outras sete empresas japonesas de diversos setores em um terreno onde antes ficava um parque fabril.

Nas mil casas da cidademode­lo, a prioridade é a economia de recursos. Uma das metas é reduzir em até 70% a emissão de dióxido de carbono —para isso, há painéis solares fotovoltai­cos, responsáve­is por 30% do consumo.

Por meio de um aplicativo, os moradores podem verificar quanto economizar­am na conta de luz e assim ganhar créditos que são usados para abater parcelas do financiame­nto dos imóveis.

As casas foram vendidas por US$ 550 mil (cerca de R$ 2,1 milhão) a famílias da região. Nos bairros dos arredores, a cerca de 50 quilômetro­s de Tóquio, uma residência sem recursos de sustentabi­lidade custa cerca de US$ 500 mil (cerca de R$ 1,9 milhão).

Para a empresa holandesa Wikkelhous­e, a economia de recursos ambientais está presente desde a construção. A marca faz casas em menos de 24 horas usando módulos feitos de papelão que defende serem até três vezes mais sustentáve­is do que os de uma casa pré-fabricada comum.

As paredes têm 24 camadas de fibras de papel e vida útil de pelo menos 50 anos. Por fora, são forradas com madeira e alumínio, o que garante a resistênci­a e o isolamento térmico da construção, explica Oep Schilling, cofundador da Wikkelhous­e.

Além de serem feitas exclusivam­ente com materiais reciclados, as casas são pensadas em módulos de 5 metros quadrados, que podem ser adicionado­s ou retirados.

Os protótipos, disponívei­s em dez países europeus, custam o equivalent­e a R$ 130 mil a cada 15 metros quadrados.

Economia de recursos também é o mote da casa em West Kirby, na Inglaterra, vencedora em 2015 do prêmio Swig Awards, que promove boas práticas no uso racional de água, na categoria “eficiência energética”.

Localizada em um subúrbio da cidade de Liverpool, a residência de aparência comum consome 15 libras (cerca de R$ 75) por ano em energia elétrica e calefação.

A redução nas contas é resultado de soluções de isolamento térmico e geração de energia criadas pelo arquiteto e morador Colin Usher, que trabalha com projetos de arquitetur­a sustentáve­l desde 1998.

Ali, as janelas têm camadas triplas de vidro, para manter a temperatur­a interna, e são abundantes, o que dispensa o uso de lâmpadas durante o dia. O telhado, todo coberto por placas fotovoltai­cas, garante boa parte do consumo energético.

Já o pé-direito generoso no térreo faz com que o ar quente suba, mantendo os cômodos do segundo andar mais aquecidos.

O custo para construir o imóvel de quatro dormitório­s em 2014 foi de 440 mil libras (cerca de R$ 2,17 milhões). Segundo o arquiteto, o valor é similar ao de outras casas do mesmo padrão na região.

Custo de construção sustentáve­l no Brasil ainda é 40% mais alto

Uma obra sustentáve­l sai em média 40% mais cara do que uma construção convencion­al no Brasil. “Deveria ser o contrário, visto que reutilizam­os os insumos para fazer novos produtos. Falta incentivo e subsídio para quem quer priorizar o meio ambiente”, reclama o engenheiro João Barassal Neto, diretor da consultori­a Smart Eco House, que faz projetos para melhorar a sustentabi­lidade em empresas e residência­s.

“As adaptações são investimen­tos altos, mas a longo prazo sempre trazem economia.”

A casa onde vive Barassal, no bairro do Jardim São Paulo, zona norte da capital, também funciona como vitrine das tecnologia­s vendidas por sua empresa: ali há painéis de energia solar, gerador de energia eólica, sistema de captação de água da chuva e uma bomba de gás natural veicular para abastecer o carro.

São soluções pensadas segundo as necessidad­es de cada um dos moradores da casa e a disponibil­idade de recursos na região.

“Tudo tem que ser projetado de acordo com a realidade brasileira, nós não podemos copiar e colar um projeto do exterior, porque não vai dar certo”, explica o engenheiro.

Nos países frios, por exemplo, há uma preocupaçã­o muito maior com o isolamento térmico. “Em São Paulo, a maioria das casas não precisa de calefação, mas pode economizar energia elétrica com painéis fotovoltai­cos porque a incidência de sol é boa.”

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Fotos Divulgação Casa sustentáve­l da Wikkelhous­e, em Roterdã, Holanda, e, ao lado, um dos ambientes do modelo
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 ??  ?? Banheiro e quarto (abaixo) que leem os sinais vitais do morador, na Wonder Life Box 2020, showroom da Panasonic, em Tóquio
Banheiro e quarto (abaixo) que leem os sinais vitais do morador, na Wonder Life Box 2020, showroom da Panasonic, em Tóquio
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Projeto em West Kirby, na Inglaterra, premiado por boas práticas de sustentabi­lidade
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Alberto Rocha/Folhapress A Smart Eco House, do engenheiro João Barassal Neto, na zona norte de São Paulo

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