Casa do futuro sugere receita ao dono e até posta foto na internet
Equipamentos em teste na Cidade Sustentável de Fujisawa, no Japão, devem chegar ao mercado até 2030
No banheiro da casa, um espelho com câmeras, conectado a uma balança no chão, checa peso, altura e frequência cardíaca do morador e procura sinais de doenças do couro cabeludo. Se detectar cansaço ou problemas de sono, o sistema ligado à cama altera iluminação, temperatura e música ambientes para criar um espaço relaxante.
Essa é apenas uma das tecnologias em exibição no espaço Wonder Life Box 2020, criado em 2014 pela Panasonic em Tóquio para apresenta os equipamentos que, de acordo com a empresa, estarão presentes nas moradias entre os anos 2020 e 2030.
Ali, cada cômodo tem uma inovação tecnológica diferente, sendo que todas as ferramentas são integradas por meio de um sistema de inteligência artificial.
Na cozinha, a assistente virtual consulta as listas de compras da casa, sugere receitas de acordo com os ingredientes disponíveis na geladeira e programa os eletrodomésticos que precisarão ser usados. A casa pode até publicar a foto com o resultado do preparo nas redes sociais, segundo a Panasonic.
Parte dos recursos exibidos no showroom já está em teste na Cidade Sustentável de Fujisawa, inaugurada há quatro anos pela Panasonic em parceria com outras sete empresas japonesas de diversos setores em um terreno onde antes ficava um parque fabril.
Nas mil casas da cidademodelo, a prioridade é a economia de recursos. Uma das metas é reduzir em até 70% a emissão de dióxido de carbono —para isso, há painéis solares fotovoltaicos, responsáveis por 30% do consumo.
Por meio de um aplicativo, os moradores podem verificar quanto economizaram na conta de luz e assim ganhar créditos que são usados para abater parcelas do financiamento dos imóveis.
As casas foram vendidas por US$ 550 mil (cerca de R$ 2,1 milhão) a famílias da região. Nos bairros dos arredores, a cerca de 50 quilômetros de Tóquio, uma residência sem recursos de sustentabilidade custa cerca de US$ 500 mil (cerca de R$ 1,9 milhão).
Para a empresa holandesa Wikkelhouse, a economia de recursos ambientais está presente desde a construção. A marca faz casas em menos de 24 horas usando módulos feitos de papelão que defende serem até três vezes mais sustentáveis do que os de uma casa pré-fabricada comum.
As paredes têm 24 camadas de fibras de papel e vida útil de pelo menos 50 anos. Por fora, são forradas com madeira e alumínio, o que garante a resistência e o isolamento térmico da construção, explica Oep Schilling, cofundador da Wikkelhouse.
Além de serem feitas exclusivamente com materiais reciclados, as casas são pensadas em módulos de 5 metros quadrados, que podem ser adicionados ou retirados.
Os protótipos, disponíveis em dez países europeus, custam o equivalente a R$ 130 mil a cada 15 metros quadrados.
Economia de recursos também é o mote da casa em West Kirby, na Inglaterra, vencedora em 2015 do prêmio Swig Awards, que promove boas práticas no uso racional de água, na categoria “eficiência energética”.
Localizada em um subúrbio da cidade de Liverpool, a residência de aparência comum consome 15 libras (cerca de R$ 75) por ano em energia elétrica e calefação.
A redução nas contas é resultado de soluções de isolamento térmico e geração de energia criadas pelo arquiteto e morador Colin Usher, que trabalha com projetos de arquitetura sustentável desde 1998.
Ali, as janelas têm camadas triplas de vidro, para manter a temperatura interna, e são abundantes, o que dispensa o uso de lâmpadas durante o dia. O telhado, todo coberto por placas fotovoltaicas, garante boa parte do consumo energético.
Já o pé-direito generoso no térreo faz com que o ar quente suba, mantendo os cômodos do segundo andar mais aquecidos.
O custo para construir o imóvel de quatro dormitórios em 2014 foi de 440 mil libras (cerca de R$ 2,17 milhões). Segundo o arquiteto, o valor é similar ao de outras casas do mesmo padrão na região.
Custo de construção sustentável no Brasil ainda é 40% mais alto
Uma obra sustentável sai em média 40% mais cara do que uma construção convencional no Brasil. “Deveria ser o contrário, visto que reutilizamos os insumos para fazer novos produtos. Falta incentivo e subsídio para quem quer priorizar o meio ambiente”, reclama o engenheiro João Barassal Neto, diretor da consultoria Smart Eco House, que faz projetos para melhorar a sustentabilidade em empresas e residências.
“As adaptações são investimentos altos, mas a longo prazo sempre trazem economia.”
A casa onde vive Barassal, no bairro do Jardim São Paulo, zona norte da capital, também funciona como vitrine das tecnologias vendidas por sua empresa: ali há painéis de energia solar, gerador de energia eólica, sistema de captação de água da chuva e uma bomba de gás natural veicular para abastecer o carro.
São soluções pensadas segundo as necessidades de cada um dos moradores da casa e a disponibilidade de recursos na região.
“Tudo tem que ser projetado de acordo com a realidade brasileira, nós não podemos copiar e colar um projeto do exterior, porque não vai dar certo”, explica o engenheiro.
Nos países frios, por exemplo, há uma preocupação muito maior com o isolamento térmico. “Em São Paulo, a maioria das casas não precisa de calefação, mas pode economizar energia elétrica com painéis fotovoltaicos porque a incidência de sol é boa.”