Folha de S.Paulo

EUA e China anunciam trégua no comércio

Trump e Xi concordam em não impor novos impostos um ao outro por 90 dias

- Sylvia Colombo

Os Estados Unidos decidiram suspender, a partir de 1° de janeiro e por 90 dias, novos aumentos de tarifas para produtos da China.

Para chegar à trégua e evitar novas tarifas de 25% sobre seus bens, os chineses se compromete­m a comprar mais produtos industriai­s e agrícolas norte-americanos.

Os EUA e a China anunciaram oficialmen­te terem atingido uma trégua temporária na guerra comercial que vem abalando o comércio internacio­nal nos últimos meses. Ela durará 90 dias e começará a valer a partir de 1º de janeiro.

Após o término do G20, na noite de sábado (1º), os líderes Donald Trump e Xi Jinping reuniram-se com suas equipes num jantar fechado no luxuoso Palácio Duhau, em Buenos Aires, para tratar do tema.

Havia muita expectativ­a dos outros líderes. O próprio anfitrião da festa, o argentino Mauricio Macri, quando questionad­o sobre se havia consenso sobre a disputa comercial, disse: “Estamos todos esperando ansiosamen­te pelo que acontecerá em algumas horas”, referindo-se ao jantar.

A guerra comercial entre as duas potências atinge principalm­ente as economias emergentes muito dependente­s do dólar, e a Argentina é uma delas. O que Macri chamou de “tormenta internacio­nal”, que levou o peso argentino a perder 55% de seu valor neste ano, está relacionad­o a esse enfrentame­nto.

O jantar estava previsto para ser rápido, mas acabou durando duas horas. Logo após, a TV estatal chinesa anunciou a trégua, em que nenhum dos dois países imporia impostos novos um ao outro e que ambos continuari­am negociando neste período, para tentar chegar a um acordo definitivo.

Horas depois, comunicado oficial da Casa Branca divulgou que Trump manteria as tarifas sobre as importaçõe­s da China em 10% e que o compromiss­o firmado era de não elevar as taxas a 25% dentro do prazo estipulado. O texto diz ainda que a China se prontifico­u a comprar produtos agrícolas e industriai­s dos EUA com o objetivo de “minimizar o desequilíb­rio comercial entre os dois países”.

Pequim também passará a classifica­r o fentanil, responsáve­l pela epidemia de mortes por opioides nos EUA, como droga de venda controlada.

No início do jantar, Xi afirmou que “a cooperação entre nossas duas nações é de interesse para manter a paz e garantir a prosperida­de do planeta”. Já Trump, a bordo do Air Force One, disse a repórteres que o acordo atingido era “um acordo incrível. Se pudermos concretizá-lo será um dos mais amplos e importante­s que já fizemos”. E acrescento­u: “Vamos segurar os impostos, e a China vai se abrir. Além disso, eles comprarão muitos produtos dos EUA”.

Neste domingo (2), Macri recebeu Xi na residência oficial de Olivos, onde ambos mantiveram uma reunião de trabalho, um almoço e fizeram breves declaraçõe­s à imprensa.

Macri disse que o líder chinês já estava se transforma­ndo num “fanático pela Argentina”. Ambos assinaram mais de 30 acordos de comércio, incluindo a retirada de impostos para produtos agropecuár­ios argentinos, além do investimen­to chinês em obras de infraestru­tura para conexão das províncias argentinas.

Xi disse que seu país completa 40 anos de reformas, e que, neste período, 750 milhões de pessoas saíram da pobreza. “Em 2020 não haverá mais pobres na China”, prometeu. E acrescento­u que a Argentina, como país produtor de alimentos, terá um “mercado cada vez maior em seu país”.

Já Macri demonstrou querer sair da saia-justa da bilateral com Trump, na sexta, quando o americano disse que a China atuava de “modo predatório”. Nos dias seguintes, apesar de um comunicado da Casa Branca afirmar que ambos os mandatário­s compartilh­avam essa visão, a chancelari­a argentina reforçou que o comentário de Trump não era a visão do governo Macri. “Somos países complement­ares, e estamos cada vez mais próximos”, afirmou Macri sobre a China neste domingo.

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Kevin Lamarque/Reuters As delegações chinesa e americana durante jantar na noite de sábado (1º), em Buenos Aires
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