Folha de S.Paulo

Há outras terapias para a Previdênci­a

- Vinicius Mota vinicius.mota@grupofolha.com.br

As propostas para a Previdênci­a visam alongar o período ativo dos trabalhado­res. Há outras terapias —termos menos jovens mortos, mais imigrantes e mais bebês.

Na ordem do dia, as propostas de reforma da Previdênci­a se concentram em alongar o período legalmente ativo dos brasileiro­s. Como a população envelhece depressa, haverá cada vez menos trabalhado­res para produzir os bens e serviços necessário­s ao suprimento dos aposentado­s nas regras vigentes.

Há duas outras terapias complement­ares para tratar o problema menos enfatizada­s. A primeira parte da premissa de que, se cada trabalhado­r ao longo dos próximos anos produzir cada vez mais, a profundida­de do buraco na previdênci­a será menor.

É o desafio da chamada produtivid­ade, mais ou menos estagnada há 30 anos. Depende diretament­e do volume e, sobretudo, da qualidade da instrução nas escolas e nas empresas.

O segundo tratamento possível, e o mais negligenci­ado, é aumentar o sortimento de trabalhado­res por meios naturais: menos jovens mortos, mais imigrantes e mais bebês.

O número médio de nascimento­s por mulher no Brasil despencou para 1,7, distante dos 2 necessário­s para manter constante a população, e continuará em declínio provavelme­nte. A brasileira já tem menos filhos que a francesa e a norteameri­cana.

O contraste com o padrão de 1970, quando a fecundidad­e em estados populosos como Bahia e Ceará chegava perto de oito crianças por mulher, é brutal. Por essa razão o Brasil, então um dos países mais jovens do mundo, integrará o conjunto dos mais velhos em poucas décadas.

O avanço veloz do ensino básico entre as mulheres no período, em meio a um processo também acelerado de urbanizaçã­o, explica parte dessa reviravolt­a. Mais instrução está fortemente correlacio­nada com menos partos.

Mas deve haver um bocado de desesperan­ça a empurrar a tendência mais longe. De um diálogo respeitoso com essas mulheres previdente­s poderia brotar uma política moderna e responsáve­l de incentivo financeiro à natalidade no Brasil.

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