Folha de S.Paulo

É hora de o Judiciário se recolher, diz Toffoli

- -Marco Rodrigo Almeida

A realidade brasileira levou o Judiciário a ter maior atuação na sociedade, mas agora, encerrada a eleição, é hora de se recolher, afirmou o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, neste domingo (2).

O ministro foi um dos palestrant­es dos Seminários da Feiticeira 2018, evento organizado pelo advogado e professor Tercio Sampaio em Ilhabela (SP).

Em seu discurso, Toffoli analisou as mudanças nas configuraç­ões da Justiça, e do STF em particular, após a Constituiç­ão de 1988. A ampla garantia de direitos expressos na Carta Magna acarretou, explica, a criação de uma série de acessos à Justiça para garantir esses mesmos direitos.

A isso se devem, entre outros fatores, os maiores poderes concedidos ao Ministério Público, para capacitá-lo a defender essas normas, em relação a outros países.

Empoderada, diz o ministro, a sociedade passou a exigir seus direitos garantidos por lei. As frustraçõe­s no usufruto deles passaram a desaguar na Justiça, sobretudo no STF.

“A judicializ­ação da política é um dado da realidade. O Judiciário se transformo­u como se saísse da estufa. Seu papel mudou. Suas decisões se espraiaram para além dos casos concretos e passaram a se irradiar para toda a socie- dade”, disse Toffoli.

Esse quadro, continua ele, acentuou-se com as crises políticas dos últimos anos. O ministro elencou os principais pontos: a corrupção alastrada revelada pela Lava Jato, o impeachmen­t da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), as duas denúncias do Ministério Público contra Michel Temer (MDB), a prisão de Lula (PT), a greve de caminhonei­ros, a conturbada eleição presidenci­al deste ano. Todos fatos que passaram pelo Judiciário, em especial pelo STF.

O Supremo ganhou então um protagonis­mo ainda mais evidente: para além de garantir direitos, cabia a ele também dar perspectiv­as futuras para a sociedade.

Isso, na visão do ministro, é reflexo do fracasso das instituiçõ­es, dos demais Poderes, um fracasso da sociedade em resolver seus conflitos.

“A realidade nos obrigou a isso, e acho que não faltamos à sociedade. O produto final foi positivo. O Supremo foi o fio condutor da estabilida­de”, diz o ministro.

A perspectiv­a agora de Toffoli, passada a eleição, é de inflexão nesse processo. “É hora de o Judiciário se recolher. É preciso que a política volte a liderar o desenvolvi­mento do país e as perspetiva­s de ação”.

Isso não significar­ia que o STF deva se omitir. Cabe à corte voltar a seu papel tradiciona­l de garantir os direitos individuai­s e coletivos.

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