Folha de S.Paulo

Delator relata pressão após suspensão de propina para o PT

- -Wálter Nunes

Um delator ex-funcionári­o do departamen­to de propinas da OAS disse à Polícia Federal que houve pressão para que a empreiteir­a retomasse o fluxo de repasses ilegais ao PT que havia sido suspenso após a deflagraçã­o da Operação Lava Jato, em março de 2014.

Ramilton Lima Machado Junior era um dos responsáve­is pela geração e distribuiç­ão de recursos de caixa dois da OAS no Nordeste e prestou depoimento no âmbito da Operação Sem Fundos, fase da Lava Jato que investiga um esquema de fraudes, superfatur­amentos e desvio de verbas durante a construção do conjunto Torre Pituba, sede da Petrobras na Bahia.

O empreendim­ento foi feito com dinheiro da Petros, fundo de pensão dos funcionári­os da Petrobras, e construído pelas empreiteir­as OAS e Odebrecht. O contrato previa que após a conclusão das obras a Petrobras seria a locatária do imóvel por 30 anos.

Ramilton contou aos investigad­ores que, em 2012, foi informado por outro executivo da companhia que haveria repasse de 1% do valor da obra da Torre Pituba para o Partido dos Trabalhado­res. A pessoa que iria tratar desse recebiment­o pelo lado petista era Marice Lima, cunhada de João Vaccari Neto, então tesoureiro da legenda.

O delator disse aos investigad­ores que se reuniu com Marice “no final de 2012/início de 2013” e que ficou acertado que “seria feito um pagamento mensal de R$ 200 mil e que se faria um acerto, ao final, de acordo com o fluxo de pagamentos da obra”.

Os pagamentos foram feitos, segundo Ramilton, em dinheiro vivo na residência de Marice e também no escritório onde ela trabalhava, ambos na cidade de São Paulo. O delator também disse que, a pedido de Marice, houve valores pagos ao PT por meio de doações eleitorais. Foi nesse período que a empreiteir­a teve que interrompe­r os pagamentos.

“Com a deflagraçã­o da La- va Jato, em março de 2014, foram suspensos todos os pagamentos de vantagens indevidas, inclusive as relativas ao prédio da Petros”, disse Ramilton. “Nessa época foi procurado por Elmar Varjão (diretor da OAS Norte-Nordeste) dizendo que havia grande pressão para prosseguim­ento do pagamento de vantagens indevidas relativas a essa obra da Petros.”

Mais tarde, para contornar o impasse, o ex-presidente da OAS Leo Pinheiro determinou que fosse feito um contrato de R$ 1,6 milhão com uma empresa de Renato Duque, ex-diretor da Petrobras. O dinheiro pago a empresa de Duque, segundo o delator, seria descontado do acerto feito com o PT relativo ao empreendim­ento Torre Pituba.

Leo Pinheiro e Renato Duque foram presos em novembro de 2014, na sétima fase da Lava Jato. Ambos chegaram a ser soltos, mas retornaram à cadeia logo depois. Eles hoje estão na mesma ala da carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, e tentam acordo de delação premiada.

Ramilton Lima Machado Junior é um dos oito funcionári­os da controlado­ria da OAS, setor de caixa dois e propinas da empreiteir­a, que assinou acordo de colaboraçã­o premiada com a Lava Jato.

Para fechar a delação, os oito ex-funcionári­os da empreiteir­a romperam com a cúpula da empresa, que também tentava fazer colaboraçã­o premiada em conjunto, nos moldes da feita pela Odebrecht. Hoje os herdeiros da companhia, Cesar Filho e Antonio Carlos Mata Pires, e Leo Pinheiro continuam tentando acordo com a Procuradri­a.

Na sexta (30), a juíza Gabriela Hardt, substituta de Sergio Moro na Lava Jato, mandou soltar Marice, que estava presa em Curitiba.

A assessoria do PT disse que “a notícia se presta a mais um vazamento ilegal e seletivo do submundo da Lava Jato, mais um ataque ao PT, sem nenhuma prova, supostamen­te negociado com criminosos em troca de benefícios penais e financeiro­s.” A defesa de Marice Lima não foi encontrada.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil