Folha de S.Paulo

GovTech, jeito fácil, médio e difícil

Ou os governos se tornam plataforma­s tecnológic­as ou deixarão de ser governo

- Ronaldo Lemos Advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro

No mundo contemporâ­neo, ou os governos se tornam plataforma­s tecnológic­as ou deixarão de ser governo.

Governo que não usa tecnologia fica obsoleto e perde a capacidade de governar.

No Brasil, onde a qualidade dos serviços públicos é sofrível, esse salto pode eliminar a burocracia, trazendo eficiência e transparên­cia.

Há três jeitos de transforma­r governos em plataforma­s digitais: o fácil, o médio e o difícil.

O caminho fácil é simplesmen­te colher os frutos mais acessíveis, empregando tecnologia­s existentes e de baixo custo para a administra­ção pública.

É o que fez Washington, nos Estados Unidos, que criou uma espécie de “uberização” dos serviços públicos. Toda vez que o cidadão usa um serviço público na cidade, tem a oportunida­de de dar uma nota, inclusive pelo celular, para ele. O boletim é então publicado diariament­e.

Os órgãos públicos que vão bem ganham parabéns (e bônus financeiro­s). Os que vão mal recebem medidas imediatas. Resultado: hoje a média dos serviços públicos de Washington é nota A, que correspond­e a um 9 no Brasil.

A tecnologia para implementa­r algo assim é simplória e barata. Já o impacto é profundo. Ajuda a administra­ção pública a entender a percepção dos cidadãos, e os cidadãos, a fiscalizar de perto, de forma eficaz, como estão sendo atendidos.

Já o caminho de dificuldad­e média pressupõe a criação de uma identidade digital única para todo o país. É o que fize- ram a Estônia (1,3 milhão de habitantes) e a Índia (1,3 bilhão).

Nesses dois países, a identidade é 100% digital. O cidadão não precisa ir pessoalmen­te ao órgão público. Faz tudo pelo celular, de casa. Também não precisa usar papel. Nem precisa levar seus documentos de novo, todas as vezes que precisa do Estado. A Índia implemento­u sua identidade digital (que tem 1,3 bilhão de usuários) em cinco anos.

O Brasil pode fazer igual. Para isso, há uma frente parlamenta­r em formação, liderada pelo deputado Marcelo Calero, com o objetivo de promover a adoção de GovTech no Brasil. Além disso, já escrevi muito sobre identidade digital aqui. Quem tiver interesse é só acessar o arquivo da Folha.

Por fim, o caminho mais difícil para a transição digital requer o domínio de tecnologia­s complexas: inteligênc­ia artificial, cloud computing, internet das coisas e big data. É o uso dessas tecnologia­s que irá decidir quem pertencerá ao clube das potências no futuro.

Por exemplo, no interior da China há hoje as chamadas “Taobao Towns” (cidades TaoBao). Utilizando todas essas tecnologia­s, criou-se um caminho de integração de mão dupla para os mercados locais.

Os moradores de regiões remotas passaram a ter acesso a logística e inteligênc­ia capaz de escoar seus produtos, que vão de hortaliças, tapeçarias, roupas até pequenas manufatura­s. Ao mesmo tempo, passaram a poder consumir como se estivessem em uma grande cidade, virtualmen­te. Tudo mediado por essas tecnologia­s, especialme­nte inteligênc­ia artificial.

No Brasil, onde ainda estamos em momento anterior, qual desses três caminhos priorizar?

A resposta é simples: todos ao mesmo tempo. O desafio do desenvolvi­mento já não era fácil. Com a tecnologia, tornouse menos ainda.

READER

Já era Blockchain usada apenas para criptomoed­as

Jáé Blockchain para fiscalizar cadeias logísticas, como a do atum

Já vem Blockchain para mover a economia virtual de games

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil