Folha de S.Paulo

Empresa ensina profission­al que não programa a criar robôs

Executivo afirma que 67 mil horas deixaram de ser gastas com tarefas repetitiva­s após criação de sistemas

- -Filipe Oliveira

William Almeida, 25, começou a trabalhar na empresa do setor de energia EDP em 2015 cuidando de planilhas de recursos humanos.

Três anos depois, boa parte das atividades que fazia já foi automatiza­da por softwares desenvolvi­dos pela empresa.

Não que isso tenha sido um problema para ele. Na verdade, Almeida, que pouco sabia de programaçã­o, foi um dos responsáve­is por criar o robô que passaria a cuidar da folha de pagamentos em seu lugar.

Desde 2017, a empresa já criou mais de cem sistemas que automatiza­ram tarefas repetitiva­s em diversas áreas.

São robôs que recolhem impostos automatica­mente, enviam comunicado­s para consumidor­es quando sua solicitaçã­o é respondida e cuidam de processos da área contábil, por exemplo.

Para desenvolvê-los, a EDP criou uma unidade dedicada a encontrar tarefas que poderiam ser feitas por sistemas como esses, o Centro de Excelência da Robotizaçã­o.

A área tem uma equipe fixa de apenas quatro profission­ais. Para gerar inovação e produzir em larga escala, faz parcerias com colegas de outros departamen­tos.

O diretor de tecnologia da informação Marcos Penna diz foram treinados 40 profission­ais da EDP, a maioria sem conhecimen­to prévio de tecnologia, para que passassem a colaborar com ideias e mão de obra na criação de robôs.

Eles foram submetidos a uma formação intensiva de um mês, período no qual já aprendiam programaçã­o.

Para chegar a isso, o mais importante é ter habilidade­s para trabalhar com lógica e encadear as atividades que o sistema deve fazer —a ferramenta usada pela empresa não exige conhecimen­to de nenhuma linguagem de programaçã­o, diz Penna.

Segundo ele, trazer pessoas com conhecimen­tos variados para o programa melhora a qualidade da inovação.

“Essa diversidad­e permite que surjam mais ideias para melhoria de processos, acaba sendo algo muito produtivo”.

Wladimir Ramalho, consultor de aplicações financeira­s e responsáve­l pelo centro, afirma que alguns robôs podem ser criados em quinze dias, enquanto os mais complexos demandam até seis semanas.

O processo, em geral, envolve detalhar as atividades que serão incorporad­as pelo software com o profission­al que a executa rotineiram­ente, criar o sistema e depois testá-lo antes de sua implementa­ção.

Almeida, que deixou o RH e hoje se dedica ao centro de robotizaçã­o, diz que o contato com tecnologia o fez ter interesse por estudar mais a área e direcionar sua carreira a ela.

Por outro lado, admite que as primeiras lições o assustaram.

“No começo era muito difícil. Quando ouvia especialis­tas, pensava, ‘como vou fazer isso?’ Ia para casa e passava horas pensando em como montar o robô. Depois a gente entende que, se dedicando, não é um bicho de sete cabeças.”

Segundo Penna, os robôs criados pela empresa garantem uma economia de 67 mil horas de trabalho que deixam de ser dedicadas a tarefas repetitiva­s, equivalent­es a uma economia de R$ 5,8 milhões por ano. A companhia tem 3.000 funcionári­os.

Mesmo com essa economia, Penna diz que o objetivo não é cortar funcionári­os a partir da automação. Em vez disso, se busca tirá-los de tarefas repetitiva­s para permitir que os profission­ais se dediquem a tarefas mais complexas e analíticas, diz o executivo.

“Essa diversidad­e permite que surjam mais ideias para melhoria de processos, acaba sendo algo muito produtivo Marcos Penna diretor de tecnologia da informação da EDP

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Zanone Fraissat/Folhapress Wladimir Ramalho, da área de desenvolvi­mento de robôs da EDP

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