Dos recém-formados, apenas 4% miram unidades de saúde
Considerada uma área estratégica e capaz de solucionar até 80% dos problemas que chegam ao SUS, a atenção básica em saúde tem registrado baixa adesão de recém-formados em medicina quando o assunto é a preferência no mercado de trabalho.
Dados inéditos de uma pesquisa com 4.601 graduados entre 2014 e 2015 mostram que só 3,7% deles desejavam trabalhar exclusivamente nesse setor, responsável pelo atendimento nas unidades de saúde.
Já 30,1% dizem que até aceitam trabalhar na área, mas também assinalam outras, como hospitais e consultórios particulares. Na outra ponta, 66,2% dizem que não desejam atuar na atenção primária.
Os dados fazem parte de um novo recorte da pesquisa Demografia Médica, divulgada neste ano pela USP e Conselho Federal de Medicina.
Para Mário Scheffer, autor do estudo, os dados mostram uma distância entre as demandas e as preferências dos profissionais. “É uma preferência muito aquém do que precisa o sistema de saúde.”
Segundo ele, a menor opção por trabalhar exclusivamente na atenção básica coincide com as características do mercado de trabalho na medicina, marcado pela multiplicidade de empregos e maior direcionamento ao setor privado.
Outro impasse é o acesso restrito à formação médica a alunos de perfil mais alto de renda. Dados da pesquisa Demografia Médica mostram que 77% dos estudantes se declaram brancos e que 79% vêm de escolas particulares.
“O perfil atual de alunos ainda é muito distante do perfil da população. A medicina é um curso de brancos e ricos.”
E como atrair os estudantes para a atenção básica na graduação? Para Scheffer, o ideal seria investir em mudanças nas diretrizes curriculares, com mais conteúdos voltados para a atenção primária desde a graduação.