Folha de S.Paulo

Globo da morte

Acerca de escalada de acidentes fatais com motos.

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O massacre diário produzido pelo trânsito brasileiro há muito constitui um dos mais graves problemas de saúde pública do país. Segundo o dado mais recente, mais de 37 mil pessoas morreram nas nossas ruas e estradas em 2016.

Em termos proporcion­ais, o Brasil ocupa nada menos que o segundo lugar no índice de mortes a cada 100 mil veículos, na comparação com as nações de maior frota.

Além de tragédias pessoais e familiares, a violência do trânsito nacional impõe ainda enorme impacto econômico. Os acidentes geram prejuízos anuais que variam, dependendo do estudo, de R$ 19,3 bilhões a R$ 52 bilhões em gastos de saúde, previdênci­a e perda de produtivid­ade econômica.

O enfrentame­nto de tamanha calamidade constitui, assim, tarefa incontorná­vel do governo que assume em 1º de janeiro do ano que vem. Para tanto, merece especial atenção a questão das motociclet­as, modalidade que se popularizo­u rapidament­e, sobretudo no Norte e no Nordeste, e responde pelo maior número de vítimas.

A participaç­ão desse meio de transporte nas vias cresceu de 12% em 2000 para 22% em 2016 —ao passo que a de carros caiu de 57% para 55%. Em 2016, 32% dos óbitos de trânsito foram de motociclis­tas, seguido de ocupantes de automóveis (24%) e de pedestres (21%).

O quadro mais funesto encontrase no Ceará, que apresenta a maior taxa de indenizaçõ­es por mortes e feridos em acidentes com relação à frota —cuja metade, notese, é composta de motociclet­as.

A situação é mais grave no interior, como mostrou reportagem desta Folha. No Hospital Regional do Cariri, que recebe pacientes de 45 municípios cearenses, 13% dos 19 mil atendiment­os de emergência realizados até setembro concernem a acidentes nas vias —e 65% destes são de motociclis­tas.

Minorar a mortalidad­e desses motoristas, justificad­amente, é um dos pontos do Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito, aprovado, embora com atraso de quase uma década, neste ano.

Seu objetivo é reduzir em 50% o número de óbitos de trânsito até 2028. Para isso, o documento estabelece uma série de ações conjuntas de órgãos de trânsito, transporte, saúde, justiça e educação.

Projetos dessa natureza estiveram por trás do sucesso obtido por países como Dinamarca, Espanha, Suécia, Austrália e Japão na redução de seus índices. Para seguirmos pela mesma estrada, é essencial que os gestores públicos se empenhem na implementa­ção do plano brasileiro e zelem o cumpriment­o de suas metas.

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