Folha de S.Paulo

Bolsonaro recua e cumpre plano de extinguir Trabalho

Novo governo dividirá atribuiçõe­s entre Justiça, Economia e Cidadania; atual gestão vê atentado contra Constituiç­ão

- Talita Fernandes, Bernardo Caram e Laís Alegretti

O governo do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), vai extinguir o Ministério do Trabalho e dividir suas atribuiçõe­s entre três pastas —Economia, Justiça e Cidadania. O atual governo vê atentado contra a Constituiç­ão.

“O Ministério do Trabalho passa a estar contido, majoritari­amente, no Ministério da Justiça [de Sergio Moro]”, disse o futuro ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, nesta segunda-feira (3).

“Lá estará a secretaria que cuida das cartas sindicais, que foi foco de problema. Vai estar sob controle de Moro para combater problemas. Envolve a concessão de carta sindical”, disse Onyx.

Os problemas citados pelo futuro ministro tratam de suspeitas de corrupção no Ministério do Trabalho. A concessão das cartas sindicais foi alvo da Operação Registro Espúrio, da Polícia Federal, neste ano.

Segundo o desenho dos ministério­s, na Economia, de Paulo Guedes, ficarão as partes da pasta do Trabalho responsáve­is por fiscalizaç­ão, políticas públicas para o emprego e FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço).

O Ministério da Cidadania, pasta do futuro ministro Osmar Terra (MDB-RS), cuidará de economia solidária.

A informação foi confirmada por Onyx nesta segundafei­ra em Brasília e fora antecipada em entrevista concedida por ele à rádio Gaúcha.

O futuro ministro da Casa Civil, no entanto, não esclareceu qual ministério será o responsáve­l pelas políticas de combate ao trabalho escravo.

A decisão de acabar com a pasta do Trabalho é uma mudança em relação ao que afirmara Bolsonaro. Ele havia dito que a área seguiria com status de ministério.

“O Ministério do Trabalho vai continuar com status de ministério, não vai ser secretaria. Vai ser ‘ministério disso, disso e do Trabalho’, como [por exemplo] Ministério da Indústria e Comércio”, afirmou Bolsonaro em 13 de novembro, uma semana após dizer que extinguiri­a a pasta.

A Folha revelou, em 6 de novembro, que o fim da pasta estava nos planos de Bolsonaro.

O comando do ministério sob a gestão Michel Temer reagiu ao anúncio de Onyx.

Em nota, a assessoria de imprensa da pasta disse que o eventual desmembram­ento atenta contra artigo da Constituiç­ão que estabelece a participaç­ão de trabalhado­res e empregador­es nos colegiados dos órgãos públicos.

Segundo o atual comando do ministério, nesses colegiados são debatidos e deliberado­s temas de interesses profission­ais e previdenci­ários.

“Dissolver as atribuiçõe­s do Ministério do Trabalho em diversas pastas, sem a adoção de medidas de compensaçã­o democrátic­a, retiraria um dos palcos em que é promovida a interlocuç­ão entre trabalhado­r, empregador­es e Estado regulador”, afirmou o ministério, em nota.

“[Essa interlocuç­ão é] essencial à garantia do equilíbrio das relações de trabalho.”

O Ministério do Trabalho foi criado por Getúlio Vargas em 26 de novembro de 1930.

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