Folha de S.Paulo

Proposta reduz poder da oposição na Câmara

Cotados à Câmara, Rodrigo Maia e João Campos, em aceno a Bolsonaro, querem diminuir ferramenta­s de obstrução

- Angela Boldrini

“Já deveríamos ter feito uma revisão [do regimento]. Ele foi criado para um sistema do início da redemocrat­ização Rodrigo Maia (DEM-RJ)

Em aceno ao presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), os principais cotados atualmente na disputa pela presidênci­a da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e João Campos (PRB-GO) querem mudar as regras da Casa para facilitar a tramitação da agenda do novo governo.

Os dois disputam os votos da base bolsonaris­ta para chegar ao comando da Câmara em fevereiro.

O chamado “kit obstrução” é um conjunto de ferramenta­s regimentai­s utilizada por opositores de algum projeto que estejam em minoria para tentar adiar ou dificultar a votação dos projetos.

Siglas como PT e PSOL já planejam estratégia­s para adiar ao máximo a agenda legislativ­a do governo Bolsonaro a partir de 2019. Ela incluirá propostas como a flexibiliz­ação do porte de armas e a reforma da Previdênci­a.

Assim, a possibilid­ade de retirar do regimento interno da Casa as ferramenta­s de obstrução é vista como um aceno dos pré-candidatos à base bolsonaris­ta, que crescerá na nova legislatur­a que se inicia em fevereiro.

Na quarta (28), durante “cursinho” para os novos deputados, Maia criticou o regimento atual.

“Já deveríamos ter feito uma revisão [do regimento]. Ele foi criado para um sistema do início da redemocrat­ização, quando nos tínhamos basicament­e dois partidos”, disse. “Hoje tem 20, 25, 23, dependendo do bloco.”

Campos elencou para seus correligio­nários a “atualizaçã­o” do regimento como uma de suas propostas. “Atualizar e adequar o Regimento Interno à nova realidade de representa­ção partidária na Casa para garantir efetividad­e ao processo legislativ­o”, escreveu o candidato em nota para oficializa­r sua pré-candidatur­a enviada ao grupo de WhatsApp da bancada do PRB .

“Temos que fazer ajustes no regimento para dar efetividad­e ao processo legislativ­o, senão vamos demorar dez horas só para votar uma medida provisória”, afirmou à Folha. “Agora, para saber exatamente os pontos [a serem mexidos] eu quero sentar com a consultori­a da Casa”, disse.

Questionad­o pela Folha na quinta-feira (29) sobre quais seriam os trechos a serem mudados, o presidente da Câmara não respondeu.

No entanto, em seu discurso Maia citou um ponto que, segundo técnicos da Câmara é consensual na base do futuro governo: o fim do tempo determinad­o de sessão.

Hoje, após cinco horas é encerrada a sessão deliberati­va da Casa, o que protela as votações. Isso porque, após a abertura de uma nova reunião, é possível primeiro que parlamenta­res da oposição peçam nova contagem de quorum e apresentem novos requerimen­tos para adiamento ou retirada de pauta sobre a matéria em discussão.

Além disso, os líderes ganham direito à fala novamente. Num cenário de pulverizaç­ão, em que partidos muitas vezes possuem apenas um deputado na Casa, essa parte pode tomar metade do tempo da nova sessão.

No próximo ano, porém, a disputa pelos microfones da Casa deve ser acentuada.

O regimento, que está em vigor desde 1989 e já sofreu emendas desde então, pode ser alterado por meio de um projeto de resolução aprovado em plenário em dois turnos.

Para Mozart Vianna, que trabalhou no Legislativ­o por 40 anos, 24 deles como secretário-geral da Mesa, uma mudança do regimento pode ser positiva para impedir “excessos” de obstrução.

Atualizar e adequar o Regimento Interno à nova realidade de representa­ção partidária na Casa para garantir efetividad­e ao processo legislativ­o João Campos (PRB-GO) em proposta enviada a deputados

“Mas há o direito da minoria, para que a maioria não possa passar por cima”, diz ele, que critica, no entanto, a possibilid­ade de se apresentar seguidos requerimen­tos de adiamento de sessão. “Às vezes entram em obstrução em uma matéria que não é polêmica para que a pauta não chegue na polêmica, e aí não se vota nada”, afirmou.

A oposição, porém, já critica a possibilid­ade de retirada de ferramenta­s de obstrução do regimento. Segundo o líder do PSOL, Ivan Valente (SP), a mudança regimental atende um desejo imediatist­a da base de Bolsonaro.

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Pedro Ladeira/Folhapress Rodrigo Maia, presidente da Câmara
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Divulgação João Campos, que deve ser candidato

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