Folha de S.Paulo

Ultradirei­ta surpreende em eleição regional na Espanha

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O partido espanhol de ultradirei­ta Vox entrou no domingo (3) com força no Parlamento regional da Andaluzia, em eleições nas quais os partidos conservado­res quebraram a hegemonia local do socialismo.

É a primeira vez que um partido de ultradirei­ta entra em um Parlamento regional na Espanha desde a morte do ditador Francisco Franco, em 1975.

O resultado é um golpe para o premiê socialista Pedro Sánchez, que desde junho dirige o governo mais minoritári­o em 40 anos de democracia na Espanha, com 84 dos 350 deputados.

Superando todas as expectativ­as, que lhe davam um máximo de 5 dos 109 deputados na câmara andaluza, o Vox conquistou 12 cadeiras e 11% dos votos. O partido fez campanha contra os separatist­as catalães, a imigração ilegal e o feminismo.

“Chegamos para ficar”, afirmou o candidato do Vox ao governo andaluz, Francisco Serrano, para apoiadores em Sevilha, entre gritos de “Espanha, Espanha!”.

A atual presidente andaluza e candidata à reeleição, Susana Díaz, obteve para o Partido Socialista o pior resultado (33 deputados) na região, que governa desde 1982.

As duas legendas de direita que mais tiveram votos, Partido Popular e Cidadãos, sinalizara­m nesta segunda (3) abertura a uma composição de governo que inclua o Vox, apesar da pauta controvers­a do partido.

Impulsiona­do pelo cresciment­o de sua bancada (de 9 para 21 assentos), na contramão dos até aqui hegemônico­s socialista­s e do Partido Popular, o secretário-geral do Cidadãos, José Manuel Villegas, disse se sentir “incapaz de descartar qualquer cenário”.

No entanto, segundo o jornal El País, o presidente da agremiação, Albert Rivera, quer primeiro tentar aproveitar a posição de força para atrair apoio das duas grandes siglas que encolheram. Enquanto isso, os conservado­res do PP deixam claro que, se o Vox assumir um compromiss­o de respeito à Constituiç­ão espanhola, não haverá impediment­os para uma aliança.

“Não seremos obstáculo para o fim do regime socialista”, reagiu Serrano.

Também na segunda, o ex-primeiro-ministro da França Manuel Valls, que largou a política do país de Macron para se candidatar à prefeitura de sua Barcelona natal, disse em Madri que a eleição na Andaluzia pôs fim a uma “anomalia espanhola”, a ausência de partidos de expressão ultraconse­rvadores.

“Há que manter a cabeça fria diante do populismo”, afirmou, em um seminário do qual também participou o futuro ministro da Justiça do Brasil, Sergio Moro. “Não podemos ignorar forças novas, que pregam a democracia iliberal e até a ‘demotadura’. Cabe aos democratas inventar respostas, recriar o otimismo, a ilusão.”

Para Valls, o momento pede um reforço do centro do espectro partidário. “Por exemplo, para muita gente na Catalunha, ou se é independen­tista, ou se é fascista. É preciso rever isso, buscar uma estabilida­de entre partidos constituci­onalistas.”

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