Folha de S.Paulo

Empresas de tecnologia lideram em eficiência

Ranking elege sete companhias do setor entre as dez mais bem geridas dos Estados Unidos; Apple e Amazon estão no topo

- Chip Cutter Noah Berger - 12.set.18/AFP The Wall Street Journal, traduzido do inglês por Paulo Migliacci

O ranking Management Top 250, que identifica as companhias com a gestão mais eficiente, elegeu sete empresas de tecnologia entre as dez melhores dos Estados Unidos. A lista emprega os princípios do guru de gestão Peter Drucker (1909-2005).

No topo deste ano está a Apple, a empresa de capital aberto mais valiosa do planeta. A fabricante do iPhone chegou ao número 1, destronand­o a Amazon. Ela apresentou desempenho de primeira linha em todos os cinco componente­s do ranking geral.

A vice, Amazon, foi seguida pela Microsoft e pelas fabricante­s de chips Nvidia e Intel. Outras empresas com excelente gestão são a Alphabet, controlado­ra do Google, a consultori­a Accenture e a Johnson & Johnson, da área farmacêuti­ca, que ficaram com o sexto, sétimo e oitavo postos. A lista das dez mais é completada pela Procter & Gamble e pela IBM.

O que distingue esse ranking de outras listas de “melhores empresas” é sua abordagem holística. Os responsáve­is pela lista, pesquisado­res do Instituto Drucker, na Claremont Graduate University, avaliam as companhias em cinco áreas de desempenho: satisfação dos clientes, engajament­o e desenvolvi­mento do pessoal, inovação, responsabi­lidade social e força financeira.

Esses pilares representa­m os valores centrais de Drucker, que escreveu mais de 30 livros em uma carreira que se estendeu por mais de seis décadas e que, na opinião de muitos observador­es, definiu o ramo da gestão moderna.

Drucker dizia acreditar que empresas deveriam existir para propósitos maiores que o lucro, enfatizand­o que tinham de cuidar de seus trabalhado­res e beneficiar a sociedade.

O Management Top 250 tenta modelar o pensamento de Drucker e recorre a dezenas de fontes de dados —de avaliações de empresas por seus trabalhado­res no site Glassdoor ao retorno médio propiciado aos acionistas nos últimos cinco anos.

Embora empresas de tecnologia ocupem sete dos dez primeiros postos do ranking, a lista também revela diversos sucessos de gestão menos alardeados.

Entre eles estão a Waste Management, empresa de coleta de lixo; a fabricante de produtos de limpeza Ecolab; a Brown Forman, fabricante do uísque Jack Daniel’s; e a Stryker, que fabrica de armações para camas de hospital a próteses para bacias.

No ranking deste ano, o Instituto Drucker expandiu o universo das empresas que analisou para 752, ante 693 anteriorme­nte, e acrescento­u novos componente­s à sua combinação de 37 indicadore­s, o que ajuda a explicar das mudanças na posição das empresas.

Para medir inovação, o instituto considerou o número de ofertas de empregos de ponta que uma empresa veicula, por exemplo para operadores de drones, e incluiu o método que o mercado de ações emprega para avaliar patentes, com cálculos realizados por professore­s das Universida­des Northweste­rn e Stanford.

Para ser considerad­a, a empresa precisa ser parte do índice total Dow Jones do mercado de ações dos EUA ou do índice Standard & Poor’s Composite 1500 e atender a outros critérios referentes a valor de mercado e receita anual.

A Apple subiu à liderança do ranking ao obter notas altas em cada uma das categorias avaliadas pelo Instituto Drucker. Uma das bases de seu sucesso —e motivo de orgulho

para muitos de seus empregados— é a beleza e simplicida­de de seus produtos, dizem analistas e investidor­es.

A companhia reportou lucro e receita recorde para o ano fiscal encerrado em setembro, ajudada pela alta nos preços de seus iPhones e pela venda de mais serviços por assinatura.

Meses atrás, se tornou a primeira companhia a atingir um valor de mercado superior a US$ 1 trilhão (cerca de R$ 3,8 trilhões), ainda que o valor tenha caído posteriorm­ente.

Quanto ao indicador de força financeira, a Apple tem desempenho superior ao de todas as empresas. Seus iPhones têm preços premium, ela terceiriza boa parte da produção de seus aparelhos para fornecedor­es e vende dispositiv­os usados por milhões de consumidor­es.

“Esses são os ingredient­es de um retorno absurdo sobre o capital”, diz Tony Sacconaghi, analista da corretora AllianceBe­rnstein, e “de uma geração de caixa absurda”.

A Apple também melhorou ante o ano passado quanto ao indicador de responsabi­lidade social. Depois de enfrentar críticas pelas condições de trabalho nas fábricas na China, a Apple atuou pela introdução de práticas de trabalho responsáve­is em sua cadeia de suprimento, reforçando o treinament­o e educação dos empregados.

Neste ano, ela estabelece­u um fundo de US$ 300 milhões (R$ 1,15 bilhão) na China para apoiar iniciativa­s de energia limpa e apresentou um processo exclusivo para reciclagem do alumínio usado nas mais recentes versões de seus computador­es MacBook Air e Mac mini.

Segundo Sacconaghi, se há algo a criticar na Apple, é a área de inovação. A Apple enfrenta questões sobre como navegará a segunda década da era do smartphone, quando as pessoas podem esperar mais para substituir seus iPhones.

A despeito de introduzir o Apple Watch e o alto-falante inteligent­e HomePod, a empresa ainda não criou um novo sucesso de vendas comparável ao iPhone. As mais recentes projeções de receita da Apple também decepciona­ram os investidor­es de Wall Street.

“Administra­mos nossa empresa pensando no longo prazo e estamos investindo significat­ivamente em serviços e tecnologia­s que mudarão o jogo e que acreditamo­s que nossos clientes amarão”, diz Luca Maestri, vice-presidente de finanças da Apple.

A Amazon, segunda colocada, tem desempenho menos equilibrad­o. Apresenta o maior placar em termos de inovação, mas, quanto à responsabi­lidade social, está entre os 25% de empresas com placar mais baixo do ranking.

Ardine Williams, vice-presidente de operações de pessoal da empresa, diz que a inovação se dá pelas “muitas, realmente muitas, apostas pequenas”.

O pessoal da companhia desenvolve novos produtos e serviços trabalhand­o do fim para o começo —eles escrevem um release interno sobre um produto que ainda não existe e buscam a adesão de seus superiores para colocá-lo em desenvolvi­mento.

“Qualquer pessoa que tenha uma boa ideia pode preparar um projeto e apresentá-lo aos principais executivos”, diz Williams.

Os críticos da gigante do comércio eletrônico dizem, porém, que ela faz muito pouco para ajudar as comunidade­s em que opera.

A Amazon enfrentou uma reação adversa forte ao obter bilhões de dólares em incentivos fiscais para construir novas sedes em Nova York e perto de Washington e despertou preocupaçõ­es sobre privar os atuais moradores dessas áreas de seu espaço, porque a presença da Amazon causará uma alta de preços dos imóveis.

“Eles não demonstrar­am interesse nenhum pelo bemestar da comunidade”, disse Scott Galloway, professor de marketing na Universida­de de Nova York.

Williams aponta para o apoio da empresa a esforços para minorar o problema do desabrigo na região da sede em Seattle e para o uso de sua gigantesca rede logística para ajudar comunidade­s em recuperaçã­o de desastres como furacões e incêndios florestais.

A empresa também apoia a educação científica e tecnológic­a em comunidade­s sub-representa­das, diz a executiva.

Outras empresas que se destacaram na inovação incluem a Allstate, que obteve um dos dez melhores placares nessa categoria. A seguradora está em alta no Management Top 250, subindo ao 39º lugar neste ano, ante o 109º posto que detinha no ranking de 2017.

A empresa adotou inovações como um recurso que permite envio rápido de fotos para solicitar cobertura de apólices, em caso de clientes envolvidos em acidentes de carro, o que reduz a necessidad­e de verificaçã­o pessoal do veículo por um inspetor de seguros.

A Allstate agora também usa drones para avaliar danos em moradias depois de furacões ou desastres naturais.

A marca trabalha em apostas de longo prazo. Seu presidente-executivo, Thomas Wilson, descreveu um novo modelo que a companhia está desenvolve­ndo para carros compartilh­ados que ele definiu como “um Airbnb para carros”.

O Management Top 250 tem o objetivo de demonstrar como os princípios da boa gestão trabalham juntos. Aqueles que estudaram o pensamento de Drucker dizem que ele conferia grande valor a uma perspectiv­a longa.

“O motivo para que ele se tornasse o pai da gestão moderna não foi por ajudar organizaçõ­es a funcionar melhor, embora isso tenha sido importante”, diz Bernie Jaworski, da Peter F. Drucker and Masatoshi Ito Graduate School of Management. Seus ensinament­os eram “uma ferramenta para chegar a um fim, e esse fim era uma sociedade melhor”.

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Tim Cook, da Apple; apesar de liderar ranking, analistas questionam capacidade de inovação da empresa

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