Ações chinesas de tecnologia enfrentam obstáculos políticos
Este pode se tornar o ano do primeiro grande confronto entre o setor mundial de tecnologia e os governos. Embora o Facebook e outras companhias dos Estados Unidos estejam enfrentando grandes problemas, é possível que na China as tensões tenham sido ainda mais fortes.
A mais recente vítima dos caprichos de Pequim é a Meitu, cujo aplicativo permite que seus 116 milhões de usuários retoquem selfies para que pareçam mais bonitos e mais magros em suas fotos.
Parece uma função inocente, mas a agência de proteção ao consumidor do governo chinês acusou a empresa de recolher dados financeiros e biométricos excessivos sobre seus usuários.
As ações da Meitu, cotadas na Bolsa de Hong Kong, caíram até 13% na sexta-feira (30), e a empresa declarou que “jamais recolheria informações excessivas ou abusaria de qualquer informação” sobre seus clientes.
Companhias de tecnologia em rápido crescimento estão enfrentando contestação governamental quanto à proteção da privacidade de seus usuários.
Nem mesmo as maiores empresas chinesas de tecnologia estão imunes. O preço das ações da Tencent, dona de várias marcas, incluindo de videogames, começou uma longa queda no segundo trimestre, depois que Pequim suspendeu a aprovação de novas licenças de jogos.
Os investidores esperavam que se tratasse apenas de um hiato, um sinal de ineficiência burocrática depois de uma reforma no governo.
Quanto mais tempo passa sem que novas autorizações sejam concedidas, mais parece que as preocupação do governo chinês sobre o vício em videogames são graves.
O fundador da ByteDance, um unicórnio com valor de mercado de US$ 75 bilhões (R$ 287 bilhões) que controla o Jinri Toutiao, um site agregador de notícias muito procurado, foi forçado a se desculpar em abril por não ter percebido que “a tecnologia precisa ser guiada pelos valores centrais do socialismo”, depois que outro de seus aplicativos foi acusado de veicular conteúdo “vulgar”.
Os caprichos do governo geram suspeitas quanto aos seus motivos. Sob o governo do dirigente Xi Jinping, a China recuou em direção ao estatismo.
Empresas privadas como a Meitu ou o Alibaba, a mais valiosa do país, que criaram grandes bancos de dados de informações sobre os consumidores, podem representar uma ameaça para um governo que encara o controle como necessidade primordial.
Isso também gera incerteza sobre o que realmente está acontecendo nas empresas.
Quando Jack Ma, 54, anunciou em setembro que pretendia renunciar à presidência-executiva do Alibaba Group em 2019, muita gente concluiu que ele devia ter se desentendido com Pequim. A revelação posterior de que Ma é membro do Partido Comunista complicou ainda mais o quadro.
O que isso tudo significa para os investidores? É notoriamente difícil calcular a influência política e regulatória sobre os preços das ações.
Ainda assim, a suposição é a de que qualquer empresa chinesa de tecnologia que esteja desfrutando de sucesso de qualquer ordem pode encontrar obstáculos políticos.
Isso pode significar forte redução do entusiasmo dos investidores, tanto por jogadores novos, como a ByteDance, quanto por veteranos à espera de recuperação, como a Tencent.