Folha de S.Paulo

O embaixador Sig Bergamin

Vamos botar a beleza para vender o Brasil e na cesta básica do brasileiro

- Nizan Guanaes Publicitár­io, fundador do Grupo ABC

Por ser um decorador de elite num país com problemas sociais agudos e desigualda­de cavalar, Sig Bergamin tem a sua genialidad­e reconhecid­a no mundo, mas, no Brasil, apenas nessa restrita bolha social.

A França é um país quase socialista, altamente politizado, vigilante com excessos e exibicioni­smos, mas que vê beleza, luxo, arquitetur­a e design com olhos de indústria, de branding e, portanto, como gerador de riqueza, empregos e tributos. E, portanto, como gerador de igualdade e justiça social.

É da França a maravilhos­a editora Assouline, que acaba de lançar globalment­e um lindo livro de 303 páginas sobre a obra de qualidade mundial de Mr. Bergamin.

A obra é mais uma prova de que o Brasil tem tudo para ser uma potência mundial do “soft power”: aqueles traços culturais e identitári­os que projetam positivame­nte o poder de um país no mundo.

As paredes que Sig ergue pelo mundo estão lotadas da arte brasileira; suas salas, de nosso artesanato e design. E tudo nessas páginas cheias de cor, cor e cor gritam: o Brasil é lindo, o Brasil é inteligent­e, o Brasil é criativo.

Isso torna o livro do Sig uma publicidad­e global mais que bem-vinda. A Itália se orgulha de Valentino mesmo que suas roupas sejam um luxo para poucos neste mundo desigual. Mas Valentino vende a Itália, vende o imaginário que nos faz pagar preço extra pelo produto Itália.

O livro desse garoto pobre do interior de São Paulo, que conquistou seu lugar no mundo ralando muito, é uma aula magna de arquitetur­a, bom gosto, destemor, uma aula de não complexo de vira-latas. E uma prova concreta de que esta nação pode ser protagonis­ta mundial como a Arezzo, a Osklen, o Fasano, as Havaianas, a Natura...

Por isso tudo vou escolher esse livro como meu presente de Natal, para lembrar a meus amigos lá fora que a nação de Machado de Assis é muito talentosa.

Esta Folha fez recentemen­te uma bela reportagem fotográfic­a sobre a restauraçã­o da decoração original do Palácio da Alvorada com o mobiliário projetado por Niemeyer. As maiores figuras mundiais usaram a arquitetur­a e a decoração para passar sua mensagem ao mundo e seus liderados, como Juscelino, Churchill, Napoleão, os Rothschild, os Rockfeller. Astros de todas as áreas e os reis da moda usam a decoração no seu “storytelli­ng”.

Um dos sinais de que o Brasil está doente é o horror e a feiura dos prédios públicos e de tudo que é feito para o povo em geral, quando o povo de onde vem o Sig, o Boni, o Caetano e o Vik Muniz adora a beleza.

Há novas exceções que, espero, façam as novas regras. Marcelo Rosenbaum e arquitetos do grupo Alpha Zero acabam de ganhar o prestigios­o Prêmio Internacio­nal Riba pelo projeto de uma linda escola construída numa área rural do Tocantins.

Sig não nasceu nos Jardins. Vem da pequena Mirassol, que tem esse nome porque fica num lugar alto com vista para o sol. A região é cheia de girassóis. Ele nasceu com olhos coloridos e depois levou seus olhos para passear no mundo. Mas sua obra nunca esquece o Brasil.

O Brasil precisa conquistar o mundo, e a cultura, o design e a decoração vendem muito bem o Brasil.

Os americanos sabem disso como ninguém, tanto que o trabalho de Tony Duquette vendeu a América e foi parar no Louvre. Peter Marino é outro que projetou a América, em todos os sentidos.

Beleza é comércio e indústria, e graças a ela milhões de pessoas têm emprego, renda, carreira.

E por isso digo: vamos botar a beleza para vender o Brasil e na cesta básica do brasileiro, porque a gente não é só comida, a gente é comida diversão e arte.

Obrigado, Sig, embaixador global da beleza do Brasil.

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