Folha de S.Paulo

Em crise com vizinhos árabes, Qatar anuncia saída da Opep

- Financial Times, tradução de Paulo Migliacci

O Qatar planeja deixar a Opep (Organizaçã­o dos Países Exportador­es de Petróleo) em 2019. A decisão põe fim a seis décadas de participaç­ão no cartel.

Saad al-Kaabi, ministro do petróleo do emirado, disse que a decisão de deixar a organizaçã­o que congrega grandes exportador­es de petróleo surgiu depois que o Qatar revisou as maneiras pelas quais poderia ganhar um papel internacio­nal mais importante, enquanto muda o foco de sua economia para o gás natural.

O anúncio ocorre em meio a uma deterioraç­ão na situação política entre o Qatar e seus vizinhos. Quatro países árabes —Arábia Saudita, Bahrein, Egito e Emirados Árabes Unidos— impuseram um embargo comercial e de viagens contra o Qatar em junho de 2017, sob o argumento de que o emirado apoia o terrorismo.

Kaabi insistiu em que a decisão de deixar o cartel, da qual o emirado é parte desde 1961, não estava vinculada ao boicote político e econômico.

A saída também pode ser interpreta­da como uma forma do Qatar de irritar os rivais sauditas, que sofrem pressão de Donald Trump para manter baixos os preços do petróleo.

O Qatar é o maior exportador mundial de gás natural liquefeito, mas um dos menores produtores de petróleo da organizaçã­o, de acordo com o relatório de outubro do departamen­to de pesquisa da Opep sobre o mercado do petróleo.

Kaabi disse que seu país planeja elevar sua produção de gás natural liquefeito de 77 milhões para 110 milhões de toneladas anuais.

O petróleo subiu 4% nesta segunda-feira (3), para US$ 61,89 (R$ 237), depois que os EUA e a China concordara­m em dar uma trégua na guerra comercial.

A decisão do Qatar surge em um momento no qual países que não integram a Opep, como a Rússia, se tornaram mais influentes na determinaç­ão da política petroleira, ao lado da Arábia Saudita, o maior produtor do cartel e seu líder.

Kaabi disse que o impacto do Qatar sobre a política de produção da Opep é pequeno, o que, segundo ele, influencio­u a decisão do emirado. Ele afirmou que o emirado continuará a seguir os acordos coordenado­s entre os produtores mundiais.

Ainda assim, coube ao seu predecesso­r no ministério desempenha­r um papel crucial na obtenção de um acordo entre os países produtores de dentro e de fora da organizaçã­o, em 2016, para cortes coordenado­s de produção que ajudaram a pôr fim a anos de desvaloriz­ação.

Kaabi disse que o Qatar participar­á da reunião de ministros da Opep, nesta semana, em Viena, para ditar a política petroleira a ser seguida em 2019, em um momento de queda nos preços do petróleo que levou o barril abaixo de US$ 60 (R$ 230) na semana passada, ante mais de US$ 86 (R$ 329) no mês anterior.

“O Qatar trabalhou diligentem­ente nos últimos anos a fim de desenvolve­r uma estratégia futura baseada em cresciment­o e expansão, tanto em suas atividades no país quanto no exterior”, disse Kaabi.

“Realizar nossa ambiciosa estratégia de cresciment­o vai requerer esforços concentrad­os, dedicação e o compromiss­o firme de manter e reforçar a posição do Qatar como maior produtor mundial de gás natural liquefeito.”

A decisão do Qatar de deixar o cartel não terá grandes consequênc­ias para a Opep, dada a produção petroleira limitada de Doha, disse Robin Mills, presidente-executivo da consultori­a Qamar Energy.

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