Em crise com vizinhos árabes, Qatar anuncia saída da Opep
O Qatar planeja deixar a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) em 2019. A decisão põe fim a seis décadas de participação no cartel.
Saad al-Kaabi, ministro do petróleo do emirado, disse que a decisão de deixar a organização que congrega grandes exportadores de petróleo surgiu depois que o Qatar revisou as maneiras pelas quais poderia ganhar um papel internacional mais importante, enquanto muda o foco de sua economia para o gás natural.
O anúncio ocorre em meio a uma deterioração na situação política entre o Qatar e seus vizinhos. Quatro países árabes —Arábia Saudita, Bahrein, Egito e Emirados Árabes Unidos— impuseram um embargo comercial e de viagens contra o Qatar em junho de 2017, sob o argumento de que o emirado apoia o terrorismo.
Kaabi insistiu em que a decisão de deixar o cartel, da qual o emirado é parte desde 1961, não estava vinculada ao boicote político e econômico.
A saída também pode ser interpretada como uma forma do Qatar de irritar os rivais sauditas, que sofrem pressão de Donald Trump para manter baixos os preços do petróleo.
O Qatar é o maior exportador mundial de gás natural liquefeito, mas um dos menores produtores de petróleo da organização, de acordo com o relatório de outubro do departamento de pesquisa da Opep sobre o mercado do petróleo.
Kaabi disse que seu país planeja elevar sua produção de gás natural liquefeito de 77 milhões para 110 milhões de toneladas anuais.
O petróleo subiu 4% nesta segunda-feira (3), para US$ 61,89 (R$ 237), depois que os EUA e a China concordaram em dar uma trégua na guerra comercial.
A decisão do Qatar surge em um momento no qual países que não integram a Opep, como a Rússia, se tornaram mais influentes na determinação da política petroleira, ao lado da Arábia Saudita, o maior produtor do cartel e seu líder.
Kaabi disse que o impacto do Qatar sobre a política de produção da Opep é pequeno, o que, segundo ele, influenciou a decisão do emirado. Ele afirmou que o emirado continuará a seguir os acordos coordenados entre os produtores mundiais.
Ainda assim, coube ao seu predecessor no ministério desempenhar um papel crucial na obtenção de um acordo entre os países produtores de dentro e de fora da organização, em 2016, para cortes coordenados de produção que ajudaram a pôr fim a anos de desvalorização.
Kaabi disse que o Qatar participará da reunião de ministros da Opep, nesta semana, em Viena, para ditar a política petroleira a ser seguida em 2019, em um momento de queda nos preços do petróleo que levou o barril abaixo de US$ 60 (R$ 230) na semana passada, ante mais de US$ 86 (R$ 329) no mês anterior.
“O Qatar trabalhou diligentemente nos últimos anos a fim de desenvolver uma estratégia futura baseada em crescimento e expansão, tanto em suas atividades no país quanto no exterior”, disse Kaabi.
“Realizar nossa ambiciosa estratégia de crescimento vai requerer esforços concentrados, dedicação e o compromisso firme de manter e reforçar a posição do Qatar como maior produtor mundial de gás natural liquefeito.”
A decisão do Qatar de deixar o cartel não terá grandes consequências para a Opep, dada a produção petroleira limitada de Doha, disse Robin Mills, presidente-executivo da consultoria Qamar Energy.