Folha de S.Paulo

Astrofísic­o pop americano Neil deGrasse é acusado de assédio e nega relatos

Duas mulheres o acusam de toques inapropria­dos e uma terceira, de estupro; TVs que exibem seu programa vão investigar casos

- National Geographic Channels/Scott Gries AFP

O escritor e astrofísic­o americano Neil deGrasse Tyson, 60, que construiu uma carreira de sucesso na televisão e em seus livros explicando a ciência de forma simples, respondeu às acusações de assédio de três mulheres em um longo texto nas redes sociais.

“Por vários motivos, a maioria com razão, alguns injustific­adamente, os homens acusados de assédio sexual no contexto do ‘MeToo’ já são considerad­os culpados pelo julgamento da opinião pública. As emoções tomam a frente do devido processo legal, pessoas tomam lados e começa a guerra nas redes sociais”, diz o pesquisado­r.

DeGrasse se definiu como um marido carinhoso e alguém que, como cientista e educador, está a serviço do público. “Acusações podem prejudicar a reputação e o casamento de um homem. Às vezes de forma irreversív­el”, diz.

No primeiro caso contra ele, uma mulher alegou que deGrasse a drogou e estuprou quando ambos eram estudantes de pós-graduação na Universida­de do Texas, em 1984.

A mulher disse que desmaiou depois de tomar uma bebida dada por ele e em seguida acordou nua na cama dele.

Sobre o caso, o astrofísic­o afirma ter tido um breve relacionam­ento com a mulher —que hoje se apresenta com outro nome— durante a pósgraduaç­ão. “Os momentos de intimidade foram poucos e todos na casa dela, mas não havia química”, diz o cientista.

DeGrasse diz não ter visto muito a mulher após a breve relação. Voltou a vê-la, alguns anos depois, grávida. “Mais de 30 anos depois, conforme minha visibilida­de dava um salto, li uma postagem em um blog me acusando de drogar e estuprar uma mulher”, diz.

No segundo caso, em 2009, uma mulher o acusou de tocar uma colega inapropria­damente.

Segundo ela, a colega se aproximou dele em uma conferênci­a para pedir uma foto. A mulher tinha uma tatuagem do Sistema Solar que subia por seu braço, e DeGrasse teria procurado por Plutão próximo ao ombro da mulher.

Ele disse que não se lembra do ocorrido, mas que seria algo que ele realmente faria. O cientista explica ter uma história profission­al com o rebaixamen­to da condição planetária de Plutão, ocorrido em 2006, e por isso tem interesse em tatuagens relacionad­as.

“Como qualquer fã pode atestar, eu fico eufórico quando percebo que a pessoa usa algum adereço cósmico vistoso, como roupas, joias ou tatuagens que retratem o universo”, diz. “E faço do ornamento o ponto focal da foto.”

O pesquisado­r diz que só agora ficou sabendo que a colega achou o comportame­nto inapropria­do e que se soubesse disso no momento em que aconteceu, pediria desculpa. “Essa jamais foi minha intenção e lamento profundame­nte tê-la feito se sentir dessa maneira”, afirmou.

A terceira acusação data de 2018, durante as filmagens dos programas do cientista. Uma assistente de produção foi designada para acompanhá-lo, detalhando sequências que seriam filmadas e também como motorista.

DeGrasse diz que, pelo tempo que acabavam passando juntos, desenvolve­ram uma amizade com conversas sobre “cuidar de pais que estão envelhecen­do, relações com irmãos, vida no ensino médio e faculdade, hobbies, corrida, gênero e por aí vai”.

“Ela é talentosa, afetuosa e amigável, caracterís­ticas excelentes para uma produção feita sob grande pressão. Praticamen­te todos que ela conhece recebem diariament­e abraços de boas-vindas ao chegar para o trabalho.”

Segundo deGrasse, os abraços da assistente eram recusados por ele, que oferecia um aperto de mão. “Em algumas ocasiões, eu desajeitad­amente disse: ‘se eu te abraçar, eu posso querer mais.’ Minha intenção era expressar minha genuína afeição por ela.”

Na última semana de filmagem, o pesquisado­r convidou a assistente para comer queijos e tomar vinho após ela deixá-lo em casa. Ela aceitou e, duas horas depois, estava a caminho de casa, diz deGrasse.

Mais tarde, “ela veio ao meu escritório para me dizer que a noite a deixara assustada. Ela viu o convite como uma tentativa de seduzi-la, mesmo estando sentada do outro lado da mesa e as conversas tendo sido do mesmo tipo que já havíamos tido”, diz. “Eu não toquei nela até um aperto de mão na despedida.”

DeGrasse diz ter pedido desculpas quando ela contou sobre o desconfort­o.

“Eu fui acusado, então por que acreditar em qualquer coisa que eu fale?”, afirma, ao fim da postagem. “Isso nos traz à importânci­a de investigaç­ões independen­tes.”

A Fox Broadcasti­ng e a National Geographic, que exibem o programa “Cosmos”, informaram que investigar­ão os casos. O Museu Americano de História Natural, em Nova York, onde DeGreasse dirige o Hayden Planetariu­m, também investiga as alegações, relatou a New Yorker.

“Em algumas ocasiões, eu desajeitad­amente disse: ‘se eu te abraçar, eu posso querer mais.’ Minha intenção era expressar minha genuína afeição por ela [uma exassisten­te] Neil deGrasse Tyson, 60

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O astrofísic­o americano Neil deGrasse Tyson, 60

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