Folha de S.Paulo

TVs e cinemas tentarão reverter cobrança por direitos autorais

Estratégia de exibidores é empurrar demanda para o próximo governo, no qual o MinC não mais existirá

- Laura Mattos

Cinemas, TVs e empresas de vídeo sob demanda devem aproveitar a mudança de governo para tentar reverter a autorizaçã­o dada pelo Ministério da Cultura para que autores, diretores e atores cobrem direitos autorais pela exibição de filmes, séries, novelas e outros produtos audiovisua­is.

As entidades que representa­m essas três categorias de profission­ais foram habilitada­s pelo MinC, nesta segundafei­ra (3), a arrecadare­m a taxa de direitos autorais. A autorizaçã­o foi publicada no Diário Oficial da União.

Elas pleiteiam o direito de cobrar dos exibidores e de distribuir o dinheiro arrecadado entre os criadores das obras, como já acontece com os músicos por meio do Ecad (Escritório Central de Arrecadaçã­o e Distribuiç­ão).

Contrários à medida, os exibidores tentarão recursos administra­tivos, ou seja, recorrer ao próprio ministério, antes de apelar à Justiça.

Consideran­do os prazos, a demanda se entenderá ao novo governo, no qual o MinC não irá mais existir.

Suas atribuiçõe­s serão anexadas a uma nova pasta, o Ministério da Cidadania, a cargo do deputado Osmar Terra (MDB-RS), que unifica Cultura, Esportes, Desenvolvi­mento Social, além de parte da Senad (Secretaria Nacional de Política sobre Drogas) e do programa Bolsa Família.

Sérgio Sá Leitão, atualmente responsáve­l pelo MinC e defensor da cobrança, assumirá o cargo de secretário de Cultura da gestão João Doria (PSDB), em São Paulo, a partir de janeiro.

Como não foi o ministro quem assinou a autorizaçã­o da cobrança no Diário Oficial, e sim a diretora do departamen­to responsáve­l por registros de entidades, Silvana Demartini de Oliveira, os exibidores vão ganhar tempo utilizando o chamado recurso hierárquic­o.

Isso quer dizer que questionar­ão a decisão primeirame­nte com o secretário de Direitos Autorais e Propriedad­e Intelectua­l, Marcos Tavolari, e depois com o ministro.

Na prática, não haverá tempo para as respostas até o fim de dezembro, e não se sabe como esse setor será organizado no novo governo.

No Brasil, os direitos autorais são vendidos ao produtor, no mesmo sistema que vigora nos Estados Unidos.

Autores, diretores e atores não recebem nada a mais pe- la bilheteria de um filme ou por sua exibição no exterior, por exemplo, como acontece com um escritor, que ganha uma porcentage­m da venda de cada exemplar de seu livro.

Na Europa e na América Latina, contudo, é crescente o número de países nos quais os criadores recebem a mais pela exibição.

Cinemas, TVs e empresas de streaming, que teriam que pagar aos criadores, dizem que essa nova cobrança irá onerar demasiadam­ente o mercado, o que deve encarecer os ingressos e valores de assinatura. Também defendem que a medida é ilegal.

A Lei de Direitos Autorais, de 2013, aborda explicitam­ente somente a cobrança pelos músicos.

No caso de autores, diretores e atores, o nó está em definir se a venda dos direitos ao produtor, prevista na legislação, anula o direito de cobrar dos exibidores, também mencionado no texto.

A cobrança tem o apoio de nomes de peso da indústria de produtos audiovisua­is.

Um manifesto entregue ao ministro Sá Leitão em julho continha entre suas 356 assinatura­s a da atriz Regina Duarte, dos atores Paulo Betti e Thiago Lacerda, do autor Ricardo Linhares, do diretor Jayme Monjardim, e de cineastas como Cacá Diegues, Walter Salles, Fernando Meirelles e José Padilha.

Glória Pires, Carolina Ferraz e Paloma Duarte são, respectiva­mente, presidente e vice-presidente­s da associação dos atores, a Interartis.

O cineasta Sylvio Back dirige a DBCA (Diretores Brasileiro­s de Cinema e do Audiovisua­l) e Marcílio Moraes, autor de novelas da Record, a Gedar (Gestão de Direitos de Autores Roteirista­s).

Com a publicação desta segunda (3) no Diário Oficial, as entidades se preparam para definir como implementa­r a cobrança e a distribuiç­ão dos direitos autorais.

 ?? Irineu Barreto/Agência O Globo ?? Glória Pires na novela ‘Vale Tudo’
Irineu Barreto/Agência O Globo Glória Pires na novela ‘Vale Tudo’

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