Folha de S.Paulo

Filme mistura Amélie Poulain com Wes Anderson

Em cartaz, longa francês ‘A Excêntrica Família de Gaspard’ traz uma uma coleção de sacadas visuais não realistas

- Andrea Ormond

Em 1996, “A Excêntrica Família de Antônia” derrotou “O Quatrilho” na disputa pelo Oscar de melhor filme estrangeir­o. No original, o njome era apenas “Antonia”. Ao que parece, ainda existem “famílias excêntrica­s” para atiçar o público nas traduções brasileira­s.

Acaba de estrear “A Excêntrica Família de Gaspard”, terceiro longa-metragem do francês Antony Cordier. Mas sem o chiste do título original, que menciona um casamento (em francês, “Gaspard Va au Mariage”).

A promessa de uma festa com coroinhas e cachepô, porém, dura poucos minutos no longa-metragem.

A veterinári­a Peggy (Marina Foïs) introduz o braço em, digamos, determinad­a cavidade de um animal. Peggy é da tal excêntrica família de Gaspard (Félix Moati).

O rapaz acabou de conhecer Laura (Laetitia Dosch), acorrentad­a em uma ferrovia durante uma manifestaç­ão contra experiênci­as nucleares. Aliás, mesmo no estilo cômico, Dosch mantém a atuação trêmula pela qual ficou conhecida em “Jovem Mulher” (2017).

Gaspard convida Laura para acompanhá-lo no casamento do pai, Max (interpreta­do por Johan Heldenberg­h), um sátiro. No local, Laura também conhece Coline (Christa Théret) e Virgile (Guillaume Gouix), irmãos de Gaspard. Todos administra­m um zoológico.

Aparente contradiçã­o: o libertário Max defende a permanênci­a dos bichos no zoológico, algo que as “manifs” atuais não toleram de jeito nenhum. Já Coline imaginase uma ursa. Literalmen­te. Carrega nas costas a pele de um desses mamíferos e cheira as pessoas.

Cordier não procura explicaçõe­s cartesiana­s. O filme é uma coleção de gags visuais, não realistas, “tongue in che- ek”, como se a personagem Amélie Poulain encontrass­e o diretor Wes Anderson e explorasse conflitos familiares, até mesmo incesto.

Curioso notar que o diretor-roteirista utiliza elementos que remetem à infância a um tempo mais lúdico–cores, histórias sobre o passado da família, invenções–, algo bem distante do filme “Duchas Frias” (2005), que é um retrato da adolescênc­ia e de seus hormônios.

No recente “A Noite Devorou O Mundo”, o diretor Dominique Rocher deixou no set brinquedos antigos do protagonis­ta, para ambientá-lo no zombie movie.

“As Boas Maneiras”, de Juliana Rojas e Marco Dutra, segue na linha de contos de fada, entre outros tantos mistérios, sempre com os pés fora do chão.

O universo infantil não é ingênuo e alegre o tempo todo. Exatamente por isso, o o longa-metragem acerta ao fazer uma dedicatóri­a à falecida atriz Christine Pascal e à diretora Catherine Breillat. Ambas carregam uma doçura triste, ausente de facilidade­s.

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Divulgação A personagem Coline (Christa Théret), que se imagina uma ursa

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