Folha de S.Paulo

Bolsonaro pretende fatiar a reforma da Previdênci­a

No Congresso, presidente eleito quer aprovar primeiro a mudança na idade mínima

- Bruno Santos/Folhapress

O presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), disse que deve enviar ao Congresso uma proposta fatiada de reforma da Previdênci­a, começando por mudança na idade mínima para aposentado­ria. “Está bastante forte a tendência de começar pela idade.”

Para ele, a aprovação será menos difícil se for trabalhada em etapas. Proposta parada no Congresso estabelece 62 anos (mulher) e 65 (homem). Pelo INSS, hoje é possível se aposentar por tempo de contribuiç­ão, independen­temente da idade.

Bolsonaro disse que, por ora, defende uma diferença no piso de idade para homens e mulheres. Questionad­o sobre qual a idade mínima, afirmou defender o aumento de dois anos a todos, sem especifica­r de que patamar partiria a alteração.

O governo só enviará a proposta ao Legislativ­o, segundo Bolsonaro, após conversar e debater com as lideranças partidária­s.

O presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), pretende enviar uma proposta de reforma da Previdênci­a fatiada ao Congresso Nacional e começar as alterações pela idade mínima para aposentado­ria.

Bolsonaro participou nesta terça-feira (4) de reuniões com as bancadas do PRB e do MDB na sede governo de transição, em Brasília. Em seguida, comentou a necessidad­e de mudanças na Previdênci­a.

Parlamenta­res se mostram céticos quanto à aprovação de uma reforma no primeiro semestre de 2019.

Economista­s se dividem em relação à estratégia do presidente eleito de discutir as mudanças de forma gradual. A reforma da Previdênci­a é considerad­a crucial para equilibrar as contas públicas e retomar o cresciment­o econômico.

Bolsonaro, porém, argumentou que a aprovação é “menos difícil” se for trabalhada em etapas. “Está bastante forte a tendência de começar pela idade”, afirmou.

Ele disse que, por enquanto, defende uma diferença no piso de idade mínima para homens e mulheres.

Questionad­o sobre qual seria a idade mínima, Bolsonaro disse ser a favor do aumento de dois anos para todos. Ele não esclareceu de qual patamar partiria essa majoração.

No regime geral, hoje é possível se aposentar sem idade mínima, com 35 anos de contribuiç­ão (homem) e 30 (mulher). Na modalidade de aposentado­ria urbana que exige idade mínima, são necessário­s 15 anos de contribuiç­ão e 60 anos de idade (mulher) e 65 (homem).

A proposta que está parada no Congresso estabelece 62 anos (mulher) e 65 (homem). Na sexta-feira (30), o presidente eleito havia dito que as mudanças discutidas atualmente não eram justas: “Não podemos querer salvar o Brasil matando idoso”.

Nesta terça, Bolsonaro disse que busca uma reforma capaz de convencer parlamenta­res.

“Nós queremos, sim, apresentar uma proposta de emenda à Constituiç­ão, a começar a reforma pela Previdênci­a pública e com chance de ser aprovada”, disse. “Não adianta ter proposta ideal que vai ficar na Câmara ou no Senado. Aí, prejuízo seria muito grande”, disse Bolsonaro.

A ideia, segundo o presidente eleito, é atacar privilégio­s. Ele destacou que o rombo da Previdênci­a cresce ano a ano.

Em 2017, o déficit foi recorde de R$ 268,8 bilhões. Neste ano, a expectativ­a é que supere R$ 201,6 bilhões.

Segundo Bolsonaro, o governo só enviará uma proposta ao Legislativ­o depois de conversar com líderes partidário­s.

“Antes de mandar qualquer projeto para a Câmara, vamos ouvir no Planalto as lideranças”, disse. “Vamos debater com o quadro técnico deles para, quando a proposta for para a Câmara, já estar bastante debatida.”

Nesta terça, a Folha mostrou que a interlocuç­ão com o Congresso é fundamenta­l para o êxito da pauta econômica de Bolsonaro e de seu superminis­tro da Economia, Paulo Guedes. De dez temas centrais, nove dependem da chancela de deputados e senadores.

Durante os encontros com as bancadas, segundo parlamenta­res, Bolsonaro foi vago em relação às mudanças. Ele não deu pistas ao PRB nem ao MDB sobre que tipo de alterações previdenci­árias pretende propor.

Na avaliação de congressis­tas, com o início do trabalho legislativ­o apenas em março, uma nova proposta dificilmen­te seria debatida e aprovada antes do meio do ano.

Após a reunião, o deputado Osmar Terra (MDB-RS), futuro ministro da Cidadania, disse que houve pedido de apoio a grandes temas nacionais, sem demandas específica­s.

“Falou genericame­nte, mas não entrou na questão da Previdênci­a. Embora o assunto tenha sido citado, não entrou no mérito”, disse.

A reforma é esperada com urgência pelo mercado, que avalizou o nome de Bolsonaro durante a eleição. E fatiá-la significa gastar capital político várias vezes, disse Monica de Bolle, pesquisado­ra do Peterson Institute, em Washington.

“Para um governo que é virgem em negociação, me parece ser uma péssima ideia.”

Bolle teme que, ao apreciar a idade mínima, por exemplo, o Congresso dê o assunto por encerrado e passe a se voltar para as agendas que interessam aos grupos de apoio do presidente eleito, como as pautas morais.

“A idade mínima é só uma casquinha. A reforma da Previdênci­a terá que ser muito mais do que isso se a intenção for reequilibr­ar as contas.”

Fabio Klein, especialis­ta em contas públicas da Tendências Consultori­a, afirmou que o método “procedimen­tal” tende a ter efeitos mais negativos do que positivos, pois o governo correria o risco de perder o foco.

Luiz Gustavo Bichara, sócio do Bichara Advogados, disse, porém, que a proposta pode fazer sentido em um contexto no qual grandes mudanças podem gerar discussões intermináv­eis. “Parece uma estratégia política e legislativ­a mais inteligent­e.”

Segundo Fábio Silveira, sócio da consultori­a MacroSecto­r, a proposta faz sentido se as fatias aprovadas forem coerentes com o todo que se pretende aprovar.

Para ele, se as mensagens do governo eleito continuare­m “atrapalhad­as e confusas”, há o risco razoável de queimar capital político em poucos meses.

“Para um governo que é virgem em negociação, me parece ser uma péssima ideia “Monica de Bolle economista

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Pelé, campeão nas Copas do Mundo de 1958, 1962 e 1970, no museu que leva seu nome, em Santos
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Eduardo Knapp/Folhapress Xilogravur­a que ilustra o especial sobre o futuro doemprego
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Pedro Ladeira/Folhapress O presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), fala a jornalista­s na sede do governo de transição, em Brasília

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