Folha de S.Paulo

Reforma não é matar velhinhos

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Já deveria ficar claro para o presidente eleito que o sucesso de sua administra­ção está intimament­e ligado à capacidade de aprovar em 2019 uma reforma da Previdênci­a. A repercussã­o na estabilida­de política é óbvia.

O sinal negativo no pregão desta terça-feira veio por meio da chamada curva de juros, a diferença entre as taxas dos títulos de curto prazo do Tesouro dos Estados Unidos, para dois anos, e os títulos de prazo mais longo, de dez anos.

Quando investidor­es estão receosos com o cenário econômico e buscam segurança, eles adquirem títulos de longo prazo, o que eleva os preços desses papéis e reduz seu rendimento. Os papéis se movimentam na direção contrária da taxa de juros: quando o preço sobe, os juros caem.

O rendimento dos títulos de dois anos do Tesouro tende

a acompanhar as taxas de juros de curto prazo fixadas pelo Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos); as duas coisas subiram neste ano.

Tipicament­e, quando uma economia vai bem, o rendimento dos títulos de longo prazo do Tesouro é mais alto que o de curto prazo, o que reflete as expectativ­as dos investidor­es de que nos anos seguintes haverá cresciment­o.

A diferença entre os rendimento­s dos títulos de dois e de dez anos caiu para menos de 0,12% —a menor marca desde a crise financeira de 2008.

Muitos analistas estimam que ela possa em breve cair para menos de zero, um fenômeno que o mercado conhece como inversão.

Esses jargões todos podem parecer relevantes apenas para os seguidores do mercado de títulos. Mas eles importam.

“Recessões são sempre precedidas por inversões, e por isso não se pode descartar a coisa dizendo que se trata apenas de algum analista maluco que gosta de prever o fim do mundo”, disse Vinay Pande, diretor de estratégia de operações no departamen­to de investimen­to da UBS Global Wealth Management.

Nos últimos 60 anos, todas as recessões foram precedidas por uma inversão na curva de juros, de acordo com estudo da unidade do Federal Reserve em San Francisco.

Inversões de curva “sinalizara­m corretamen­te todas as nove recessões desde 1955 e só falharam em um caso, na metade dos anos 1960, quando uma inversão foi seguida por uma desacelera­ção econômica, mas não por uma recessão oficial”, escreveram os pesquisado­res em março.

Isso não quer dizer que a próxima recessão seja iminente —pode demorar um ano ou dois para que um alerta de recessão na forma de inversão de curva se concretize.

Outros mercados também enviam sinais de que a economia mundial perde impulso. O preço do petróleo, por exemplo, acumula queda de cerca de 30% desde outubro. The New York Times, tradução de Paulo Migliacci

Leia mais nas págs. A14 e A18

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