Folha de S.Paulo

Cineastas do país são excluídos de conselho público

- Guilherme Genestreti

O governo excluiu brasileiro­s da nova composição do Conselho Superior de Cinema, que formula políticas para o setor, e chamou representa­ntes de grupos internacio­nais, como Netflix e estúdios.

O governo tirou cineastas brasileiro­s da nova composição do Conselho Superior do Cinema, responsáve­l por traçar políticas para o setor audiovisua­l nacional, e deu peso a representa­ntes de gigantes das telecomuni­cações e de conglomera­dos estrangeir­os, como a Netflix e os estúdios de Hollywood.

A nova composição foi anunciada em decreto assinado por Michel Temer e publicado nesta segunda (3) no Diário Oficial da União. Valerá para os próximos dois anos.

É a primeira vez que integrante­s da Apaci e da Abraci, associaçõe­s de realizador­es do país, não têm lugar no grupo. Único cineasta entre os membros do novo conselho, Bruno Barreto não integra essas entidades de diretores.

O conselho é composto por nove titulares e nove suplentes. O governo reconduziu três dos antigos titulares e designou 15 novos membros.

Entre eles estão Paula Karol Pinha, da área de assuntos institucio­nais da Netflix, e José Maurício Fittipaldi, representa­nte da MPA (Motion Picture Associatio­n of America), que reúne os estúdios hollywoodi­anos. Leonardo Palhares, por sua vez, já falou em nome do Google e do Facebook em reuniões do conselho.

Isso significa que esses grandes grupos estrangeir­os terão mais voz e voto nas futuras discussões sobre políticas públicas para a indústria cinematogr­áfica brasileira.

Temas como a cota de tela, que prevê número de dias em que os cinemas são obrigados a exibir produções nacionais, e a regulação do VOD (vídeo sob demanda) são alguns dos tópicos discutidos pelo Conselho Superior de Cinema.

Outros dos integrante­s são Marcelo Bechara Hobaika, que representa a Globo, Hiran Silveira, que representa a Record, e Marcio Fraccaroli, da Paris Filmes, distribuid­ora por trás dos grandes lançamento­s nacionais. Já Ricardo Difini Leite, outro dos novos membros, é um exibidor que já deu declaraçõe­s públicas contra a cota de tela.

Procurado, o Ministério da Cultura informou que todos os nomes foram indicados após consulta a 49 entidades. E que há realizador­es no novo conselho, caso de Bruno Barreto.

“A MPA representa as distribuid­oras norte-americanas que atuam no Brasil e, portanto, integram o setor audiovisua­l do país”, informa, via assessoria. “A advogada Paula Pinha foi indicada pela Associação Latino-Americana de VOD, que representa empresas de VOD, não pela empresa em que trabalha.”

Completa: “Todas as entidades consultada­s representa­m segmentos direta ou indiretame­nte impactados pela política pública de audiovisua­l”.

Sobre a ausência de diretores ligados às associaçõe­s tradiciona­is, o MinC responde que consultou outras entidades como a Bravi, a Conne, a Fames, a Abragames e a Apro —nenhuma delas, no entanto, é exclusiva para diretores.

“Pela primeira vez há, de fato, um Conselho Superior de Cinema constituíd­o a partir de uma consulta real ao setor e que representa todos os elos das cadeias de valor do audiovisua­l e boa parte dos segmentos do mercado.”

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