Folha de S.Paulo

Herdeiro da OAS paga R$ 29 milhões para sair da cadeia

Mata Pires Filho foi preso acusado de participar de esquema de desvio de dinheiro da Petros

- Wálter Nunes Divulgação

Cesar Mata Pires Filho, preso desde o dia 26 em Curitiba, pagou fiança estipulada pela juíza Gabriela Hardt. Ele é acusado pela Lava Jato de desvio de verbas em empreendim­ento na Bahia.

A defesa de César Mata Pires Filho, herdeiro da OAS, pagou, nesta terça (4), R$ 28,9 milhões da fiança estipulada como condição para a libertação do empreiteir­o, preso na carceragem da PF de Curitiba desde a madrugada do dia 26 de novembro.

O valor foi determinad­o pela juíza federal Gabriela Hardt, substituta de Sergio Moro na Lava Jato, que considerou que o montante equivale às vantagens indevidas distribuíd­as pela empreiteir­a durante a construção da Torre Pituba, sede da Petrobras na Bahia.

O herdeiro é acusado de participar de um esquema de fraude, superfatur­amento e desvio de verbas do empreendim­ento, que foi feito com dinheiro da Petros, fundo de pensão dos funcionári­os da Petrobras, e realizado pela OAS e Odebrecht.

A investigaç­ão avançou graças aos depoimento­s de exfuncioná­rios da controlado­ria da OAS, o departamen­to de propinas da empreiteir­a, que se tornaram delatores da Lava Jato. Segundo a PF, os contratos do empreendim­ento foram direcionad­os e superfatur­ados para que houvesse pagamento de R$ 68,3 milhões em vantagens indevidas.

Três dos ex-funcionári­os do departamen­to de propina da empreiteir­a afirmaram à Polícia Federal que César Mata Pires Filho sabia dos pagamentos de ilegais referentes à obra.

Os executivos que incriminar­am o empreiteir­o foram José Maria Linhares Neto, Ramilton Machado Júnior e Roberto Souza Cunha.

Linhares Neto, que foi responsáve­l pelo controle da distribuiç­ão do caixa dois da OAS, disse aos investigad­ores que a empreiteir­a se valia dos serviços de um doleiro para levantar recursos para a propina. Ao falar sobre a autorizaçã­o para esses pagamentos disse que “Leo Pinheiro e também Cesar Mata Pires Filho tinham ciência de que havia pagamentos de vantagem indevida na obra referida”.

Ramilton Machado Júnior relatou que em 2014 participou de uma reunião com Mata Pires Filho para resolver um impasse diante de um contrato fictício que seria feito para escoar propina para o PT.

Leo Pinheiro, então presidente da empresa, teria ordenado que fosse feito um contrato de fachada de R$ 1,6 milhão com uma empresa de Renato Duque, ex-diretor da Petrobras. Ramilton analisou a empresa de Duque e constatou que ela não executava nenhum contrato significat­ivo.

Isso junto ao fato de o dono da empresa ser um ex-dirigente da Petrobras significav­a alto risco de exposição para a OAS, segundo o executivo.

Diante do impasse foi convocada uma reunião entre Ramilton, Leo Pinheiro e Cesar Mata Pires Filho. O contrato com a empresa de Duque foi então assinado.

Situação parecida foi relatada por Roberto Cunha, que falou sobre o impasse quanto a um contrato fictício que seria feito com a empresa Mendes Pinto Empreendim­entos.

Ele e Ramilton considerar­am arriscado o negócio, pois o objeto do contrato seria muito frágil: estudo sobre a recuperaçã­o de uma área explorada por uma mineradora. A decisão de contratar a Mendes Pinto foi do herdeiro da OAS, segundo o depoente. “Elmar Varjão [diretor da OAS Nordeste] foi até Cesar Filho, que determinou que o contrato deveria ser feito”, disse.

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O herdeiro da OAS, César Mata Pires Filho, que foi alvo em fase da Lava Jato

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