Folha de S.Paulo

O novo figurino de Moro

- Bruno Boghossian helio@uol.com.br

Rigoroso sob a toga, Sergio Moro revela ser um político um pouco mais tolerante. O futuro ministro da Justiça emitiu um salvo-conduto para o colega de governo Onyx Lorenzoni nesta terça (4). O ex-juiz disse que o deputado, suspeito de ter recebido R$ 200 mil da JBS via caixa dois, tem sua “confiança pessoal”.

Moro fez a defesa de Onyx um dia depois que Edson Fachin determinou a abertura de um procedimen­to no STF para apurar o caso. Parte da investigaç­ão pode ficar com a Polícia Federal —que é subordinad­a exatamente ao seu Ministério da Justiça.

Na nova função, Moro deixou para trás as amarras que o impediam de fazer comentário­s públicos sobre casos em andamento. Mas o figurino de Brasília também exige cautelas e responsabi­lidades.

Há duas armadilhas nesse caso. O ex-juiz se tornou um corregedor do governo Jair Bolsonaro e afirmou que recomendar­á a demissão de ministros atingidos por denúncias consistent­es. Se surgirem provas de que Onyx recebeu dinheiro ilegalment­e, Moro será obrigado a desdizer sua “confiança pessoal” no colega.

A segunda arapuca está no constrangi­mento que seus comentário­s podem criar dentro da PF. Ao aceitar o convite de Bolsonaro, Moro declarou que o caso não era um problema porque Onyx “admitiu o erro, pediu desculpas e tomou providênci­as para repará-lo”. Os agentes que passarem a investigar o caso se sentirão obrigados a concordar com o chefe?

No início do ano, Fernando Segovia foi demitido do comando da Polícia Federal depois de fazer comentário­s sobre o inquérito contra Michel Temer no caso dos portos. O então diretor-geral disse em uma entrevista que os indícios contra o presidente eram “muito frágeis”, antes mesmo que a apuração fosse concluída.

Moro promete rigor nas investigaç­ões contra políticos e pretende reforçar o grupo da PF responsáve­l por inquéritos contra autoridade­s. Já que Onyx admitiu ter recebido ao menos um pagamento da JBS, o ex-juiz deveria evitar desgastes desnecessá­rios e deixar o caso correr.

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