Folha de S.Paulo

Um buraco de 1 bi e meio

- Ruy Castro

No Globo de segundafei­ra (3), o repórter Rafael Galdo somou os prejuízos aos cofres públicos do estado do Rio, levantados por 15 operações da Lava Jato no Rio desde 2016, e chegou à assombrosa quantia de R$ 1,5 bilhão. Este é o dinheiro que abasteceu as contas da quadrilha chefiada pelo ex-governador Sérgio Cabral e formada por seu ex-vice e sucessor, Luiz Fernando Pezão, secretário­s de governo, deputados estaduais, ministros de tribunais de contas e quem mais fosse necessário para manter o esquema funcionand­o com o que sobrasse da compra de casas de praia, joias, regabofes na Europa e outros artigos de primeira necessidad­e dessa turma.

Segundo o Ministério Público e a Polícia e a Justiça Federais, o pagamento de propinas a Cabral e asseclas envolveu saúde, educação, segurança, obras, transporte­s, abastecime­nto e até a escolha do Rio como sede da Olimpíada. Seguem-se a isto a lavagem de dinheiro, evasão de divisas e ocultação de bens —somente Cabral teria R$ 340 milhões no exterior.

Galdo calculou o quanto esse buraco de 1 bi e meio represento­u em termos de construção, manutenção ou reforma de hospitais nunca executadas e consultas, partos e cirurgias que não puderam ser feitos —e isso apenas na saúde. Estenda agora o que foi desviado dos professore­s, policiais e servidores públicos, e terá uma ideia das causas da degradação do estado. Esse rombo remete diretament­e ao dinheiro que deixou de circular nas ruas, às empresas que fecharam ou deixaram de ser abertas, aos negócios cancelados ou nunca realizados, às vagas abertas no mercado e jamais repostas. Mas o custo real da corrupção, maior que qualquer soma de dinheiro roubado, deveria ser calculado em fome, doença e morte.

Escrevi outro dia que Sérgio Cabral, condenado por enquanto a 197 anos de prisão, nunca mais poderia andar a pé por uma rua do Rio.

Mas, claro, posso estar enganado.

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