Folha de S.Paulo

May sofre revés no 1º dia de debate do ‘brexit’no Parlamento

- Associated Press e Reuters

A premiê britânica, Theresa May, sofreu nesta terça-feira (4) um revés histórico nos esforços para aprovar o acordo do “brexit”, a saída britânica da União Europeia.

Os parlamenta­res decidiram que o governo está em desacato e exigiram a divulgação da íntegra da avaliação legal feita pelo procurador-geral, George Cox, sobre o acordo fechado com os europeus.

A líder da Câmara dos Comuns do Reino Unido, Andrea Leadsom, disse que o governo acatará a decisão e publicará o documento nesta quarta (5).

Esta foi a primeira vez que um governo britânico foi alvo de uma moção de desacato. A medida vem já no primeiro dos cinco dias de intenso debate no Parlamento do país sobre o acordo. Na próxima terça-feira (11), o Parlamento britânico deve votar se aprova ou não o acordo fechado por May com líderes da UE para determinar como o Reino Unido deixará o bloco.

Os parlamenta­res aprovaram ainda uma emenda ao acordo que dá à Casa maior controle sobre os próximos passos do governo britânico caso o “brexit” seja rejeitado.

O secretário trabalhist­a do “brexit”, Keir Starmer, chamou a derrota de May de um “distintivo de vergonha” e afirmou que o governo perdeu a maioria e o respeito na Casa.

Starmer afirmou ainda que a moção teve enorme significad­o político e constituci­onal. “Nunca antes a Câmara dos Comuns decidiu que ministros estavam em desacato”, disse. “É triste que o governo tenha deixado chegar a isso, mas a oposição ficou sem opção além de avançar com esses procedimen­tos.”

Foram 311 votos a favor da moção e 293 contra. O Partido Unionista Democrátic­o da Irlanda do Norte (DUP), do qual May depende para obter maioria no Parlamento, votou a favor da moção, o que levantou dúvidas se a premiê conseguirá angariar a maioria das cadeiras no voto decisivo da próxima semana.

O pesquisado­r Alan Wager, do centro de estudos Changing Europe, disse que May perdeu o apoio de mais de cem parlamenta­res conservado­res e deve ter dificuldad­es para aprovar o texto final.

O procurador-geral argumentou que a publicação de sua avaliação na íntegra vai contra o interesse público.

Ele divulgou um resumo do documento e se dispôs a enfrentar sessão de perguntas na Câmara dos Comuns nesta segunda-feira (3). Não foi o suficiente para acalmar a oposição.

O governo tentou impedir a aprovação da moção colocando na pauta um pedido, derrotado por diferença de quatro votos, de uma emenda para levar a discussão para um comitê privilegia­do da Câmara dos Comuns.

A líder da Câmara escreveu uma carta para o comitê pedindo uma investigaç­ão sobre o voto, alegando que a ação dos trabalhist­as coloca em risco a capacidade do atual governo e seus sucessores de obter os melhores conselhos sobre o tema.

A premiê britânica afirmou aos parlamenta­res que o acordo assinado com a liderança europeia não é perfeito, mas que é o melhor possível para garantir a saída planejada do Reino Unido do bloco.

“Eu não digo que este acordo é perfeito. Ele nunca seria. Esta é a natureza da negociação”, afirmou May. “Nós não vamos unir nosso país se procurarmo­s uma relação que dá tudo para um lado e nada para o outro. Nós não devemos deixar que a busca pelo ‘brexit’ perfeito impeça um bom ‘brexit’ para o povo britânico.”

Na prática, a moção desta terça serviu para colocar ainda mais pressão sobre May.

A pesquisado­ra Catherine Haddon, do Instituto para o Governo, afirma que a oposição queria usar toda e qualquer oportunida­de para mostrar a instabilid­ade do governo. Ela considera que a moção foi uma exibição de força capaz de atrapalhar o voto da semana que vem e também as emendas que os parlamenta­res tentam incluir no texto-base do acordo.

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Henry Nicholls/Reuters A premiê britânica, Theresa May, sai de Downing Street, em Londres

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