Folha de S.Paulo

Família Batista fica fora do comando da JBS pela primeira vez na história

Gilberto Tomazoni, hoje diretor de operações, assumirá presidênci­a-executiva no lugar de Zé Mineiro

- Joana Cunha

Pouco mais de um ano após assumir a presidênci­a da JBS, o fundador da companhia, José Batista Sobrinho —conhecido como Zé Mineiro—, deixará o cargo. Gilberto Tomazoni, hoje diretor de operações da JBS, será o novo presidente-executivo global da empresa.

Zé Mineiro, 84, havia sido escolhido para o cargo pelo conselho de administra­ção da JBS em setembro de 2017 para substituir o filho Wesley Batista, que comandava o grupo, mas havia sido preso dias antes.

O anúncio da sucessão, feito nesta terça (4), é um marco porque é a primeira vez na história da JBS que o cargo será ocupado por um executivo que não é membro da família.

Zé Mineiro permanece como membro do conselho de administra­ção da empresa, posição que ocupa há mais de dez anos.

O novo presidente global da JBS assume com o discurso de que sua entrada representa um avanço na direção de melhores práticas de compliance (conformida­de com leis e regras de concorrênc­ia).

“Não sou a pessoa da JBS. Sou uma pessoa de mercado. Estou na JBS há seis anos, e tenho 36 de experiênci­a. O que está aí é fruto do que eu ajudei a construir”, disse à Folha.

No mês passado, a empresa divulgou resultado trimestral mais forte do que o esperado devido às operações de carne bovina no Brasil e nos EUA, elevando as ações da empresa em quase 8%.

A JBS vive um esforço para virar a página após as investigaç­ões envolvendo a família fundadora, dos irmãos Wesley e Joesley Batista, e diferentes empresas do conglomera­do do qual a JBS faz parte, em particular a holding J&F.

Embora esteja deixando para trás os escândalos de corrupção nos quais se envolveu Gilberto Tomazoni

Na JBS há seis anos, Tomazoni ingressou como presidente global do negócio de aves; comandou a formação da Seara Alimentos; em 2015, assumiu a presidênci­a global de operações e, desde 2017, é o COO (diretor de operações) global da JBS; desde 2013, preside o conselho da Pilgrim’s Pride Corporatio­n; antes disso, atuou por 27 anos na Sadia, de trainee a diretor-presidente, e foi vice-presidente da Bunge Alimentos por três anos durante os governos do PT e de Michel Temer, o novo governo do presidente eleito, Jair Bolsonaro, ainda terá ministros que carregam o nome da empresa em suspeitas de beneficiam­ento.

Nesta terça-feira, o ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), autorizou a abertura de investigaç­ão sobre supostos pagamentos de caixa dois eleitoral da JBS ao futuro ministro da Casa Civil de Bolsonaro, o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS).

Nomeada para o Ministério da Agricultur­a, Tereza Cristina também tem seu nome envolvido com a JBS. Quando ocupava uma secretaria do governo de Mato Grosso do Sul, ela concedeu incentivos tributário­s à JBS, para a qual também arrendava uma propriedad­e. Ela nega irregulari­dades.

Para Tomazoni, a JBS está em um processo de “evolução robusto”.

“O nosso programa de compliance interno é muito forte. Temos feito avanços importante­s no Brasil e no exterior. Temos sido elogiados e estamos muito bem avaliados pela transparên­cia. Estamos fazendo tudo que está no nosso controle para garantir que coisas desse tipo não aconteçam mais. Essa questão da colaboraçã­o [delação premiada] é no âmbito da J&F. Estamos fazendo tudo o que é correto e certo”, disse.

Além de “reforçar a imagem da empresa em reputação, compliance e governança”, Tomazoni afirma que “o foco é crescer em alimentos processado­s de marcas”.

“Temos um esforço com Plumrose, Seara e Pilgrim’s. Nós vamos crescer e, para isso, vamos continuar com um investimen­to muito forte em inovação e qualidade dos produtos”, afirmou o executivo.

Questionad­o sobre futuras aquisições, Tomazoni preferiu não comentar.

Leia mais sobre JBS na pág. A6

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