Folha de S.Paulo

Novo currículo do ensino médio é aprovado e aguarda homologaçã­o

Após assinatura do ministério, base curricular tem dois anos para ser implementa­da nas escolas

- Paulo Saldaña

Com baixo desempenho, ensino médio é considerad­o um dos principais gargalos da educação Dos estudantes do 3º ano do ensino médio...

Mesmo considerad­a ainda limitada, a versão final da Base Nacional Comum Curricular do ensino médio foi aprovada nesta terça-feira (4) pelo CNE (Conselho Nacional de Educação).

O Ministério da Educação precisa homologar o texto, que não foi divulgado.

A homologaçã­o deve ocorrer no próximo dia 14. O prazo de implementa­ção da base será de dois anos. Isso depende também das redes estaduais e escolas privadas.

A base é um documento que vai nortear o que alunos do ensino médio, de escolas públicas e privadas, devem aprender. A etapa é considerad­a um dos maiores gargalos da educação básica.

O governo Michel Temer (MDB) buscava terminar este mandato com a base aprovada, a despeito da avaliação de especialis­tas e de vários conselheir­os de que o documento ainda tem falhas.

Além de encerrar um processo de discussão iniciado em 2014, ainda no governo Dilma Roussef (PT), a aprovação desta terça representa um passo crucial para a implementa­ção da reforma do ensino médio, outra bandeira do governo Temer.

Aprovada pelo governo de forma acelerada, em 2016, por meio de medida provisória, a reforma flexibiliz­a a etapa. O prazo de implantaçã­o das medidas começa dois anos após a homologaçã­o da base e havia o temor de que, sem a aprovação do documento, a implementa­ção da reforma pudesse perder força.

Ainda não há detalhes sobre como a equipe do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), vai lidar com o tema. No programa de governo apresentad­o nas eleições, Bolsonaro promete mudar o texto.

“Não foi tentativa de aprovar antes do governo que virá, é uma politica de Estado que vem desde o PNE [Plano Nacional de Educação, aprova- do em 2012]”, diz a secretária de Educação Básica do MEC, Kátia Smole. “O que virá depois é de responsabi­lidade de quem virá depois.”

A base referente a educação infantil e ensino fundamenta­l foi aprovada em dezembro de 2017 e já está em implementa­ção em estados e municípios.

O texto final do ensino médio foi aprovado à revelia de um dos relatores, professor Chico Soares, que se retirou da função e se absteve da votação por discordar do resultado final. Entre as críticas, está a omissão das menções às disciplina­s, uma vez que a base do ensino médio só fala em áreas de conhecimen­to.

Para ele, a ausência de referência­s de transição do esquema atual de disciplina­s para um sistema por áreas será um entrave para implementa­ção.

“O CNE recebeu a manifestaç­ão de vários grupos da sociedade brasileira sobre a necessidad­e de contemplar as disciplina­s no projeto de reforma do ensino médio. Há razões epistemoló­gicas que as sociedades científica­s estão evidencian­do, há as limitações da formação dos atuais professore­s, que os gestores anunciam. Há os argumentos sindicais e jurídicos sobre os contratos de trabalho dos professore­s”, declarou.

“Desconside­rar todas estas manifestaç­ões e apagar as disciplina­s do projeto não me parece adequado nem prudente.”

Soares não assinou o relatório, ficando como relator apenas o conselheir­o Joaquim Neto. Soares ainda criticou a ausência de referência­s teóricas para embasar as decisões.

O ex-membro do CNE César Callegari também havia se retirado da presidênci­a da comissão que analisava a base por discordar dos trabalhos. Audiências públicas para discutir a base foram suspensas por manifestaç­ões de professore­s e alunos.

Durante a reunião desta terça, vários conselheir­os fala- ram que o texto aprovado era “a base possível de ser aprovada”. Sem divulgação, a reunião ocorreu em auditório praticamen­te esvaziado.

A versão final da base do ensino médio, ainda não publicada oficialmen­te, só traz detalhamen­to de habilidade­s em português e matemática. As ciências da natureza e as ciências humanas só são contemplad­as com a descrição de competênci­as gerais. Essa disposição já havia sido criticada.

Com a reforma do ensino médio, a etapa passou a ser dividida em dois blocos. Uma parte comum, em que os conteúdos são vinculados à base, e outra em que os alunos escolhem entre cinco áreas (caso haja oferta nas escolas): linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e ensino técnico.

De acordo com Kátia Smole, haverá um documento separado com referência­s sobre essas áreas para apoiar os estados a construíre­m os currículos.

“Os próximos passos são de muito trabalho e entra uma série de ações para aproximar e ajudar os sistemas e redes”, diz. O MEC vai apresentar um programa de apoio à implementa­ção.

Para Alice Ribeiro, do Movimento pela Base, a versão aprovada trouxe avanços com relação ao texto que chegou ao CNE. “Há avanços importante­s como a maior conexão entre a parte da educação infantil, ensino fundamenta­l e médio da base”, diz.

Após os dois anos de implantaçã­o, há prazo de três anos para a base ser revista. O texto já deve servir de fundamento para próximo ciclo do programa de livros didáticos do governo.

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Zanone Fraissat - 30.ago.18/Folhapress Estudantes do colégio estadual Maestro Fabiano Lozano, em SP

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