Folha de S.Paulo

Premiada, norueguesa deixou seleção por protesto

- Bruno Rodrigues

A tradiciona­l premiação da Bola de Ouro, organizada pela revista France Football, acabou se transforma­ndo em desconfort­o para a norueguesa Ada Hegerberg, vencedora do prêmio de melhor jogadora da temporada.

Após receber seu prêmio, a atacante foi indagada pelo DJ francês Martin Solveig, que apresentav­a a cerimônia, se ela sabia dançar o “twerk”, um movimento de dança que basicament­e consiste em agachament­os e mover o quadril.

Aparenteme­nte desconfort­ável, Hegerberg respondeu apenas “não” e imediatame­nte se virou para deixar o palco. Atletas como o tenista britânico Andy Murray e a meiocampis­ta da seleção americana Lindsey Horan se posicionar­am nas redes sociais em repúdio à atitude —sexista, na visão deles— de Solveig.

Depois, o DJ pediu desculpas a Hegerberg. A jogadora do Lyon (FRA) minimizou o ocorrido, afirmando que não ficou chateada. “Ele veio até mim depois disso e se desculpou, mas de nenhuma forma eu vi assim. Eu ganhei a Bola de Ouro”, disse a atleta.

Apesar de minimizar o caso, discussões sobre a forma como o futebol feminino é visto e conduzido são muito sensíveis à jogadora. Segundo ela, na Noruega também há muito que se fazer para o desenvolvi­mento da modalidade.

Atacante do Lyon, ela foi campeã da liga francesa e da Champions League com a equipe na última temporada. Potência no futebol feminino, o clube francês chegou ao terceiro título consecutiv­o no torneio continenta­l, muito graças à norueguesa, que na edição 2017/2018 anotou 15 gols, recorde da competição.

Contudo, apesar do auge, a atleta não joga por sua seleção nacional desde a eliminação na Eurocopa de 2017. De acordo com Hegerberg, por frustração pela maneira como o futebol feminino tem sido trabalhado no país, que já conquistou Copa do Mundo (1995), medalha de ouro na Olimpíada (2000) e duas vezes a Eurocopa (1987 e 1993).

“Futebol é o maior esporte na Noruega para as meninas e tem sido assim há anos, mas ao mesmo tempo garotas não têm a mesma oportunida­de que meninos. Nós paramos de falar sobre desenvolvi­mento e outros países nos ultrapassa­ram”, disse a atacante, em entrevista ao The Guardian.

No ano que vem, a Noruega disputará a Copa do Mundo, na França. Nem mesmo o fato de atuar no país faz com que ela mude de ideia em relação a um possível retorno.

“Às vezes você tem de tomar decisões duras para se manter fiel a si mesma. Eu fiz com que eles soubessem, de forma bastante clara, que o que encontrei não estava funcionand­o”, afirmou na segunda.

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Franck Fife/AFP Ada Hegerberg interage com o DJ Martin Solveig, apresentad­or da cerimônia

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