Folha de S.Paulo

Extensão de festa, novo disco alardeia profecias abstratas

- Alex Kidd

MÚSICA Pedra Preta **** * Artista: Teto Preto. Selo: MambaRec. Disponível nas plataforma­s de streaming Em seu disco de estreia, o grupo formado por Laura Diaz, Pedro Zopelar, Sávio de Queiroz, Loïc Koutana e William Bica tinha o desafio de capturar no estúdio a catarse que provoca nas pistas.

Lançado de forma independen­te pelo selo MambaRec, “Pedra Preta” funciona como uma extensão portátil da festa paulistana Mamba Negra, palco undergroun­d onde o grupo se formou.

“Não minto, eu me queria morta” são os versos que Angela Carneosso (persona encarnada pela artista paulistana Laura Diaz) usa para abrir a pista.

É a deixa para mais de seis minutos de sintetizad­ores e beats randômicos e pulsantes que guiam a primeira metade da obra. “Ita”, espécie de electropun­k, abusa dos versos abstratos e das vocalizaçõ­es de Diaz (embriagada em distorções lisérgicas). Em “Gasolina Aditivada”, Carneosso sugere a rebeldia: “Gasolina neles... gasolina neles!”.

Atordoado, o ouvinte ganha um alívio sonoro no lado B, em que os produtores lapidam arranjos mais sofisticad­os. “Bica” mescla disco com jazz, e “Pedra Preta” adiciona uma pitada de bossa nova aos timbres de teclados.

Em alguns momentos, a jam lembra as produções oitentista­s do produtor Lincoln Olivetti (1954-2015), que participou de faixas de artistas como Maria Bethânia, Lulu Santos, Baby do Brasil e Marina Lima.

No final da nervosa “Bate Mais”, a sensação é que “Pedra Preta” inova por costurar as inúmeras vertentes da música eletrônica.

Milimetric­amente dissecadas por Zopelar e Queiroz, as profecias abstratas escritas e personific­adas com furor por Laura Diaz ganham voz fora das pistas.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil