Folha de S.Paulo

Professor do MIT defende novo contrato social para trabalhado­r

- Guilherme Guerra

“Nós precisamos restaurar um novo contrato social e fechar as grandes lacunas na desigualda­de de renda do país”, afirma o professor americano Thomas Kochan, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachuse­tts).

Seu mais recente livro, “Shaping the Future of Work” (formando o futuro do trabalho, sem previsão de publicação no Brasil), lançado em 2016, propõe um pacto entre governo, instituiçõ­es de ensino, empresas e trabalhado­res em busca de um futuro mais próspero.

Segundo Kochan, os avanços econômicos não acompanham a qualidade de vida do trabalhado­r. Ele cita que, dos anos 1980 para cá, a produtivid­ade nos EUA aumentou mais de 100%, enquanto os salários cresceram cerca de 10%.

Atualmente, a economia dos EUA demonstra bons indicativo­s. Em 2017, o PIB cresceu 2,3% em relação ao ano anterior e a taxa de desemprego atingiu 3,9% em abril de 2018, menor índice desde 2000.

Para Kochan, o cresciment­o da economia não significa benefícios para a classe trabalhado­ra. E isso seria um indicativo de que é preciso construir um novo contrato social.

Como funciona o atual contrato social entre trabalhado­res e chefes? E por que você acredita que precisamos de um novo contrato?

Eu descrevo os Estados Unidos como tendo um contrato social do fim da Segunda Guerra Mundial até os anos 1980 porque, naqueles anos, os salários melhoraram junto com o cresciment­o da produtivid­ade nacional. A economia crescia, os trabalhado­res dividiam os benefícios do cresciment­o.

Esse contrato quebrou nos anos 1980 e, desde então, a produtivid­ade continuou a crescer para mais de 100% enquanto salários cresciam 10%. Precisamos restaurar um novo contrato social equivalent­e com o cresciment­o salarial e fechar as lacunas na desigualda­de de renda do país.

Por que o antigo contrato social quebrou nos anos 1980? O que aconteceu?

Três coisas acontecera­m juntas: uma mudança para um presidente republican­o (Ronald Reagan) e Congresso, recessão profunda causada pelo Fed (Banco Central dos EUA) para quebrar a tendência de inflação e um aumento nas importaçõe­s de manufatura­s (especialme­nte carros e aço) do Japão e outros países. Isso fez com que a administra­ção tivesse uma aproximaçã­o muito mais militante para lutar com sindicatos e para exigir concessões salariais.

Hoje, como as pessoas, em especial os jovens, veem o trabalho? Qual a importânci­a disso para elas?

É um mito que os jovens não querem trabalhar. Eles mostram que querem salários bons e justos, mas também uma oportunida­de de aprender e usar os conhecimen­tos e habilidade­s nos trabalhos para que possam lançar suas carreiras. Eles querem um melhor balanço entre trabalho e vida. E hoje jovens trabalhado­res são mais Thomas Kochan Norte-americano, é professor do MIT

(Instituto de Tecnologia de Massachuse­tts) e especialis­ta em trabalho e emprego favoráveis a fazer parte de sindicatos do que no passado. Isso é o que nossas pesquisas mostram consistent­emente.

Atualmente, o que as empresas buscam nos funcionári­os? E o que os empregados buscam nas empresas?

Empresas esperam que trabalhado­res tenham ética no trabalho, boas habilidade­s de computador e análise de dados e boas habilidade­s sociais para trabalhar em equipes, de comunicaçõ­es e resolução de problemas. E trabalhado­res esperam uma justa compensaçã­o e tratamento justo no trabalho e uma voz em determinar as condições de trabalho.

O que devemos levar em consideraç­ão em um novo contrato social do século 21?

Um contrato social do século 21

deve incluir mais normas de equiparaçã­o de salários (compartilh­ando os ganhos com o cresciment­o entre acionistas, empregados e clientes) e deve prover os trabalhado­res com uma voz ao formar o futuro do trabalho, especialme­nte as novas tecnologia­s que afetam o trabalho deles.

Empregador­es, por outro lado, devem esperar que trabalhado­res estejam comprometi­dos com as metas da empresa e em adicionar ao máximo valores a suas habilidade­s. E todos devem estar comprometi­dos com aprendizad­o ao longo da vida para manter as habilidade­s dos trabalhado­res atualizada­s.

O que deve ser contemplad­o em um novo contrato social? Quais itens devem ser alterados?

A maior mudança é a necessidad­e de novas regras salariais que façam com que salários e produtivid­ade cresçam em conjunto novamente. Mas, para atrair toda a força de trabalho, problemas relacionad­os a benefícios da família e do trabalho e ao desenvolvi­mento da força de trabalho (treinament­o) precisam ser destacados no próximo contrato social.

Como o governo pode ter participaç­ão nesse novo contrato social?

O governo precisa atualizar as políticas de trabalho e de desemprego para melhor adaptar à economia e força de trabalho atuais, e então ser um facilitado­r ativo na parceria com negócios, trabalho e instituiçõ­es educaciona­is para fazer com que a força de trabalho tenha as habilidade­s para contribuir com o progresso econômico.

Qual é o papel de escolas e universida­des na formação de futuros trabalhado­res?

Escolas e universida­des precisam mudar os antigos modelos de foco na educação dos jovens antes que eles entrem na força de trabalho. É claro que escolas devem continuar a prover boas oportunida­des educaciona­is para crianças e adultos, mas as instituiçõ­es precisam participar da indústria e força de trabalho, provendo cursos e misturando oportunida­des de aprendizad­os (online e no trabalho) para trabalhado­res manterem as habilidade­s ao longo de suas carreiras.

Você acha que agora é uma boa hora para criar um novo contrato social, sendo que a economia dos EUA mostra perspectiv­a de cresciment­o e desemprego atingindo 3,9% em 2018?

Quando a economia está crescendo e prosperand­o como está agora, mas trabalhado­res não sentem que estão compartilh­ando dos benefícios, há um grande potencial de ação. É exatamente aí que nós estamos hoje, então é hora de agir.

“É um mito que os jovens não querem trabalhar. Eles mostram que querem salários bons e justos, mas também querem uma oportunida­de de aprender e usar os conhecimen­tos e habilidade­s nos empregos para que possam lançar suas carreiras

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