Tecnologia faz surgir novas profissões na indústria
Senai aponta 30 ocupações que devem ser criadas em até 10 anos
Há dois anos, o tecnólogo em processamento de dados Vanderson de Moura Vauruk, 37, resolveu apostar em um negócio próprio. Com um sócio, montou a startup Hidrobytes para oferecer soluções em internet das coisas (IoT), ferramenta que conecta máquinas e as torna inteligentes. Profissionais como o empreendedor paranaense devem ser cada vez mais requisitados pelas empresas diante do uso intensivo de tecnologias digitais. A previsão do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) é que, em até dez anos, devem nascer pelo menos 30 novas profissões relacionadas à chamada indústria 4.0. Na lista de novos profissionais está o analista de internet das coisas, responsável por desenvolver sensores que conectam equipamentos e geram dados essenciais para tomada de decisão nas empresas. Até o momento, as pessoas que já trabalham com essa tecnologia, a maioria empreendedores, têm formação genérica na área de informática. Vauruk, por exemplo, trabalhou como desenvolvedor e arquiteto de software até encontrar o sócio, Marcos Nadolny, e decidir investir em IoT. “Estudos apontam que, até 2030, vamos ter dez dispositivos para cada ser humano conectado na internet. Imagine o tamanho desse mercado”, diz Vauruk. O segmento de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) deve ser um dos mais dinâmicos nos próximos anos, pois a indústria 4.0 dependerá do desenvolvimento de softwares e hardwares customizados conforme as necessidades das empresas. O trabalho do Senai aponta outras quatro novas profissões nessa área: especialista em big data, engenheiro de softwares, engenheiro de cibersegurança e analista de segurança e defesa digital.
OUTROS SEGMENTOS
Além da área de TIC, a previsão é que outros sete segmentos tenham seus processos transformados rapidamente pelas tecnologias digitais: automotivo, petróleo e gás, químico e petroquímico, alimentos e bebidas, máquinas e ferramentas, têxtil e vestuário e construção civil (veja as profissões de cada área no quadro ao lado). Na avaliação de Rafael Lucchesi, diretor-geral do Senai, é importante conhecer as tendências do mercado de trabalho para construir projetos de vida. Para ele, será possível encontrar uma profissão que case com o perfil pessoal diante do grande número de novos negócios e ocupações que devem surgir. “As tecnologias digitais vão criar uma miríade de novos negócios e transformar o mercado de trabalho. As pessoas que compreenderem melhor as tendências e se qualificarem para esse mundo profissional serão mais bem-sucedidas”, afirma. Segundo Lucchesi, o profissional do futuro terá, principalmente, o desafio do aprendizado permanente, já que as tecnologias estão em constante mutação e de forma rápida. “As pessoas terão um processo contínuo de aprendizado ao longo da vida; vão precisar se requalificar permanentemente para adquirir novas competências.” A qualificação dos trabalhadores é fundamental para a implantação da indústria 4.0, concorda o engenheiro Domingos Moreira Cordeiro, diretor industrial da 3A Alumínio Indústria e Comércio, fábrica de esquadrias localizada em Taboão da Serra (SP). A empresa iniciou, em julho, o processo de digitalização da sua linha de produção com consultoria do Senai. “É muito importante requalificar os trabalhadores porque estamos trabalhando com novas tecnologias. Se não tivermos mão de obra preparada, vamos ter muita dificuldade de implantação da indústria 4.0”, diz. Ana Carolina de Moraes Baia, 16, já se prepara para o mercado de trabalho do futuro. Aluna do curso técnico de Redes de Computadores no Senai em Taguatinga (DF), ela acredita que a formação irá ajudá-la a ter uma carreira de sucesso. “É um mercado promissor que só tem a crescer. Hoje, já existe uma demanda grande de profissionais com qualificação. Imagina no futuro!”, observa a estudante.
METODOLOGIA INOVADORA
O trabalho de mapeamento das 30 profissões da Indústria 4.0 foi feito a partir do Modelo Senai de Prospecção, metodologia que permite prever quais tecnologias serão utilizadas no ambiente de trabalho em um horizonte de cinco a dez anos. O método já foi transferido a instituições de mais de 20 países na América do Sul e no Caribe. A metodologia foi apontada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) como exemplo de experiência bem-sucedida na identificação da formação profissional alinhada às necessidades futuras das empresas. A previsão é feita a partir da aplicação de um painel com cerca de 20 especialistas (representantes de empresas, sindicatos de trabalhadores e universidades) por setor estudado.
As pessoas que compreenderem melhor as tendências e se qualificarem para esse novo mundo profissional serão mais bem-sucedidas Rafael Lucchesi, diretor-geral do Senai