Na relação entre Brasil e EUA, ‘o céu é o limite’, diz futuro chanceler
Apoio à entrada do Brasil na OCDE e acordo de bitributação são prioridades, afirma Ernesto Araújo
“‘The sky is the limit’ [o céu é o limite] para a relação bilateral entre o Brasil e os Estados Unidos” durante o governo do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL).
Foi assim que o embaixador Ernesto Araújo, indicado a ministro das Relações Exteriores, descreveu as perspectivas para o relacionamento entre os dois países, durante reunião do conselho empresarial Brasil-Estados Unidos, promovido pela CNI e pela US Chamber of Commerce.
Em seu primeiro evento público após sua nomeação ser anunciada, Araújo afirmou que o encontro entre Bolsonaro e John Bolton, assessor de segurança nacional dos EUA, deixa claro que “há um salto qualitativo [nas relações] e isso permitirá fazermos coisas que seriam impensáveis.”
Para Araújo, por anos houve teto para o avanço na relação Brasil-EUA, por causa da “ausência de uma visão de mundo comum entre os governos brasileiro e americano”.
“Pela primeira vez em muitas gerações, talvez desde o tempo do barão do Rio Branco, o grande momento em que o Brasil sonhou em ter uma relação especial, uma aliança com os EUA, temos a oportunidade de construir a relação a partir de uma visão de mundo comum”, disse. “Hoje vamos além de uma comunidade formal de valores, de democracia, para uma comunidade de sentimentos.”
Entre as prioridades, Araújo citou o apoio dos EUA para a adesão do Brasil à OCDE —os americanos vinham bloqueando a candidatura brasileira— e um acordo para eliminar a bitributação, que vem sendo negociado há décadas.
“Queremos lançar logo no começo da administração muitas coisas que possam dar resultados concretos em pouco tempo”, afirmou à plateia composta por empresários dos dois países. “Se tivermos o apoio americano para entrar na OCDE, será fantástico, essa continua sendo uma enorme prioridade, ajudaria a criar um novo paradigma de negócios no Brasil.”
O futuro chanceler afirmou que o governo estará particularmente atento às demandas do empresariado. “A agenda que Abijaodi mencionou é a nossa agenda”, disse, referindo-se a Carlos Eduardo Abijaodi, diretor de desenvolvimento industrial da CNI.
Abijaodi listou entre as prioridades de curto prazo um acordo de salvaguardas tecnológicas, que permitiria o “aluguel” da base de Alcântara, a aprovação do Global Entry, que facilita a entrada nos EUA de passageiros pré-aprovados, e a adesão à OCDE. Entre as metas de médio e longo prazo estariam um acordo para eliminar a bitributação, um acordo de investimentos e um de livre comércio.
Também presente no evento, Landon Loomis, assessor especial para hemisfério ocidental do vice-presidente dos EUA, Mike Pence, afirmou que o presidente Donald Trump fez questão de ser um dos primeiros líderes a felicitar Bolsonaro por sua vitória. “Há um esforço consciente do governo americano, vindo do topo da hierarquia, para se aproximar do Brasil”, disse. “A eleição de Bolsonaro traz alguém disposto a ser parceiro.”
Araújo afirmou que a equipe de Bolsonaro vê a inserção do país no mundo de uma maneira estratégica, semelhante à abordagem de Trump.
O futuro chanceler afirmou que o Itamaraty terá cooperação com a área econômica para uma agenda de competitividade. “Hoje o dinamismo no mundo está nas relações bilaterais e nós precisamos nos adaptar a isso; toda nossa mecânica negociadora está demasiadamente adaptada aos anos 90, às vezes eu olho a nossa estratégia negociadora e parece que eu vou ver um filme de Tom Hanks e Meg Ryan.” Segundo Araújo, Bolsonaro é um nome catalisador de mudança “a partir do sentimento patriótico”.