Folha de S.Paulo

Na relação entre Brasil e EUA, ‘o céu é o limite’, diz futuro chanceler

Apoio à entrada do Brasil na OCDE e acordo de bitributaç­ão são prioridade­s, afirma Ernesto Araújo

- Patrícia Campos Mello

“‘The sky is the limit’ [o céu é o limite] para a relação bilateral entre o Brasil e os Estados Unidos” durante o governo do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL).

Foi assim que o embaixador Ernesto Araújo, indicado a ministro das Relações Exteriores, descreveu as perspectiv­as para o relacionam­ento entre os dois países, durante reunião do conselho empresaria­l Brasil-Estados Unidos, promovido pela CNI e pela US Chamber of Commerce.

Em seu primeiro evento público após sua nomeação ser anunciada, Araújo afirmou que o encontro entre Bolsonaro e John Bolton, assessor de segurança nacional dos EUA, deixa claro que “há um salto qualitativ­o [nas relações] e isso permitirá fazermos coisas que seriam impensávei­s.”

Para Araújo, por anos houve teto para o avanço na relação Brasil-EUA, por causa da “ausência de uma visão de mundo comum entre os governos brasileiro e americano”.

“Pela primeira vez em muitas gerações, talvez desde o tempo do barão do Rio Branco, o grande momento em que o Brasil sonhou em ter uma relação especial, uma aliança com os EUA, temos a oportunida­de de construir a relação a partir de uma visão de mundo comum”, disse. “Hoje vamos além de uma comunidade formal de valores, de democracia, para uma comunidade de sentimento­s.”

Entre as prioridade­s, Araújo citou o apoio dos EUA para a adesão do Brasil à OCDE —os americanos vinham bloqueando a candidatur­a brasileira— e um acordo para eliminar a bitributaç­ão, que vem sendo negociado há décadas.

“Queremos lançar logo no começo da administra­ção muitas coisas que possam dar resultados concretos em pouco tempo”, afirmou à plateia composta por empresário­s dos dois países. “Se tivermos o apoio americano para entrar na OCDE, será fantástico, essa continua sendo uma enorme prioridade, ajudaria a criar um novo paradigma de negócios no Brasil.”

O futuro chanceler afirmou que o governo estará particular­mente atento às demandas do empresaria­do. “A agenda que Abijaodi mencionou é a nossa agenda”, disse, referindo-se a Carlos Eduardo Abijaodi, diretor de desenvolvi­mento industrial da CNI.

Abijaodi listou entre as prioridade­s de curto prazo um acordo de salvaguard­as tecnológic­as, que permitiria o “aluguel” da base de Alcântara, a aprovação do Global Entry, que facilita a entrada nos EUA de passageiro­s pré-aprovados, e a adesão à OCDE. Entre as metas de médio e longo prazo estariam um acordo para eliminar a bitributaç­ão, um acordo de investimen­tos e um de livre comércio.

Também presente no evento, Landon Loomis, assessor especial para hemisfério ocidental do vice-presidente dos EUA, Mike Pence, afirmou que o presidente Donald Trump fez questão de ser um dos primeiros líderes a felicitar Bolsonaro por sua vitória. “Há um esforço consciente do governo americano, vindo do topo da hierarquia, para se aproximar do Brasil”, disse. “A eleição de Bolsonaro traz alguém disposto a ser parceiro.”

Araújo afirmou que a equipe de Bolsonaro vê a inserção do país no mundo de uma maneira estratégic­a, semelhante à abordagem de Trump.

O futuro chanceler afirmou que o Itamaraty terá cooperação com a área econômica para uma agenda de competitiv­idade. “Hoje o dinamismo no mundo está nas relações bilaterais e nós precisamos nos adaptar a isso; toda nossa mecânica negociador­a está demasiadam­ente adaptada aos anos 90, às vezes eu olho a nossa estratégia negociador­a e parece que eu vou ver um filme de Tom Hanks e Meg Ryan.” Segundo Araújo, Bolsonaro é um nome catalisado­r de mudança “a partir do sentimento patriótico”.

 ?? Reprodução/Twitter ?? Jair Bolsonaro com o general Augusto Heleno (esq.) e, à dir., John Bolton, assessor de Trump, general Fernando Azevedo e Silva e Ernesto Araújo
Reprodução/Twitter Jair Bolsonaro com o general Augusto Heleno (esq.) e, à dir., John Bolton, assessor de Trump, general Fernando Azevedo e Silva e Ernesto Araújo

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil