Folha de S.Paulo

Após 21 anos, escultura ‘Aranha’, de Bourgeois, deixa o MAM, em SP, para circular pelo Brasil

Exposta por 21 anos na marquise do MAM, ‘Aranha’, de Louise Bourgeois, deixa SP para circular pelo país, sem data para voltar

- Maria Luísa Barsanelli

Os três metros de altura e os mais de 200 quilos de “Aranha”, escultura de bronze de Louise Bourgeois, dividem-se em dez partes. Cada uma das peças é acomodada numa caixa, feita sob medida para as frações do corpo aracnídeo —as oito pernas longilínea­s e o centro.

As caixas deixarão São Paulo na próxima semana, início de um projeto de itinerânci­a da obra, que por 21 anos ficou exposta numa redoma de vidro na marquise do Museu de Arte Moderna paulistano.

A viagem da “Aranha” começa no próximo dia 15 em Inhotim, onde fica até 14 de abril numa galeria logo na entrada do instituto mineiro. Em maio, ela segue para a fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, e em agosto para Curitiba, no museu Oscar Niemeyer. Há negociaçõe­s para que passe por outras cidades, como o Rio, ainda em 2019.

A ideia, diz o Itaú Cultural, dono da obra, é que a escultura continue a percorrer o Brasil, mas não se sabe até quando.

“Aranha” foi adquirida pelo instituto por US$ 450 mil, em 1997, logo após a 23ª Bienal de São Paulo, que dedicava uma sala a Bourgeois. Na sequência, foi levada ao MAM em contrato de comodato com o museu, mas agora o acordo se encerrou, explica Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural.

“Queremos que a escultura circule por um bom tempo, isso faz parte do processo de democratiz­ação do instituto. Não está nos nossos planos, mas não quer dizer que ela não vá voltar [para o MAM].”

É a primeira vez que a obra será exposta fora de São Pau- lo, mas “Aranha” já precisou deixar a cidade antes. No ano passado, quando integraria uma mostra na Oca, vizinha ao MAM, percebeu-se durante a desmontage­m que sua estrutura poderia ceder.

“Como foi uma das primeiras esculturas de aranhas de Bourgeois [foi criada em 1996], ela era oca”, diz Saron. O trabalho foi levado à fundação que cuida da obra da artista, em Nova York, onde ficou por seis meses para reestrutur­ação e recebeu um preenchime­nto —o reforço foi pensado também para que “Aranha” pudesse circular pelo Brasil.

Os aracnídeos surgiram cedo na obra da artista, morta aos 98, em 2010. O que de início eram desenhos e gravuras ganharam proporções gigantesca­s a partir de 1994, quando criou a instalação “O Ninho”, em que cinco esculturas em aço se sobrepunha­m.

Segundo o crítico Paulo Herkenhoff, os animais são uma ode à mãe da artista, ao feminino e também ao passado da francesa, que cresceu num ateliê de restauro de tapeçarias. “As aranhas para Louise Bourgeois são uma crítica à dominação masculina na modernidad­e, pois elas tecem e reparam a teia diariament­e.”

 ?? Divulgação ??
Divulgação
 ?? Fotos Divulgação ?? A escultura ‘Aranha’, de Louise Bourgeois, e baratas da obra‘A Voz do Ralo É a Voz de Deus’
Fotos Divulgação A escultura ‘Aranha’, de Louise Bourgeois, e baratas da obra‘A Voz do Ralo É a Voz de Deus’

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil