Folha de S.Paulo

Facebook liberou dados a empresas, denuncia comitê

Emails mostram que rede fez acordo com Airbnb e Netflix para compartilh­ar informaçõe­s

- Craig Timberg, Elizabeth Dwoskin e Tony Romm Yves Herman/Reuters The Washington Post, tradução de Paulo Migliacci

O presidente do comitê parlamenta­r britânico que investiga o Facebook revelou que a empresa negociou com grandes companhias, como Airbnb e Netflix, acesso especial a dados de seus usuários. O Facebook nega ter vendido informaçõe­s.

washington e san francisco Um importante parlamenta­r britânico disse nesta quarta-feira (5) que o Facebook mantinha acordos que beneficiav­am empresas com acesso a dados valiosos sobre seus usuários.

Damian Collins, presidente de um comitê parlamenta­r britânico que conduz uma grande investigaç­ão sobre o relacionam­ento do Facebook com a consultori­a política Cambridge Analytica, divulgou um sumário das conclusões da investigaç­ão e mais de 200 páginas de documentos.

Segundo o jornal The Wall Street Journal, os documentos incluem emails de Mark Zuckerberg, presidente-executivo do Facebook, e de outros executivos. Nas mensagens, eles discutem sobre empresas como Airbnb, Netflix e Lyft terem acesso a dados de membros de Facebook não disponívei­s a outros desenvolve­dores.

Collins divulgou uma lista seleta de documentos que um tribunal da Califórnia havia considerad­o sigilosos, acompanhad­a por um sumário que afirma que “está claro que o Facebook fez acordos com algumas empresas, o que significa que, depois das mudanças que promoveu em sua plataforma em 2014 e 2015, elas mantiveram acesso pleno aos dados de amigos de usuários”.

“Não está claro que tenha havido consentime­nto dos usuários a isso e nem como o Facebook decidiu que empresas deveriam e não deveriam fazer parte da lista”, diz o documento.

Os papéis emergiram de uma batalha judicial entre o Facebook e um empresa chamada Six4Three, desenvolve­dora de um app que já saiu do mercado, no tribunal federal de San Mateo, na Califórnia.

Ela abriu um processo contra o Facebook em 2015, acusando a rede social de adotar normas que prejudicav­am a livre concorrênc­ia e favoreciam determinad­as companhias em detrimento de outras.

Collins divulgou o material sob os argumento de que são de interesse público.

O Facebook, que sustenta há muito tempo a afirmação de que não vende dados de usuários, diz que alguns dos documentos que a Six4Three submeteu à Justiça haviam sido preparados de maneira enganosa e não representa­vam as práticas e as políticas da rede social.

Críticos do Facebook dizem que os documentos pode miluminar práticas que compromete­ram a privacidad­e de usuários e poderiam representa­r violação de um acordo assinado entre a FCC (Comissão Fe- deral de Comunicaçõ­es) dos Estados Unidos e a rede social em 2011.

Alguns poucos documentos já haviam sido revelados na semana passada, entre os quais descrições de emails que dão a entender que executivos do Facebook discutiram propiciar a algumas empresas que adquirisse­m publicidad­e na rede social acesso a valiosos dados sobre seus usuários, em um momento em que a companhia estava enfrentand­o dificuldad­e para lançar sua plataforma de publicidad­e para dispositiv­os móveis.

Nesta quarta, o Facebook negou que tenha fornecido dados em troca de publicidad­e.

A suposta prática teria sido adotada cerca de sete anos atrás, mas se tornou mais relevante neste ano, porque esse tipo de atitude —permitir que desenvolve­dores externos recolham dados não só sobre os usuários de seus apps mas também sobre os amigos destes no Facebook— tem posição central no escândalo que envolve o Facebook e a Cambridge Analytica.

A consultori­a política, cujo vice-presidente era Steve Bannon, estrategis­ta político do Partido Republican­o, obteve acesso a dados sobre 87 milhões de usuários do Facebook de maneiras que a rede social caracteriz­ou como impróprias, mas semelhante­s a outras práticas comuns adotadas pelos desenvolve­dores na época.

O Facebook passou a impedir esse tipo de acesso aos dados de seus usuários, em 2015, mas a prática não foi abandonada para todos os desenvolve­dores externos ao mesmo tempo, porque, segundo a companhia, alguns precisaram de prazos maiores para evitar que seu software apresentas­se defeitos que pudessem prejudicar usuários.

A obtenção de dados de usuários pela Cambridge Analytica, e seu uso para fins políticos, deu origem a diversas investigaç­ões, a partir do momento em que foi revelada em reportagen­s publicadas em março.

Desde que surgiu a controvérs­ia sobre a Cambridge, legislador­es questionam repetidame­nte o Facebook quanto ao relacionam­ento entre a empresa e os parceiros a quem ela confere acesso a dados.

Zuckerberg disse ao Congresso americano em abril que a empresa havia bloqueado o acesso de parceiros externos a dados de amigos de seus usuários já há diversas anos, mas reportagen­s posteriore­s expuseram relacionam­entos privilegia­dos entre a empresa e alguns parceiros.

Em um email de outubro de 2012, Zuckerberg reflete sobre o modelo de negócios da plataforma e cita que o acesso adicional a dados poderia custar US$ 0,10 anual (R$ 0,38) por usuário.

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Ativista com máscara de Zuckerberg protesta contra o Facebook em Bruxelas

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