Facebook liberou dados a empresas, denuncia comitê
Emails mostram que rede fez acordo com Airbnb e Netflix para compartilhar informações
O presidente do comitê parlamentar britânico que investiga o Facebook revelou que a empresa negociou com grandes companhias, como Airbnb e Netflix, acesso especial a dados de seus usuários. O Facebook nega ter vendido informações.
washington e san francisco Um importante parlamentar britânico disse nesta quarta-feira (5) que o Facebook mantinha acordos que beneficiavam empresas com acesso a dados valiosos sobre seus usuários.
Damian Collins, presidente de um comitê parlamentar britânico que conduz uma grande investigação sobre o relacionamento do Facebook com a consultoria política Cambridge Analytica, divulgou um sumário das conclusões da investigação e mais de 200 páginas de documentos.
Segundo o jornal The Wall Street Journal, os documentos incluem emails de Mark Zuckerberg, presidente-executivo do Facebook, e de outros executivos. Nas mensagens, eles discutem sobre empresas como Airbnb, Netflix e Lyft terem acesso a dados de membros de Facebook não disponíveis a outros desenvolvedores.
Collins divulgou uma lista seleta de documentos que um tribunal da Califórnia havia considerado sigilosos, acompanhada por um sumário que afirma que “está claro que o Facebook fez acordos com algumas empresas, o que significa que, depois das mudanças que promoveu em sua plataforma em 2014 e 2015, elas mantiveram acesso pleno aos dados de amigos de usuários”.
“Não está claro que tenha havido consentimento dos usuários a isso e nem como o Facebook decidiu que empresas deveriam e não deveriam fazer parte da lista”, diz o documento.
Os papéis emergiram de uma batalha judicial entre o Facebook e um empresa chamada Six4Three, desenvolvedora de um app que já saiu do mercado, no tribunal federal de San Mateo, na Califórnia.
Ela abriu um processo contra o Facebook em 2015, acusando a rede social de adotar normas que prejudicavam a livre concorrência e favoreciam determinadas companhias em detrimento de outras.
Collins divulgou o material sob os argumento de que são de interesse público.
O Facebook, que sustenta há muito tempo a afirmação de que não vende dados de usuários, diz que alguns dos documentos que a Six4Three submeteu à Justiça haviam sido preparados de maneira enganosa e não representavam as práticas e as políticas da rede social.
Críticos do Facebook dizem que os documentos pode miluminar práticas que comprometeram a privacidade de usuários e poderiam representar violação de um acordo assinado entre a FCC (Comissão Fe- deral de Comunicações) dos Estados Unidos e a rede social em 2011.
Alguns poucos documentos já haviam sido revelados na semana passada, entre os quais descrições de emails que dão a entender que executivos do Facebook discutiram propiciar a algumas empresas que adquirissem publicidade na rede social acesso a valiosos dados sobre seus usuários, em um momento em que a companhia estava enfrentando dificuldade para lançar sua plataforma de publicidade para dispositivos móveis.
Nesta quarta, o Facebook negou que tenha fornecido dados em troca de publicidade.
A suposta prática teria sido adotada cerca de sete anos atrás, mas se tornou mais relevante neste ano, porque esse tipo de atitude —permitir que desenvolvedores externos recolham dados não só sobre os usuários de seus apps mas também sobre os amigos destes no Facebook— tem posição central no escândalo que envolve o Facebook e a Cambridge Analytica.
A consultoria política, cujo vice-presidente era Steve Bannon, estrategista político do Partido Republicano, obteve acesso a dados sobre 87 milhões de usuários do Facebook de maneiras que a rede social caracterizou como impróprias, mas semelhantes a outras práticas comuns adotadas pelos desenvolvedores na época.
O Facebook passou a impedir esse tipo de acesso aos dados de seus usuários, em 2015, mas a prática não foi abandonada para todos os desenvolvedores externos ao mesmo tempo, porque, segundo a companhia, alguns precisaram de prazos maiores para evitar que seu software apresentasse defeitos que pudessem prejudicar usuários.
A obtenção de dados de usuários pela Cambridge Analytica, e seu uso para fins políticos, deu origem a diversas investigações, a partir do momento em que foi revelada em reportagens publicadas em março.
Desde que surgiu a controvérsia sobre a Cambridge, legisladores questionam repetidamente o Facebook quanto ao relacionamento entre a empresa e os parceiros a quem ela confere acesso a dados.
Zuckerberg disse ao Congresso americano em abril que a empresa havia bloqueado o acesso de parceiros externos a dados de amigos de seus usuários já há diversas anos, mas reportagens posteriores expuseram relacionamentos privilegiados entre a empresa e alguns parceiros.
Em um email de outubro de 2012, Zuckerberg reflete sobre o modelo de negócios da plataforma e cita que o acesso adicional a dados poderia custar US$ 0,10 anual (R$ 0,38) por usuário.