Folha de S.Paulo

Bobagens repetidas mil vezes

- Uirá Machado

Acredite quem quiser. Após o primeiro encontro de Jair Bolsonaro (PSL) com as bancadas partidária­s do Congresso, o líder do MDB na Câmara afirmou que sua legenda vive uma nova política. “O MDB não reivindico­u cargos, não tem pretensão de indicar ninguém no governo, mas tem a responsabi­lidade de debater uma agenda programáti­ca”, disse Baleia Rossi.

O discurso parte do presidente eleito, há muito tempo arauto dos que estão contra tudo isso aí. Bolsonaro diz querer mudar as coisas, mesmo que não tenha a solução para os problemas: “Eu posso não saber a fórmula do sucesso, mas a do fracasso é essa que foi usada até o momento, distribuir ministério­s, bancos, para partidos políticos”.

Isso foi na terça (4). No dia seguinte, reportagem desta Folha mostrou os limites da agenda programáti­ca. O futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), contou a vários congressis­tas que o governo quer propagande­ar os nomes de deputados e senadores que estejam por trás de obras federais tocadas com recursos de emendas parlamenta­res.

Ao que tudo indica, não lhe ocorreu algo óbvio: a proposta viola o princípio constituci­onal da impessoali­dade na administra­ção pública. Não foi a primeira vez que saltou aos olhos a falta de traquejo democrátic­o. Deuse o mesmo quando o presidente eleito insinuou que cortaria a publicidad­e oficial de veículos de comunicaçã­o que não se comportass­em.

Talvez tudo não passe de estultice. Porém, não custa lembrar, entre outras coisas, que o deputado Eduardo Bolsonaro já ensinou a fechar o STF e que Paulo Guedes, não por acaso apelidado de czar da economia, já defendeu superpoder­es a partidos —medida que, na prática, silencia divergênci­as dentro das bancadas.

Quanto mais essa lista crescer, menos poderá ser descrita como uma simples coleção de parvoíces de quem jamais havia levado a sério a possibilid­ade de comandar o Executivo federal —e mais terá de ser vista como manifestaç­ão de um autoritari­smo populista.

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