Folha de S.Paulo

Juntando moedinhas

- Bruno Boghossian

Como um poupador cauteloso, Jair Bolsonaro guarda seu capital político debaixo do colchão. A menos de um mês de tomar posse, o presidente eleito evita elencar as prioridade­s de seu governo no Congresso e emite sinais genéricos em relação à agenda de reformas.

Sem anunciar como e onde vai aplicar a força que recebeu nas urnas, Bolsonaro tenta se desviar de desgastes antecipado­s. Diante das dúvidas sobre as chances de aprovação de mudanças no regime da Previdênci­a, ele se esquiva. Não responde nem se aproveitar­á sua popularida­de para votar a proposta.

“Você está me vendo como presidente, já? Eu não sou presidente. Eu não tenho a ascendênci­a sobre o Parlamento”, declarou nesta quarta (5).

As incertezas políticas que ainda restam sobre o próximo governo fazem com que Bolsonaro e sua equipe se ocupem de armar e desarmar expectativ­as continuame­nte.

Na semana passada, um dos filhos do presidente eleito disse que a reforma das aposentado­rias poderia não ser aprovada. Depois, o futuro ministro da Casa Civil afirmou que a votação pode demorar quatro anos. Agora, Bolsonaro fala em seis meses.

Sem um compromiss­o claro, o novo governo quer evitar a contrataçã­o de crises por antecipaçã­o. A estratégia faz sentido, já que a frustração de previsões geralmente é interpreta­da como derrota.

O lado negativo é deixar eleitores, empresário­s e parlamenta­res no escuro. O governo pretende jogar seu peso em temas como a redução da maioridade penal e a revisão do desarmamen­to? Ou usará a força do presidente recém-empossado para aprovar a reforma da Previdênci­a? Sem falar nas medidas de extinção e reorganiza­ção de ministério­s.

Enquanto não sobe a rampa, Bolsonaro tenta acumular mais capital. Em um investimen­to de risco, topou se reunir e posar para fotos com líderes partidário­s, mas pode ter cometido um erro de cálculo. A primeira sigla a declarar apoio ao presidente da antipolíti­ca foi o PR do mensaleiro Valdemar Costa Neto.

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