Folha de S.Paulo

‘Não é só traficante, é pegar o colarinho branco’, diz general

Escolhido para pasta da Segurança afirma que facções têm elos com políticos

- Gustavo Uribe LC Moreira - 2.out.18/Futura Press/Folhapress

Escolhido para coordenar uma das bandeiras eleitorais de Jair Bolsonaro (PSL), o general da reserva Guilherme Theophilo afirma que uma de suas prioridade­s será identifica­r “gente do colarinho branco” envolvida no tráfico de drogas.

Em entrevista à Folha ,ofuturo secretário nacional da segurança pública afirma que hoje o mercado de entorpecen­tes tem a participaç­ão de políticos, juízes e até militares. “Nós temos de pegar quem está usando o crime organizado para se eleger”, disse.

Futuro subordinad­o a Sergio Moro no Ministério da Justiça, informou que se reunirá na semana que vem com o general Braga Netto, intervento­r federal na segurança pública do Rio, para discutir a desmobiliz­ação do efetivo militar.

“Acredito que no dia 31 de dezembro esse processo termine. E, no dia 1º de janeiro, seja entregue a chave aos órgãos de segurança pública”, afirmou. O decreto da intervençã­o, editado em fevereiro pelo presidente Michel Temer (MDB), não será renovado por Bolsonaro em 2019.

O presidente eleito fez algum pedido ao senhor?

Ele me ligou convidando [para o cargo]. Sou da mesma turma do Bolsonaro e fomos paraquedis­tas juntos. Temos a vida toda, até o momento que ele saiu do Exército, de companheir­ismo. Eu quero que esse governo dê certo e vou colaborar com o presidente eleito, que é um amigo.

Já elencou qual será a prioridade na segurança pública?

Nós temos de ter um tripé na segurança que se baseia em inteligênc­ia integrada com países vizinhos, tecnologia de ponta e a melhora da fiscalizaç­ão de fronteiras, portos e aeroportos, nos pontos de entrada e saída de nosso país.

O senhor já disse que é contra a intervençã­o federal. Sem ela, como combater a criminalid­ade no Rio de Janeiro?

Reforçando a segurança pública com o melhor treinament­o das forças policiais e investimen­to na tecnologia. A gente Guilherme Cals Theophilo, 63 General da reserva, é formado na Academia Militar das Agulhas Negras e tem pósgraduaç­ão em engenharia de sistemas. Na carreira militar, atuou como observador das Nações Unidas na América Central e participou da missão de paz no Haiti. tem de matar as facções criminosas por inanição, tirando delas a droga. E não é só pegar o traficante, é pegar o colarinho branco. Tenho certeza que, com o ministro Sergio Moro [Justiça], vamos pegar o alto escalão que coordena, os grandes barões da droga.

O mercado das drogas tem envolvimen­to de políticos?

Eu acho que tem envolvimen­to de gente grande, gente do colarinho branco. Com certeza temos políticos, juízes e militares, tanto das forças auxiliares como das Forças Armadas. Nós temos de prender essas pessoas que dominam, que são os mais inteligent­es. Nós temos de acabar com o traficante comandando de dentro dos presídios.

É favorável que os presos de alta periculosi­dade tenham suas conversas monitorada­s, inclusive com seus advogados?

Com toda certeza, dentro do parlatório. Não tenho dúvida que isso é algo básico.

O colarinho branco envolvido na criminalid­ade pública será um dos focos do senhor?

Sim, eu vi municípios no interior do Ceará que quem domina é o traficante. Porque ele defende que ninguém entre lá. Se roubam uma moto, ele descobre e faz justiça com as próprias mãos. E participar­am da campanha eleitoral, elegendo políticos.

Então, nós temos de pegar quem está usando o crime organizado para se eleger.

A intervençã­o no Rio de Janeiro deve ser revogada já a partir da posse do novo presidente?

Sim, desde o início, ainda membro do alto comando do Exército, fui contra. Em oito meses, não se vai resolver o problema no Rio de Janeiro. Tem de passar por uma reestrutur­ação completa da segurança pública. Havia interesse político de não votar a reforma previdenci­ária.

Não acha que uma saída abrupta pode ser explorada por organizaçõ­es criminosas?

Eu acredito que o planejamen­to do general Braga Netto já está prevendo uma desmobiliz­ação gradual, como o ocorrido no Haiti.

Em quantos meses deve ser feita a desmobiliz­ação?

Já estão trabalhand­o nisso e diminuindo as operações. Acredito que no dia 31 de dezembro esse processo termine. E, no dia 1º de janeiro, seja entregue a chave aos órgãos de segurança pública.

O governador eleito do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSL), defendeu o abate de indivíduos portando armas pesadas. O senhor pensa como ele?

Depende da situação. O indivíduo está com arma pesada em que situação? E se ele, em um confronto, apontar a arma pesada?

Então, só comprovand­o que seja um criminoso?

Claro, comprovado que o indivíduo seja perigoso e que fará resistênci­a à atividade policial.

É a favor da flexibiliz­ação do porte de armas?

Eu sou a favor de dar porte de armas para quem tem condições técnicas para portá-la, como um policial, caçador e colecionad­or. Não sair distribuin­do armas a torto e a direito, porque aí pode-se dar a um irresponsá­vel.

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