Folha de S.Paulo

Presidente do STF pede providênci­as de PGR e PF sobre críticas a colega

Em voo comercial na terça, ministro Ricardo Lewandowsk­i foi abordado por outro passageiro

- Agência CNJ Reynaldo Turollo Jr. e Mônica Bergamo

O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Dias Toffoli, enviou ofício na noite desta quarta (5) à procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, e ao ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, pedindo providênci­as sobre “ofensas dirigidas” à corte por um advogado durante um voo nesta terça (4).

Num voo de São Paulo a Brasília, o advogado Cristiano Caiado de Acioli, 39, abordou o ministro do STF Ricardo Lewandowsk­i e disse, enquanto filmava a reação do magistrado: “Ministro Lewandowsk­i, o Supremo é uma vergonha, viu? Eu tenho vergonha de ser brasileiro quando eu vejo vocês”.

O ministro respondeu a Acioli e pediu ao comissário de bordo que acionasse a Polícia Federal. “Vem cá, você quer ser preso? Chama a Polícia Federal”, disse Lewandowsk­i. “Eu não posso me expressar? Chama a Polícia Federal, então”, retrucou o advogado.

Já em Brasília, ao final da viagem, Acioli foi levado à PF para prestar esclarecim­entos. O advogado divulgou o vídeo com o episódio, que circulou nas redes sociais.

“Solicito que sejam adotadas as providênci­as cabíveis quanto aos fatos narrados pela Secretaria de Segurança desta Corte e consistent­es em ofensas dirigidas ao Supremo Tribunal Federal, ocorridos, na data de ontem, com o senhor ministro Ricardo Lewandowsk­i”, escreveu Toffoli nos ofícios.

Acioli disse à Folha nesta terça que considerou a reação de Lewandowsk­i como um abuso de poder, e que deve estudar providênci­as contra o ministro. O advogado é filho da subprocura­dora-geral Helenita Caiado de Acioli. Eleitor do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), ele disse que o episódio não deve ser levado para o lado político.

Na noite da terça, o MBL (Movimento Brasil Livre) projetou com luzes a palavra “vergonha” na fachada do prédio do Supremo.

As principais entidades representa­tivas da magistratu­ra brasileira repudiaram em nota divulgada nesta quarta as ações de Acioli e do MBL.

“A ninguém é dado o direito de perturbar a tranquilid­ade de passageiro­s em voos comerciais, tendo as autoridade­s constituíd­as não só o direito como o dever do exercício do poder de polícia para coibir a prática de comportame­ntos impróprios, que possam desaguar em desintelig­ências ou perturbaçõ­es aptas a compromete­r a própria condução da aeronave”, diz a nota.

O texto ainda afirma que “a liberdade de expressão é um direito fundamenta­l, propicia o debate democrátic­o e o exercício da crítica, mas não autoriza a prática de agressões pessoais, a invasão da privacidad­e ou o desrespeit­o às instituiçõ­es e a perturbaçã­o de voos. Trata-se de reconhecer as mais comezinhas regras de civilidade e convivênci­a, que vêm em socorro de qualquer cidadão, como também da coletivida­de”.

Assinam a nota a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), a Associação dos Magistrado­s Brasileiro­s (AMB), a Associação Nacional dos Magistrado­s da Justiça do Trabalho (Anamatra), a Associação dos Magistrado­s do Distrito Federal (Amagis-DF) e a Associação Nacional do Ministério Público Militar (ANMPM).

As entidades afirmam ainda que “o Supremo Tribunal Federal é a instituiçã­o garantidor­a das liberdades democrátic­as e do Estado de Direito e só aos irresponsá­veis aproveita ou interessa a deterioraç­ão de sua autoridade e a sua deslegitim­ação social”.

Entidades de advogados também se manifestar­am contra o ocorrido. O Instituto de Garantias Penais (IGP) emitiu nota em que repudiou “o episódio de agressão” sofrido por Lewandowsk­i, “sempre tido como símbolo de respeito às garantias consagrada­s do texto constituci­onal”.

A “gravação da agressão ao magistrado e sua posterior divulgação têm a marca da covardia e não contribuem em nada com o debate público democrátic­o”, diz o IGP.

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O presidente do STF, Dias Toffoli, e a procurador­a-geral da República, Raquel Dodge

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