Folha de S.Paulo

Cuba ameniza lei sobre censura a eventos, alvo de críticas de artistas

Decreto que entra em vigor na sexta (7) dá poder a fiscais do governo para fechar exposições e performanc­es

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O regime cubano cedeu diante das críticas e decidiu amenizar o impacto de uma nova lei que garante a inspetores do governo o poder de fechar qualquer exibição de arte ou performanc­e vista como uma violação dos valores revolucion­ários socialista­s do país.

A lei, conhecida como Decreto 349, foi publicada em julho passado e permite a “inspetores supervisor­es” rever quaisquer eventos culturais, de exibições de quadros a concertos, e fechar imediatame­nte aqueles que violarem as regras, além de revogar a licença de funcioname­nto do restaurant­e ou bar que sediar a performanc­e.

O decreto causou protestos da comunidade artística cubana e levou os mais renomados nomes do mundo da arte a procurar reuniões com membros do regime. Um pequeno grupo de artistas independen­tes lançou uma série de protestos de rua que levou a forte repressão policial.

O vice-ministro de Cultura cubano, Fernando Rojas, afirmou à agência de notícias Associated Press que o decreto não foi bem explicado e rejeitou críticas de que seja uma censura ao trabalho dos artistas nacionais.

Segundo ele, os inspetores poderão fechar apenas exibições com violações extremas, como obscenidad­e, racismo ou conteúdo sexista. Os casos problemáti­cos serão levados a autoridade­s superiores no Ministério da Cultura.

Os inspetores também ficarão limitados a espaços públicos, não podendo entrar em casa de artistas ou estúdios.

A lei entra em vigor nesta sexta-feira (7), mas os inspetores só agirão a partir da publicação de uma série de regulament­ações mais detalhadas, que devem ser finalizada­s nas próximas semanas, explica Rojas.

O vice-ministro diz que o Decreto 349 visa responder reclamaçõe­s da população cubana, de artistas e intelectua­is sobre o mau uso de símbolos patriótico­s e sobre a vulgaridad­e na cultura popular.

“Não houve uma explicação avançada da lei e essa é uma das razões da controvérs­ia que ela causou”, disse Rojas, acrescenta­ndo que participou de ao menos 30 encontros com centenas de artistas desde a sua publicação.

O escultor Marco Antonio Castillo, do duo Los Carpintero­s, criticou a lei. “Eu quero estar em um ambiente intelectua­l com essas novas regras? A resposta é não. Temos que tentar mudá-las.”

Na terça (4), Cuba anunciou que permitirá que seus cidadãos tenham acesso completo à internet nos celulares a partir desta quinta (6). É um dos últimos países do mundo a permitir isso.

Segundo Mayra Arevich, presidente da companhia telefônica estatal de Cuba, os cubanos poderão comprar pacotes de internet 3G.

Até agora, os moradores da ilha tinham acesso via celular apenas a um serviço de e-mail, controlado pelo governo.

Cuba autorizou o uso de internet nas casas em 2017 e abriu centenas de pontos de wifi públicos ao redor do país.

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Maxim Shemetov/Pool/Associated Press Nicolás Maduro (à esq.) e Vladimir Putin em Moscou

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