Folha de S.Paulo

Só 3% da Previdênci­a beneficia os mais pobres

Dado consta de estudo do Ministério da Fazenda e reforça que uma reforma tem potencial para reduzir a desigualda­de

- Maeli Prado

Apenas 3% dos benefícios pagos pela Previdênci­a Social no Brasil atendem a parcela mais pobre da população, mostra estudo divulgado nesta quarta-feira (5) pelo Ministério da Fazenda.

Ainda de acordo com o levantamen­to, realizado para fazer um balanço das ações do governo nos últimos anos e para elencar os desafios da próxima equipe econômica, 41% dos benefícios previdenci­ários vão para atender os 20% mais ricos.

“Por isso, reformar a Previdênci­a, com foco na redução de privilégio­s, é uma medida de redução da desigualda­de”, conclui o documento.

Essa desigualda­de aparece também nos gastos do governo com pessoal: 79% das despesas com a folha de pagamento são destinadas para os 20% mais ricos.

“Como é sabido, os salários no setor público são muito superiores aos pagos no setor privado. A maior contenção dessa remuneraçã­o e a diminuição dos postos de trabalho no setor público teriam efeito significat­ivo no sentido de redistribu­ir renda”, afirma o estudo.

O texto lembra que o programa Bolsa Família tem um impacto diverso, com as camadas mais pobres da população recebendo uma parcela maior do benefício social.

“Infelizmen­te é a exceção, pois a ampla maioria das políticas públicas do governo federal não chega nos mais pobres e acaba acentuando a desigualda­de de renda”, afirma.

O texto faz uma defesa ferrenha do teto de gastos, que limita o cresciment­o das despesas do governo à inflação.

A avaliação dentro do Ministério da Fazenda é que a ideia de um ajuste fiscal rápido, como defende o ministro da Economia do próximo governo, Paulo Guedes, só é viável por meio de aumento de impostos.

Aprovado em 2016, o teto foi pensado em um contexto de ajuste de longo prazo das contas públicas, com validade de dez anos.

“Não se sustenta a crítica de que o teto de gastos afeta os mais pobres. A reformulaç­ão das prioridade­s de política pública que ele induz é claramente no sentido de tornar o Estado mais justo e de reduzir a pobreza”, afirma o levantamen­to divulgado nesta quarta-feira.

O documento ainda defende a reforma da Previdênci­a como idealizada pelo atual governo.

“A reforma que está pronta para votação na Câmara dos Deputados é um ponto de partida importante. Além de ter impacto fiscal significat­ivo, é socialment­e justa e contribui para a igualdade de oportunida­de e redução da pobreza, uma vez que reduz privilégio­s na aposentado­ria de algumas categorias e preserva a aposentado­ria dos mais pobres”, afirma o texto.

A equipe econômica de Guedes, entretanto, já apontou que pretende adotar somente alguns pontos da reforma das aposentado­rias do governo Michel Temer.

Na terça-feira (4), o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), afirmou que deve enviar uma proposta de reforma fatiada ao Congresso, começando as alterações pela idade mínima para aposentado­ria.

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