Folha de S.Paulo

Em 10 anos, desmate quase dobra em unidades de conservaçã­o

- Phillippe Watanabe

O desmatamen­to nas unidades de conservaçã­o (UCs), em relação a todo o desmate na Amazônia, quase dobrou na última década. Em 2008, a taxa equivalia a cerca de 7% da devastação total da floresta; em 2017, a 13%. Os dados são de um estudo da ONG Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia).

A tendência do desmatamen­to em UCs desde 2012 é de cresciment­o, seguindo o caminho contrário ao do período de 2008 a 2012.

As UCs são áreas protegidas por suas caracterís­ticas naturais relevantes, de acordo com a lei que as rege. Segundo Paulo Barreto, um dos pesquisado­res responsáve­is, as unidades são áreas especiais, que podem ser destacadas por sua biodiversi­dade, por exemplo.

Essas áreas também estão associadas a proteção de recursos hídricos, promoção do desenvolvi­mento sustentáve­l e proteção de recursos para populações tradiciona­is.

“Está havendo um ataque a essas áreas e elas estão mais vulnerávei­s. Deveria ser o contrário”, diz Barreto. “São áreas em que a preservaçã­o deveria ser ainda mais forte.”

O aumento do desmate nas UCs, diz Barreto é em parte responsabi­lidade do Novo Código Florestal, que entrou em vigor em 2012.

A lei anistiou desmatamen­tos ocorridos antes de 22 de junho de 2008, para proprietár­ios de terra que aderissem ao PRA (Programa de Regulariza­ção Ambiental). Esse ponto do código preocupou ambientali­stas, segundo os quais a anistia passa uma mensagem de impunidade.

“Faz algo ilegal, comete o crime e depois consegue o perdão. Uma vez que conseguira­m no passado, eles apostam que conseguiri­am no futuro”, diz Barreto

A pesquisa também afirma que reduções e pressões para reduzir UCs contribuem para o cresciment­o no desmatamen­to. Entre as UCs mais devastadas está a Flona (floresta nacional) do Jamanxin, no sudoeste do Pará, que foi alvo de controvérs­ia em 2017, e sobre a qual há um projeto na Câmara (PL 8.107), enviado pelo presidente Michel Temer, visando redução da área de proteção e legalizaçã­o de pessoas que ocuparam a área.

Para o pesquisado­r, além da fiscalizaç­ão, uma maior proteção às UCs pode ser obtida a partir de ações sustentáve­is, como o turismo, que mesmo já realizado em algumas áreas, poderia ser fortalecid­o.

Quando o uso é não sustentáve­l, “em vez de oportunida­de, vira custo”, diz Barreto. “O Brasil pode voltar a fazer bem. [É só]casar isso com uma estratégia de desenvolvi­mento.”

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