Folha de S.Paulo

Declaração de Tevez mudou história da final

Ídolo no Boca Juniors disse que Conmebol e Fifa forçaram time a jogar decisão da Libertador­es mesmo após agressão

- Alex Sabino Gabriel Bouys/AFP

Carlos Tevez, 34, tem sete títulos pelo Boca Juniors. Ele foi campeão da Libertador­es e do Mundial em 2003, quando era uma revelação e considerad­o futuro astro. Mas seu maior momento no clube aconteceu recentemen­te, sem a bola nos pés.

“Nós não queremos jogar. A Conmebol e a Fifa estão nos obrigando”, ele afirmou na porta do vestiário do Monumental de Nuñez no último dia 24, data em que deveria ter acontecido a final da Libertador­es contra o River Plate.

Foi a declaração que virou a maré. Até aquele momento, os dirigentes forçavam a barra para que a partida acontecess­e, apesar dos incidentes. O próprio presidente do Boca Juniors, Daniel Angelici, estava prestes a ceder à pressão.

Quando Tevez jogou a responsabi­lidade sobre os ombros de Alejandro Domínguez, mandatário da Conmebol, e Gianni Infantino, da Fifa, a decisão foi adiada.

Tevez está em sua terceira passagem pelo Boca e vive a fase mais apagada. Não tem boa relação com o técnico Guillermo Schelotto e nem sequer é titular. Os dois juntos, como atacantes, foram campeões do torneio continenta­l de 2003, após vencerem o Santos na final.

Além dos gols e dos títulos, ele nunca deixou de ser popular com a torcida, mesmo após ter trocado a equipe em 2016 pelo Shanghai Shenhua (CHN). Tevez havia chegado no ano anterior fazendo juras de amor eterno ao Boca, mas largou tudo ao receber proposta de R$ 3 milhões por semana para atuar na Ásia.

Sua popularida­de não é forte apenas com o torcedor do Boca. Na escolha entre ele e Messi, apesar da diferença técnica, há muitos na Argentina que preferem Carlitos.

Na Copa América de 2011, disputada no país, Tevez foi o principal causador de discórdia na seleção, eliminada nas quartas de final, contra o Uruguai, na disputa de pênaltis.

O então jogador do Manchester City foi quem errou a cobrança, porém saiu do torneio com sua reputação intacta. Já Messi acabou massacrado pela imprensa.

Para parte da torcida argentina, Tevez será sempre o “atacante do povo”, o menino que saiu do Forte Apache, uma das regiões mais pobres e violentas da América do Sul, para se tornar ídolo do time mais popular do país.

Dizer que a Conmebol e a Fifa queriam obrigar a equipe a jogar catapultou ainda mais o amor dos boquenses por ele.

O atacante tinha sido um dos afetados pelo gás de pimenta que entrou no ônibus na chegada ao Monumental. Passou mal, assim como outros atletas. O caso mais grave foi o de Pablo Pérez, que sofreu cortes no braço e úlcera no olho por causa de estilhaços de vidros quebrados por pedras e garrafas atiradas.

Quando Daniel Angelici voltou ao hotel na noite do dia 24 para dizer que a equipe teria Carlos Tevez, 34

Revelado pelo Boca Juniors, o atacante explodiu em

2003, aos 19 anos, quando foi campeão argentino, da Libertador­es e do Mundial. Vendido ao Corinthian­s no fim de 2004, foi campeão brasileiro no ano seguinte. Conquistou a Champions League e o Mundial pelo Manchester United, em 2008, e voltou ao Boca ao deixar a Juventus, em 2015. Após jogar no futebol chinês, retornou à Argentina neste ano de entrar em campo na tarde seguinte, foi Tevez quem liderou o motim. Ele sentiu qual era o ânimo da torcida e pressionou o dirigente para que acontecess­e nova mudança. Disse que o elenco não tinha nenhuma condição de jogar no domingo (25). Ainda mais no estádio do River Plate.

Tudo isso fez crescer o movimento para que Tevez seja titular na partida marcada para este domingo (9), em Madri.

O apelo é inflado pela atuação do jogador nos 15 minutos finais no empate em 2 a 2, em La Bombonera, na primeira final. Quase fez um gol de fora da área e deu passe para Benedetto ficar de frente para o goleiro Armani.

Tevez não será titular, mesmo com a contusão de Ábila, que corre contra o tempo para ser escalado. O ídolo ficará no banco para o que ele mesmo já chamou de seu maior jogo com a camisa do Boca.

Se existe um lado positivo é seu treinador ter sinalizado que, em caso de necessidad­e, o Apache será a primeira opção ofensiva a entrar. Se isso acontecer, e o Boca for campeão, não é difícil imaginar que Tevez será o responsáve­l por levantar a taça. Desde que o capitão Pablo Pérez, ainda dúvida para a partida, não jogue.

Seria o ponto máximo da carreira do atacante, que disputou duas Copas do Mundo, venceu Libertador­es, Champions League, liga inglesa, italiana e argentina. Mas que será lembrado como um dos jogadores mais identifica­dos com a torcida do Boca Juniors em todos os tempos.

 ??  ?? Carlos Tevez chega ao hotel em Madri, na Espanha, antes do segundo jogo da final da Libertador­es
Carlos Tevez chega ao hotel em Madri, na Espanha, antes do segundo jogo da final da Libertador­es

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil