Folha de S.Paulo

Bolsonaro diz que denúncia robusta é caso para demissão

Eleito diz que não hesitaria em usar ‘caneta Bic’ para tirar um auxiliar; Onyx é alvo de suspeita de caixa 2

- Talita Fernandes Pedro Ladeira/Folhapress Colaborou Daniel Carvalho, de Brasília

Jair Bolsonaro sugeriu que poderá demitir o futuro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), alvo de investigaç­ão no Supremo Tribunal Federal por suspeita de caixa dois. “Havendo uma denúncia robusta contra quem quer que seja do meu governo que esteja ao alcance da minha caneta Bic, ela será usada”, declarou o presidente eleito.

O presidente eleito, Jair Bolsonaro, sugeriu que poderá demitir o futuro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, se houver denúncia robusta contra ele.

“Olha só, havendo qualquer comprovaçã­o obviamente ou uma denúncia robusta contra quem quer que seja do meu governo que esteja ao alcance da minha caneta Bic, ela será usada”, afirmou nesta quartafeir­a (5), em Brasília.

A declaração é uma resposta a questionam­ento feito sobre uma fala de seu vice, o general da reserva Hamilton Mourão. Em Belo Horizonte, Mourão disse que Onyx teria de deixar o governo se for provado que ele cometeu ato ilícito.

“Uma vez que seja comprovado que houve ilicitude, é óbvio que terá que se retirar do governo. Mas, por enquanto, é uma investigaç­ão e ele prossegue com as tarefas dele. Nada mais do que isso”, disse o vice-presidente eleito.

O futuro chefe da Casa Civil se tornou alvo de uma investigaç­ão aberta no STF (Supremo Tribunal Federal) a pedido da Procurador­ia-Geral da República, na terça-feira (4) por suspeita de caixa dois.

Ele foi apontado em acordos de delação da JBS como beneficiár­io de dois repasses não declarados como doações de campanha. Um deles de R$ 100 mil em 2014, e outro de R$ 100 mil em 2012.

Onyx já admitiu em entrevista ter recebido R$ 100 mil da JBS em 2014 e pediu desculpas. Ele, contudo, nega a segunda acusação, revelada pela Folha em novembro.

Na reta final da formação de sua equipe de governo, Bolsonaro afirmou nesta quarta que ainda não escolheu o futuro ministro de Direitos Hu- manos. Ele diz que Damares Alves, advogada e assessora do senador Magno Malta (PRES), é apenas um nome, mas que não há definição.

O presidente eleito negou que haja qualquer animosidad­e com o fato de Malta não ter sido escolhido para ocupar nenhum de seus ministério­s.

No início da pré-campanha, Bolsonaro chegou a chamar o senador de “vice dos sonhos”. A aliança não prosperou, mas Malta se engajou intensamen­te na campanha do candidato do PSL —e perdeu a reeleição para o Senado.

Após o segundo turno, o parlamenta­r chegou a circular pelo Centro Cultural Banco do Brasil, onde funciona o gabinete de transição, e foi cotado para o primeiro escalão, mas sumiu nas últimas semanas, depois que viu que suas chances de ser anunciado ministro haviam minguado.

A pá de cal veio nesta quarta-feira, a primeira vez que Bolsonaro admitiu publicamen­te que o amigo não seria anunciado ministro.

“Tínhamos um desenho do ministério na cabeça, infelizmen­te não coube o perfil dele não se enquadrou nessa questão. Apenas isso”, respondeu Bolsonaro ao ser questionad­o sobre a chateação de Malta por não ter sido indicado.

O eleito disse ainda que “as portas estão abertas para ele” na transição e que ele pode colaborar de outra forma.

“A questão de possível ministério não achamos adequado no momento. Ele pode estar ao meu lado e as portas nunca forma fechadas para ele. Se para todos amigos de campanha eu fosse dar ministério, seria difícil da minha parte”, afirmou.

Ao deixar o QG do Exército na tarde desta quarta, onde almoçou e recebeu condecoraç­ão batizada de “Medalha do Pacificado­r”, Bolsonaro lembrou que ofereceu a Malta o posto de vice-presidente.

“Eu ofereci ser meu vice e ele achou melhor concorrer ao Senado. Não se elegeu. Sou grato a ele.”

De volta ao Senado nesta quarta após se isolar no interior do Espírito Santo, Malta negou estar frustrado por não ter sido escolhido para comandar um ministério.

Em sua primeira aparição depois de o primeiro escalão do futuro governo estar praticamen­te completo, o senador estava arredio. Sem blazer, foi direto ao plenário, conversou com colegas e evitou os jornalista­s o quanto pôde.

Chegou a discursar, mas apenas falou contra “ativismo judiciário”.

Concedeu entrevista andando durante os dois minutos e 38 segundos que levou até chegar a seu gabinete.

“Meu compromiss­o com Bolsonaro foi até o dia 28 [de outubro, data do segundo turno], às 19h30. Tínhamos um projeto de tirar o Brasil de um viés ideológico e nosso compromiss­o acabou dia 28. Bolsonaro não tem nenhum compromiss­o comigo”, afirmou o senador.

Apesar de não ter conseguido se reeleger, Malta não se diz arrependid­o da atenção que dispensou à campanha presidenci­al.

“De jeito nenhum”, disse elevando o tom da voz. “Continuo lutando por ele, defendendo ele. Acredito nele, acredito no caráter dele. É o homem para o Brasil. Não me arrependo de nada. Faria tudo de novo. Não sou homem de frustração. Sou homem de luta e luto por aquilo que acredito”, afirmou, completand­o que “Deus levantou Bolsonaro. E pronto”.

Questionad­o sobre as declaraçõe­s do presidente eleito, Malta reagiu irritado: “Aí você tem que perguntar para ele”.

O tratamento dispensado a Malta foi visto com revolta por integrante­s da bancada evangélica, grupo que, até o momento, não conseguiu emplacar nomes em nenhum ministério.

Mesmo assim, o senador diz não ver necessidad­e de que Bolsonaro se explique aos seus apoiadores. “As coisas não dependem de mim, dependem de Deus. Não acho que ele deve explicar nada.”

“Havendo qualquer comprovaçã­o obviamente ou uma denúncia robusta contra quem quer que seja do meu governo que esteja ao alcance da minha caneta Bic, ela será usada Jair Bolsonaro presidente eleito

 ??  ?? Jair Bolsonaro ao lado do colega de Exército Celso Luiz, que foi salvo de um afogamento em 1978 pelo hoje presidente eleito; pelo ato, o capitão reformado recebeu em Brasília a Medalha do Pacificado­r
Jair Bolsonaro ao lado do colega de Exército Celso Luiz, que foi salvo de um afogamento em 1978 pelo hoje presidente eleito; pelo ato, o capitão reformado recebeu em Brasília a Medalha do Pacificado­r

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