Pastora, nova ministra das Mulheres é contra aborto
Advogada Damares Alves é a 2ª mulher indicada como ministra; nova pasta abrigará a Funai
Advogada e pastora, Damares Alves foi oficializada ontem no Ministério das Mulheres, Família e Direitos Humanos. Contrária ao aborto, a assessora do senador Magno Malta (PR-ES), que chegou a ser cotado para o cargo, disse que sua pasta lidará “com proteção de vida, e não com morte”. A Funai, cujo destino era incerto, ficará sob a alçada dela.
brasília e são paulo O presidente eleito, Jair Bolsonaro, escolheu a advogada e pastora evangélica Damares Alves para o novo Ministério das Mulheres, Família e Direitos Humanos. A pasta vai abrigar a Funai (Fundação Nacional do Índio), hoje na Justiça.
É a segunda mulher indicada para um ministério do próximo governo. Além de Alves, Bolsonaro confirmou a deputada Tereza Cristina para o Ministério da Agricultura.
O anúncio da ministra foi feito pelo futuro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, ao lado do deputado federal eleito Julian Lemos (PSL-PB), que foi por três vezes alvo da Lei Maria da Penha, acusado de agressão pela irmã e pela exmulher. O caso foi revelado pela Folha.
Alves é assessora no gabinete do senador Magno Malta (PR-ES). O parlamentar capixaba é amigo de Bolsonaro e chegou a ser cotado para o Ministério da Cidadania, mas a ideia foi abandonada após críticas de apoiadores. A pasta ficou com o deputado Osmar Terra (MDB-RS).
Logo depois de ter sido anunciada, a futura ministra prometeu garantir que as mulheres ganhem o mesmo salário que os homens.
“Nenhum homem vai ganhar mais que uma mulher nessa nação desenvolvendo a mesma função. Isso já é lei e o Ministério Público está aí para estar fiscalizando. Se depender de mim, vou para porta da empresa em que o funcionário homem desenvolvendo papel igual à mulher está ganhando mais. Acabou isso no Brasil”, declarou.
Alves afirmou ainda ser contra a legalização do aborto e disse que a gravidez é “um problema que dura só nove meses”, enquanto interromper a gestação caminha ao lado da mulher “pela vida inteira”.
“Se a gravidez é um problema que dura só nove meses, o aborto é um problema que caminha a vida inteira com a mulher”, declarou.
Para ela, o aborto será admitido apenas em casos já previstos em lei. Hoje, o procedimento é permitida no Brasil quando há estupro e risco de morte para o feto ou para a mãe, além no caso de anencéfalos —liberado por entendimento do STF (Supremo Tribunal Federal).
Está na corte, sem data para julgamento, uma ação que pede a descriminalização da prática até a 12ª semana de gravidez.
A nova ministra ressaltou que sua pasta não vai tratar do tema aborto e lidará somente com assuntos relacionados à vida. Ela disse ainda que são necessárias “políticas públicas de planejamento familiar” para que a interrupção da gravidez não seja considerada “método anticonceptivo”.
Alves disse que o governo de Bolsonaro tem como priorida- de “combater a violência”, inclusive contra a comunidade LGBT, na tentativa de afastar a imagem de homofóbico que permeia o presidente eleito.
“Se precisar, estarei nas ruas com as travestis, na porta das escolas, com as crianças que são discriminadas”, afirmou.
Bolsonaro já deu declarações ofensivas a minorias e chegou a dizer que preferia que um filho seu morresse em um acidente a ser gay.
A decisão de levar a Funai do Ministério da Justiça para a nova pasta ocorreu após intenso debate no governo de transição. Pessoas próximas a Bolsonaro relataram à Folha que seus auxiliares não queriam assumir o órgão por verem nas falas do presidente eleito sua desvalorização, já que na campanha ele repetiu que acabaria com a demarcação de terras indígenas.
Houve tentativa de abrigar a Funai na Justiça, na Agricultura e na Cidadania, ideias que foram abandonadas após resistência dos titulares.
Alves disse não ter nenhum problema de resistência por parte de indígenas, que estiveram nesta quinta-feira (6) no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) para pedir ao futuro governo que a Funai permaneça sob os cuidados da Justiça.
“Funai nãoéprob lema, índio nãoé problema. O presidente só estava esperando o melhor lugar para colocara Funai. E nós entendemos que éo Ministério de Direitos Humanos porque índioégen te. E o índio precisa ser visto de um aforma como um todo. Índio nãoé só terra, índiot ambé mé gente ”, afirmou.
Ela disse estar qualificada para assumira fundação por seu histórico com indígenas, citando ter participado de uma CPI no fim da década de 1990.
Anova já ministra já fez críticas ao feminismo. Em entrevista gravada em 8 de março, Dia Internacional da Mulher, para o site conservador potiguar Expresso Nacional, ela disse que mulher “nasceu para ser mãe ”, seu“papel mais especial ”, eque afirmar que elas estão em guerra com os homens é uma lorota feminista.
Ela, que numa pregação de 2013 se descreveu como pastora, professora, advogada e corintiana, trabalha no gabinete de Magno Malta por um salário líquido de R$ 4.408.
Alves já fez a assessoria jurídica da Frente Parlamentar Evangélica. Afirma ser mestre em educação e em direito constitucional e da família. Suas pautas se alinham às da bancada que diz falar no Congresso em nome dos evangélicos.
Ao Expresso Nacional, por exemplo, disse que a ideologia de gêneroé“morte,é morte de identidade”, além de maldizer o aborto e a legalização das drogas. Todas as “pautas de esquerda”, aliás, são “a morte” em sua opinião. “O menino abestado por maconha e abusado não vai liderar uma nação, é massa de manobra, [...] não tem senso de crítico.”
Ela diz que, ao contrário do que feministas propagandeariam, é possível, sim, ser do lar e do mercado de trabalho .“Me preocupo com ausência da mulher de casa ”, afirma apastora da Igreja Quadrangular, que brinca em seguida: amaria passar atarde deitada na rede ,“e o marido ralando muito, muito, muito para me encher de joias”.
A nomeação de Alves foi elogiada por quatro parlamentares evangélicos que a Folha consultou. Um mais próximo de Malta, contudo, disse que o senador não reeleito ses entiues canteado porBol sonar o eque vê na indicação de sua assessora uma vã tentativa de colocar panos quentes em sua mágoa com o presidente eleito.
“Essa pasta não vai lidar com o tema aborto, vai lidar com proteção de vida, e não com a morte [...] Nenhuma mulher quer abortar. Elas chegam até o aborto porque, possivelmente, não foi dada nenhuma outra opção Damares Alves futura ministra