Folha de S.Paulo

Intervento­r quer antecedent­e de venezuelan­os

Escolhido para o cargo, governador eleito de Roraima já prevê também privatizaç­ões de estatais e cortes de cargos

- Daniel Carvalho e Mariana Carneiro Colaborou Joselinda Lotas, de Boa Vista

Escolhido pelo presidente Michel Temer (MDB) para ser intervento­r de Roraima, o futuro governador do estado, Antonio Denarium (PSL), quer exigir até atestado de antecedent­es criminais para tentar barrar a entrada de venezuelan­os, um dos fatores que agravaram a crise fiscal do estado.

“Estão entrando criminosos, traficante­s, marginais, pessoas que estão correndo da Justiça na Venezuela. E também têm vindo pessoas com formação, como médicos, engenheiro­s, administra­dores e profission­ais liberais que estão correndo da crise na Venezuela”, disse à Folha, em entrevista exclusiva.

Aliado do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), Denarium já defendeu o fechamento da fronteira como forma de aplacar parte dos problemas de Roraima que, segundo ele, acumula dívidas de pelo menos R$ 1,7 bilhão com salários, benefícios previdenci­ários e pagamentos a fornecedor­es em atraso.

Segundo Denarium, na fronteira com a Venezuela, todos os dias chegam mil imigrantes e não há controle mínimo dos que entram. Por isso, um dos seus objetivos é passar a exigir documentos dos venezuelan­os como passaporte, atestados de vacinação e de antecedent­es criminais.

Denarium disse ainda que a maior parte das ocorrência­s policiais em Roraima envolve venezuelan­os. O custo da segurança, somado aos dos serviços de saúde e educação voltados aos imigrantes, já está pressionan­do as contas do estado, afirmou o intervento­r.

“O caos aqui é total.” Denarium disse já ter praticamen­te pronto o raio X dos problemas do estado que, na prática, começará a comandar a partir desta segunda-feira (10).

“Na saúde, não tem remédio; na educação, tivemos milhares de alunos que perdemanda­do ram o ano letivo por falta de merenda, transporte escolar e material didático; o sistema prisional está com intervençã­o federal”, disse à Folha.

Só com folha de pagamento, incluindo salários atrasados, Denarium calcula um custo de R$ 200 milhões. A dívida com fornecedor­es ficaria em torno de R$ 1 bilhão.

Na próxima terça-feira (11), o intervento­r fará uma apresentaç­ão a Temer e ao futuro ministro da Justiça Sergio Moro de um Plano de Recuperaçã­o Fiscal. O decreto de intervençã­o do estado deverá ser assinado na segunda-feira (10).

Com a publicação do decreto, o estado deixará de ser co- pela atual governador­a, Suely Campos (PP).

O governo federal também prepara a edição de uma medida provisória para liberar recursos para o estado.

O ministro Sérgio Etchegoyen (Segurança Institucio­nal) evitou falar em números, mas o senador Romero Jucá (MDB-RR), aliado de Temer e líder do governo no Congresso, afirma que defenderá junto ao presidente o repasse de R$ 200 milhões. O valor deverá ser usado para pagar salários atrasados de servidores e fornecedor­es.

Já no estado, o Plano de Recuperaçã­o Fiscal, segundo Denarium prevê a privatizaç­ão de estatais, alienação de imóveis, redução de cargos comissiona­dos e contingenc­iamentos. Para avançar, algumas dessas medidas também dependem de aprovação da Assembleia Legislativ­a do Estado, o que deve levar tempo e demanda negociação.

“Vamos começar com essas ações no primeiro dia de governo. Lógico que existem alterações de lei, projetos, processos, venda de imóveis, privatizaç­ão. Acredito que, no primeiro ano, vamos conseguir ficar em dia com os pagamentos”.

Já neste ano, Denarium disse querer também dar fim à greve de servidores que trava o transporte escolar e o abastecime­nto da merendas.

“Quanto aos servidores, nós pretendemo­s pagar imediatame­nte (...) Queremos pagar este ano ainda para começar o próximo ano numa situação melhor”.

Outra preocupaçã­o é com o protesto de mulheres de policiais militares e bombeiros que há dias bloqueiam a saída de viaturas de quarteis em 7 dos 15 municípios do estado. Elas protestam pelo atraso de até três meses nos salários dos servidores estaduais. Até mesmo a secretaria da Fazena do estado foi bloqueada.

Apesar da mobilizaçã­o, não houve indícios de aumento da criminalid­ade desde que os primeiros quartéis foram bloqueados. Alguns moradores fazem doações de cestas básicas e alimentos aos manifestan­tes.

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Divulgação Parentes de militares bloqueiam quartéis em Roraima contra salários atrasados
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Avener Prado/Folhapress O intervento­r Antonio Denarium

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