Folha de S.Paulo

Não mexa na poupança antiga!

Na caderneta antiga você não corre mais risco de crédito para ganhar mais

- Marcia Dessen Planejador­a financeira CFP (“Certified Financial Planner”), autora de “Finanças Pessoais: O Que Fazer com Meu Dinheiro” marcia.dessen@gmail.com

A poupança, coitada, a queridinha de muitos investidor­es brasileiro­s, é massacrada pelos que tentam demonstrar a vantagem de outros produtos em relação a ela e quanto se deixa de ganhar em aplicações mais rentáveis.

No artigo da semana passada, “Black Friday & Investimen­tos”, alertei sobre anúncios inadequado­s e imprecisos, capazes de induzir a erro de avaliação e tomada de decisão pouco consciente.

Os anúncios que argumentam contra a poupança deixam de mencionar a que poupança se referem, esquecendo, convenient­emente, que existem duas modalidade­s.

A poupança antiga mantém sua rentabilid­ade inalterada em 0,5% ao mês (6,17% ao ano), qualquer que seja a taxa Selic vigente, sendo aplicável ao saldo existente em 3/5/2012, data em que o governo alterou a regra da rentabilid­ade para novos depósitos.

Equivocam-se os que acreditam que ao longo desses seis anos todo o dinheiro já foi sacado. Muitos resistiram bravamente ao assédio e mantêm o direito de receber essa rentabilid­ade sobre o saldo existente na época.

A nova poupança se refere a contas abertas e aos depósitos feitos nas contas antigas, a partir de 4/5/2018. Nesse caso, a rentabilid­ade será igual à da poupança antiga quando a Selic ultrapassa­r 8,5% ao ano e de 70% da Selic quando igual ou inferior a 8,5% ao ano.

A TR foi ignorada nos dois casos, considerad­a nula.

Livre do Imposto de Renda e de tarifas, a rentabilid­ade da poupança é líquida, sendo a única aplicação financeira isenta de custos. As demais aplicações disponívei­s, mesmo as isentas de IR, como a LCI e LCA, não são totalmente livres de custo, por vezes disfarçado­s no spread da operação.

Vamos comparar o rendimento da poupança antiga com outras aplicações consideran­do as seguintes premissas: Selic de 6,50% ao ano, CDI de 6,40% ao ano, ambas estáveis nos próximos 12 meses, e Imposto de Renda de 15%, aplicável a operações de prazo superior a 24 meses; e apurar o ponto de inflexão do rendimento da poupança antiga em relação às demais.

Tesouro Selic (Tesouro Direto) paga 100% da taxa Selic, mas cobra taxa de 0,30% ao ano (taxa de custódia da B3) e IR. O rendimento líquido é de 5,27% ao ano, 0,9 ponto percentual abaixo do da poupança antiga.

LCI, LCA e qualquer outro ativo isento de IR, como as debêntures de infraestru­tura, devem pagar 96,4% do CDI para atingir 6,17% e empatar com a poupança antiga.

Os bancos de grande porte são pouco competitiv­os e remuneram na faixa de 80% do CDI. As instituiçõ­es de pequeno e médio porte pagam mais, se aproximand­o do que a poupança antiga paga, mas o investidor fica exposto ao risco de crédito e deve observar atentament­e o limite do FGC (Fundo Garantidor de Créditos), lembrando que as debêntures não contam com essa proteção.

Fundos de investimen­to ou planos de previdênci­a (sem taxa de carregamen­to), classe Renda Fixa DI, perdem para a poupança antiga, qualquer que seja a taxa de administra­ção. O pagamento de Imposto de Renda já é suficiente para tornar as modalidade­s pouco competitiv­as. Quanto maior a taxa de administra­ção, menor será a rentabilid­ade líquida do investidor.

Aplicações em CDB (Certificad­o de Depósito Bancário) ou LC (Letra de Câmbio), ambas sujeitas ao IR, devem pagar 113,5% do CDI para empatar com a poupança antiga. Elevado risco de crédito potencial para ganhar a mesma coisa...

Uma nova reflexão pode e deve ser feita quando e se a Selic superar o patamar de 8,5%.

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