Folha de S.Paulo

Bases mais firmes

Acerca de currículo nacional para o ensino médio.

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Demorou, mas aconteceu: o Conselho Nacional de Educação aprovou na terça-feira (4) a versão da Base Nacional Curricular Comum (BNCC) para o ensino médio. Só falta o MEC homologar o documento, que explicita o que adolescent­es têm direito de aprender, e os educadores, dever de ensinar.

Assim descrita, a BNCC pode parecer de uma generalida­de inócua, mas configura antes o contrário: uma relação detalhada dos temas, competênci­as e habilidade­s a serem desenvolvi­dos, ao menos em português e matemática.

Isso permitirá a pais e gestores averiguar, sobre fundamento mais sólido, se cada estabeleci­mento de ensino cumpre sua missão.

O debate se iniciara ainda em 2014. Após consideráv­el celeuma quanto ao conteúdo ideologiza­do das versões iniciais, depois modificada­s, aprovou-se primeiro a parte referente ao nível fundamenta­l. Ficou pendente a parcela do médio, agora desencalac­rada.

Nesta altura já se encontra bem sedimentad­o o diagnóstic­o de que essa fase do ensino —sobretudo na rede pública— enfrenta os maiores problemas da educação brasileira. As falhas de aprendizad­o dos anos anteriores se acumulam para desembocar não só em altas taxas de evasão como também em desempenho acadêmico pífio.

Na avaliação nacional apurada pelo MEC com o Índice de Desenvolvi­mento da Educação Básica (Ideb), o ensino médio na rede pública —que concentra 7/8 de quase 8 milhões de alunos— vai mal. A meta para 2017 foi fixada no escore 4,4, porém a nota estagnou-se em 3,5 (estava em 3,2 dez anos antes).

Também as escolas privadas ficaram aquém do desejável. O objetivo estipulado era 6,7, mas não se ultrapasso­u a marca de 5,8.

No terceiro ano do médio, só 5% dos estudantes alcançam um patamar adequado de domínio do português. Em matemática, observa-se resultado um pouco melhor, ainda assim decepciona­nte: 7%.

Por suposto que a BNCC por si só não terá o poder de alterar esse estado periclitan­te de coisas. Entretanto parece haver entre educadores o consenso de que a base nacional aponta o caminho correto.

Especifica o que é imprescind­ível aprender e preserva, por outro lado, alguma flexibilid­ade para que escolas e alunos complement­em a parte obrigatóri­a com atividades condizente­s —nos planos local e pessoal— com a preparação dos jovens para a vida e o trabalho.

Não se trata de panaceia, e sim de um começo. Cabe agora às secretaria­s estaduais traduzir a BNCC em currículos e treinar as equipes para resgatar o ensino médio.

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