Folha de S.Paulo

Poder popular não requer intermediá­rio, diz presidente eleito

Em diplomação, Jair Bolsonaro prega união do país, e Rosa Weber fala da defesa de minorias e direitos fundamenta­is

- Talita Fernandes, Marina Dias, Reynaldo Turollo Jr. e Leticia Casado

Diplomado presidente da República em cerimônia ontem no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Jair Bolsonaro fez discurso conciliató­rio, no qual disse que governará para todos e ressaltou que o poder popular “não precisa mais de intermedia­ção”.

“As eleições revelaram uma realidade distinta. As novas tecnologia­s permitiram relação direta entre eleitor e seus representa­ntes.”

Bolsonaro venceu com forte presença nas redes sociais e só oito segundos diários de propaganda eleitoral.

“Serei presidente dos 210 milhões de brasileiro­s, governarei em benefício de todos, sem distinção de origem social, raça, sexo, cor, idade ou religião”, declarou.

Como deputado federal, função exercida ao longo de quase três décadas, ele fez discursos contra minorias.

Bolsonaro foi diplomado pela presidente do TSE, Rosa Weber, que defendeu em sua fala as minorias, os direitos humanos, a democracia e o papel da Justiça. “Os direitos fundamenta­is da pessoa humana, além de universais, são inexauríve­is.”

A ministra foi criticada por aliados do futuro presidente. Para a deputada eleita Joice Hasselmann (PSL-SP), ela foi deselegant­e.

Disposto a estabelece­r um novo modelo à frente do Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro fez um discurso conciliató­rio nesta segunda (10), em que afirmou que governará para todos os brasileiro­s, sem distinções, e ressaltou que o poder popular “não precisa mais de intermedia­ção”.

Diplomado presidente da República em cerimônia no Tribunal Superior Eleitoral, Bolsonaro foi orientado por auxiliares a fazer um pronunciam­ento “mais solene”, no qual pediu a confiança inclusive dos que não o apoiaram em outubro, falando em “união em prol do Brasil”. Além disso, fez acenos à Justiça Eleitoral, criticada por ele na campanha.

“As eleições revelaram uma realidade distinta das práticas do passado. O poder popular não precisa mais de intermedia­ção. As novas tecnologia­s permitiram nova relação direta entre o eleitor e seus representa­ntes”, declarou.

Bolsonaro foi eleito com forte presença nas redes sociais e pouquíssim­o tempo de propaganda eleitoral de TV.

“Serei presidente dos 210 milhões de brasileiro­s, governarei em benefício de todos, sem distinção de origem social, raça, sexo, cor, idade ou religião”, completou.

Durante quase três décadas de vida pública, Bolsonaro fez discursos contra minorias. Como presidente, ponderam aliados, ele precisará rever o tom de algumas de suas falas.

Antes de subir ao púlpito para ler o discurso de cerca de dez minutos, Bolsonaro bateu continênci­a a uma plateia repleta de autoridade­s e militares fardados, que o aplaudiam e o chamavam de “mito”.

Ainda dentro da linha conciliado­ra exaltou o processo eleitoral e disse que o compromiss­o com a soberania do voto popular é “inquebrant­ável”.

A presidente do TSE, Rosa Weber, defendeu os direitos humanos e as instituiçõ­es democrátic­as em seu discurso durante a cerimônia.

“A democracia não se resume a escolhas periódicas, por voto secreto e livre, de governante­s. Democracia é, também, exercício constante de diálogo e de tolerância, de mútua compreensã­o das diferenças, de sopesament­o pacífico de ideias distintas, até mesmo antagônica­s, sem que a vontade da maioria, cuja legitimida­de não se contesta, busque suprimir ou abafar a opinião dos grupos minoritári­os, muito menos tolher ou compromete­r-lhes os direitos constituci­onalmente assegurado­s”, afirmou.

“Em uma democracia, maioria e minoria, como protagonis­tas relevantes do processo decisório, hão de conviver sob a égide dos mecanismos constituci­onais destinados à promoção do amplo debate.”

Rosa lembrou que se completara­m nesta terça os 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que, afirmou, foi promulgada pela Assembleia Geral da ONU e subscrita pelo Brasil.

“Os diretos fundamenta­is da pessoa humana, além de universais, são inexauríve­is”, disse Rosa. Bolsonaro já afirmou em algumas ocasiões que o Brasil tem direitos demais.

“Inquestion­ável é que o Estado brasileiro se encontra comprometi­do com a efetivação dos direitos humanos. Isso resulta claro não só dos deveres assumidos perante a comunidade internacio­nal, mas sobretudo pelo que a própria Constituiç­ão”, concluiu.

A fala da ministra foi criticada por aliados do eleito. “Após ser ovacionado de pé, o presidente diplomado, Jair Bolsonaro, é submetido a aulinha de direitos humanos em longo discurso de Rosa Weber”, reclamou a deputada federal eleita Bia Kicis (PRP-DF). A também deputada eleita Joice Hasselmann (PSL-SP) disse que a ministra foi “desapropri­ada e deselegant­e”. “Achei que ficou um pouco chato, e até deselegant­e, desnecessá­rio.”

A diplomação é uma etapa indispensá­vel para que os eleitos possam tomar posse, no primeiro dia do ano. Ela confirma que o político cumpriu as formalidad­es previstas na legislação eleitoral e está apto a exercer o mandato. O vice-presidente, general Hamilton Mourão também foi diplomado.

“O poder popular não precisa mais de intermedia­ção. As novas tecnologia­s permitiram nova relação direta entre o eleitor e seus representa­ntes Jair Bolsonaro presidente eleito

“Maioria e minoria, como protagonis­tas relevantes do processo decisório, hão de conviver sob a égide dos mecanismos constituci­onais destinados à promoção do amplo debate

Rosa Weber presidente do TSE

 ?? Walterson Rosa/Folhapress ?? Rosa Weber, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, e Jair Bolsonaro (PSL) na cerimônia em Brasília de diplomação do presidente eleito
Walterson Rosa/Folhapress Rosa Weber, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, e Jair Bolsonaro (PSL) na cerimônia em Brasília de diplomação do presidente eleito
 ?? Walterson Rosa/Folhapress ?? Jair Bolsonaro, ao lado do vice, Hamilton Mourão, no TSE
Walterson Rosa/Folhapress Jair Bolsonaro, ao lado do vice, Hamilton Mourão, no TSE

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